Mulheres empoderadas causam estranheza, porque o machismo bate e volta
Pelo amor de Deus, parem de dizer “fica calma”! Essa semana a revista Isto É trouxe um material misógino, machista e cheio de adjetivos para a presidente Dilma, e na verdade minha vontade era escrever sobre isso. Como recentemente meu artigo foi sobre a mulher Dilma Rousseff, eu resolvi pegar mesmo o exemplo para ilustrar o quanto as pessoas podem ser idiotas, às vezes sem ao menos perceberem.
Certo dia, eu fui reclamar de um lance qualquer no meu local de trabalho, quando do nada, o meu colega – homem, no caso, falou: “Ah, relaxa, fica calma, você está muito nervosa”. Não, eu não estava nervosa, eu estava calma, bem tranquila, impositiva, porém tranquila e certa do que estava falando.
Antes de emagrecer meus quase 70 quilos, eu era considerada a “amiguinha bonachona” que faz a galera rir, porque era a gorda de bom humor. Aliás, bom humor que ainda permanece, já que ele faz parte da minha vida. Mas cansei! Eu cansei de ouvir as pessoas dizerem “Nossa, depois que você emagreceu você ficou tão estressada”.
Quem emagrece – seja por dieta ou por dieta bariátrica, não fica mais estressada. Claro, há alterações de humor, porém é certo uma coisa, a segurança que nós temos ao estar de bem consigo mesma é diferente da insegurança diária de ser apontada na rua como a “gorda” ou “baleia” gritado de dentro do carro. E sim, a timidez – que pelo menos em mim, já era pouca, foi embora de vez junto com meus quilos.
E hoje, quer saber, acredito que mulher não tem que provar nada para ninguém, ainda mais para homem que acha que tudo é TPM ou “falta de sexo” como sempre vejo alguns bonitões – e bonitonas, falando.
Estamos em uma fase de empoderamento das mulheres que vai muito além de ter um corpo bacana, vai acredito eu, no ter uma alma bacana. Eu posso sempre como deixo claro aqui, escrever pelo meu próprio exemplo.
Tinha birra, cisma de ir em igreja, porque achei que era um lugar machista. E me surpreendi e percebi que não é na igreja o machismo, é na cultura patriarcal do brasileiro mesmo. Em palestra de uma mulher chamada Nina Targino, eu comecei a repensar sobre todas essas fases que vivi para “chegar até aqui”. Ela citou sobre a história de Débora, uma mulher bíblica que foi juíza em Israel em uma época onde mulheres eram piores que o “cocô do cavalo do bandido”.
E aquela mulher falando, num ambiente em que eu considerava extremamente machista, sobre o empoderamento de mulheres perante seus lares, perante seus filhos, perante a vida e inclusive seus relacionamentos. E eu comecei a olhar todas aquelas mulheres ali e meus olhos se encheram de lágrimas, porque fiquei pensando na Dilma, sabe aquela Dilma, lá de cima?
Quantas Dilmas não há em todo o país, nos cargos de chefias, que são diariamente julgadas por sua aparência, que são diariamente chamadas de “temperamentais” ou loucas e que no dia a dia ouvem frases ridículas como as que eu citei ali em cima. E acredito que as pessoas deveriam se preocupar mais com a presidente, do que com a Dilma, ou a Liziane, ou a Maria ou seja lá quem for que estiver em algum posto.
E é terrível pensar, que ainda tem muita mulher que concorda com isso, que ainda incentiva que suas “pares” sejam chamadas de loucas simplesmente porque elas não aceitam agir como carneirinhas, como gado indo para o abate. Então, não deixe ninguém dizer que você "tem que ficar calma", e caso você mesmo perceba que tem que ficar, não há nada que um bom respirar fundo não resolva. E isso não é nenhum mal!