Parece terapia em grupo, mas biodanza tem movimento e muitos abraços
De longe pode parecer no mínimo exótico a cena ao observar alguns minutos de interação entre os praticantes de biodanza. Um grande círculo se desfaz para que os colegas formem duplas e então dancem. Assim mesmo, sem passos certos, sem regras, apenas com as mãos dadas. O único objetivo é mexer o esqueleto, se movimentar rapidamente, liberar a endorfina. Como o Lado B nunca escreveu sobre o assunto, decidimos fazer a experiência.
Controlando o som e a intensidade do exercício está o professor Hélio Arakaki, 53 anos. Especialista no assunto, o campo-grandense descendente de japonês, dedicou 25 anos da vida ao conhecimento e desenvolvimento da técnica, que nasceu no Chile e se popularizou por todo o mundo.
Durante a aula experimental na manhã de domingo, Arakaki dialogou com todos os públicos. Recolheu depoimentos de praticantes veteranos e dos novatos em busca de uma transformação interior. "A biodanza pode ser descrita como uma integração da pessoa com ela mesma e com o outro", acredita o professor.
Arakaki toca em uma questão muito comum ao ser humano: todos nós buscamos algo. Seja nos bancos das igrejas ou nos sofás dos terapeutas, estamos à procura de um alívio para o estresse cotidiano, que surge a partir de algum desequilíbrio físico ou das relações pessoais. Vivemos no limite sempre, mas não há uma válvula de escape universal. Cada um precisa escolher o seu caminho e se entregar a ele com sabedoria.
"Hoje as pessoas tem uma maior dificuldade de estabelecer vínculos afetivos, estão desconfiados, vieram de uma educação repressora e tudo isso causa dificuldades no futuro, que vão se manifestar aqui na biodanza", defende Arakaki.
Professor também de artes marciais, ele descobriu a biodanza em 1985, por meio de um brasileiro, em um congresso espiritualista no Japão. Terceira geração de uma família japonesa, ele afirma que o contato mais próximo que recebia era um aperto de mãos. "Até para cumprimentar os japoneses são contidos. Abraço era muito difícil e acredito que por isso a biodanza foi tão impactante para mim", explica.
Do congresso de volta ao Brasil, o professor continuou os estudos e montou um Núcleo de Biodanza. "Lembro que fui conversar com uma farmacêutica homeopática e contei para ela da experiência. Quando terminei ela me mostrou um cartaz dizendo que haveria um workshop sobre o tema em Campo Grande", relembra.
Destino ou não, Arakaki nunca mais parou de desenvolver a técnica. "As artes marciais complementam a biodanza. Enquanto na primeira eu tenho disposição de levantar, cair, levantar novamente, na outra eu tenho sensibilidade, flexibilidade, fluidez. Não podemos ser só corajosos, é preciso desenvolver outras qualidades", diz.
Apesar de popular, com mais de 20 alunos na aula experimental em pleno domingo, nem todos estão preparados para a técnica, segundo o professor. "Tem gente que vai embora. Depende da progressividade, cada pessoa tem o seu tempo, seu ritmo, a biodanza muda a estrutura de vida das pessoas, não sabemos as dificuldades internas de cada um", afirma.
Para quem fica, é preciso trabalhar as cinco potencialidades do corpo. "Vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência, ou seja, a capacidade de estar em perfeita comunhão com a vida, flutuando, em perfeito paraíso", enumera.
Entre as que lutam por esse estado, está a servidora pública Paula Belisa, 31 anos. Adepta do veganismo crudívoro, ela afirma que optar pela biodanza trouxe a tona uma força interna que ela desconhecia.
"Faço há 1 ano, hoje sou muito mais segura do que eu era. Aprendi a confiar mais nos meus instintos, cresci muito, emagreci 12 kg com essas novas escolhas e como optei pelo veganismo e sofri muitas críticas, a biodanza me ajudou a superar isso e seguir em frente com a minha escolha", pontua.
Quem quiser conhecer a biodanza haverá um workshop sobre a técnica nos dias 13 e 14 de junho, no instituto, localizado na rua 14 de julho, 635.