André trocou terno e gravata pela cozinha e em MS criou risoto de sobá
Da vida bem sucedida dentro de um escritório ao sucesso com dolmã e a gordura, chef revela como se reinventou para ser feliz
Ele bem que tentou seguir a rotina dos engravatados. Se formou em Ánalise de Sistemas, construiu uma carreira bem sucedida dos 15 aos 28 anos, alcançou um cargo desejado e ganhou reconhecimento. Mas ser feliz falou mais alto e, ao invés de só ganhar dinheiro, ele se reinventou na gastronomia.
Hoje, o chef de cozinha paulistano André Chowk ganha a vida como consultor em um restaurante de Campo Grande, cidade que além de trazer novos conceitos ao seu estilo contemporâneo criativo na cozinha fez ele respirar mais aliviado depois de largar a vida caótica que levava em São Paulo (SP).
André já cozinhou para alguns grandes restaurantes da metrópole e se tornou chef corporativo em outras empresas. Mas há oito meses morando em Campo Grande, ele destaca que, a culinária sul-mato-grossense tem sido surpreendente. "Mato Grosso do Sul é um estado muito rico, com uma gastronomia de raízes, onde os pratos são mais rústicos e extremamente saborosos. Alguns com ingredientes muito peculiares", diz lembrando que sua gastronomia até carrega um menu com clássicos da culinária, mas sua motivação está nos ingredientes regionais que são a cara do povo sul-mato-grossense
Mas antes de chegar a Campo Grande, André diz que sua experiência como consultor foi determinante para mudar de vez. "Eu vim para Campo Grande há 4 anos para fazer uma consultoria, mas na época em que cheguei, o restaurante estava com problemas e fui embora. Em abril voltei para uma consultoria, a proposta era voltar todo mês para dar assistência à empresa, mas na primeira noite me apaixonei pela cidade e, dentro desse processo, mudar de São Paulo já era um desejo".
Invenções do chef - Em 15 dias André fez as malas com a família e mudou para Campo Grande, foi quando começou suas invenções com sabores bem tradicionais, como o do sobá, do queijo nicola e da manga. Na primeira semana ele elaborou um risoto de sobá servido semelhante ao prato que já conhecemos. A receita leva o caldo tradicional, tirinhas de frango, o omelete em tiras e o cheiro verde. "Quando experimentei o sobá me apaixonei. Pensei em uma releitura do prato que pudesse ser a cara do restaurante".
Assim como o risoto, André elaborou Aligot de mandioquinha, servido com carré de cordeiro, queijo nicola e queijo caipira, com a particularidade de ser sem lactose. Tem também um polvo com batata rústica e vinagrete de manga verde com erva doce. "Manga é uma fruta saborosa, refrescante e fácil de encontrar na região, o que proporciona uma combinação interessante", diz. Os pratos elaborados por André estão no menu do Restaurante Mastrô, no Jardim dos Estados.
Nova carreira - André sempre gostou de cozinhar. Seu primeiro prato foi feijão, aos 12 anos, quando chegou da escola. "Minha mãe trabalhava, fiz arroz e feijão. Mas não sabia que tinha que lavar o feijão direito e ele ficou com gosto de terra. Mesmo assim todo mundo elogiou", conta, mencionando que, no dia seguinte, refez a receita para que ficasse parecido com o de sua mãe.
"Cozinhar nunca foi uma obrigação sempre muito relaxante, eu cozinhava todos os finais de semana. Por isso, quando eu estava com uma carreira bem sucedida senti que estava infeliz , sentia um vazio por dentro e a primeira coisa que quis mudar foi a profissão", diz ele que teve a oportunidade de passar uma semana como ouvinte em um Faculdade de Gastronomia onde se apaixonou.
"Eu literalmente abandonei terno e a gravata pelo dolmã e a gordura. Me encontrei de tal forma que trabalho todo sábado e domingo sorrindo. Me sinto feliz ao produzir um prato, me encanta rodar o salão e ver uma pessoa recebendo os pratos, saboreando e sentindo. É gostoso ver como elas recebem e como elas criticam".
De São Paulo para Campo Grande - A capital sul-mata-grossense tem seus encantos. E se engana quem pensa que foi só a gastronomia que fez André abandonar São Paulo. "Nós estávamos procurando uma cidade que tivesse oportunidade e qualidade de vida", diz ele citando o que considera qualidade. "Primeiro ponto é o tempo de deslocamento. Para chegar ao restaurante onde trabalho levo 20 minutos, em São Paulo isso seria inviável, gastaria pelo menos de 45 minutos a 1 hora. Quando alguém aqui fala que vai cruzar a cidade eu dou risada, porque dependendo da região, eu demorava cinco horas do meu dia no trânsito, isso faz muita diferença".
Apesar da violência cada vez mais presente na vida do campo-grandense, André se sente mais seguro. "Esses dias eu e minha esposa saímos do trabalho, jantamos e conseguimos dar uma caminhada na Orla Morena, às 22h, isso é muito gratificante".
Campo Grande também trouxe a oportunidade para André lecionar. "Estou dando aula e era uma coisa que eu ainda não tinha feito. Essa troca de conhecimento com os alunos tem sido muito interessante".
Aos 40 anos, depois de mudanças radicais na vida adulta, André não tem dúvidas de que nunca é tarde para recomeçar. "A gente tem que fazer o que gosta. Você pode ser bom no que faz, ter dinheiro, ter reconhecimento, mas se não tem prazer, um dia o vazio bate. Hoje, sou um homem realizado e a previsão é voltar para São Paulo somente a passeio".