Cervejeiros procuram a prefeitura em defesa de "brew pubs" em Campo Grande
A proposta de quem é apaixonado por cerveja artesanal é para que bares produzam a própria bebida.
Já ouviu falar em “brew pub”? O conceito já é bem popular na Inglaterra, onde o bar fabrica a própria cerveja de maneira artesanal, utilizando componentes da identidade local e estimulando o consumo consciente, para a prioridade ser a qualidade não a quantidade de bebida. No Brasil, o movimento vem crescendo e chega a Campo Grande de olho em mudanças na Lei de uso do Solo.
Nesta semana, grupo de 10 empresários cervejeiros solicitou a alteração na lei durante reunião com os secretários Abrahão Malulei Neto, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e de Ciência e Tecnologia e com Luís Eduardo Costa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana. Dois dois, eles receberam o compromisso de abrir discussão sobre o assunto.
Atualmente, as leis que regulamentam a produção de cerveja não diferenciam a grande indústria dos pequenos produtores, ainda que o processo de fabricação seja diferente,
Segundo Thiago Wormsbecher, presidente da Acerva/MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Cerveja Artesanal), é necessário abrir uma empresa dentro de um zoneamento urbano que permita a fabricação de cerveja, longe das áreas residenciais. “Isso acontece porque é uma lei antiga, feita em 1997, quando não existiam cervejarias dentro do conceito de ‘brew pub’ ou micro cervejarias, isso é uma demanda nova e por isso a necessidade de rever a Lei do Uso do Solo”, afirma Thiago.
Ainda de acordo com o presidente da Acerva/MS, diferente das grandes cervejarias, a produção artesanal quase não gera resíduos e não intensifica o volume de tráfego de caminhões em área urbana, o que poderia colocar o projeto em risco diante da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).
Na produção artesanal, os resíduos sólidos são destinados à alimentação animal e compostagem, já que o que sobra da fabricação de cerveja é basicamente cereal. O único tipo de resíduo líquido é a água, que não leva componentes químicos e nem precisa de tratamento especial de esgoto e a circulação de caminhões se resume em um caminhão baú a cada 3 meses, defende o presidente da Acerva/MS.
A principal diferença entre a cerveja artesanal e a produzida industrialmente é o tempo de fermentação até a bebida ficar pronta. Artesanalmente, o processo leva de 20 a 30 dias, que acontece de maneira natural através de organismos vivos. Já nas grandes produções, esse tempo é reduzido para 5 dias.
O empresário e cervejeiro Rafael Motta explica que a adição de componentes químicos altera o sabor da cerveja e, para compensar, a grande indústria usa estabilizantes, aromatizantes, corantes, antioxidante, conservante, fora o transporte da fábrica até os pontos de revenda. Enquanto o produto artesanal tem ingredientes selecionados, de maior qualidade, é fresco, e respeita o tempo de levedura da cerveja.
“Quanto menos a cerveja viajar, melhor ela fica, então você produzir localmente, tirar diretamente do fornecedor para o cliente final, a cerveja vai ter uma qualidade melhor que qualquer outra”, explica Rafael.
Incentivar a produção de cerveja artesanal, na opinião de que é interessado no negócio, pode, inclusive, aumentar o número de empregos na cidade, gerar arrecadação com impostos e atrair investimento em turismo, além de criar uma cultura local de consumo consciente e reduzir cerca de 30% do custo para o consumidor final, apesar de hoje ser bem mais caro tomar esse tipo de cerveja gourmetizada do que beber o famoso litrão.
Outra vantagem seria cultura gastonômica. “É possível fazer cerveja artesanal com frutas da região, como o pequi, o cumbarú ou a guavira por exemplo. Existem mais de 200 tipos de malte e mais de 500 tipos de lúpulo, fora a adição de frutas, castanhas, raízes e ingredientes que criam uma variante de sabor muito grande, capazes de colocar o sabores únicos de Mato Grosso do Sul na cerveja. Na produção artesanal, até a água gera adição no sabor e nossa água em Campo Grande é de ótima qualidade”, diz Thiago.
O engenheiro civil Rodrigo Jaber, de 33 anos, é apreciador de cerveja artesanal há 10 anos, para ele, quem realmente gosta do sabor da bebida não está interessado em uma marca. “A graça é provar novas receitas e sabores locais, o grande atrativo é justamente a experiência que a cerveja pode proporcionar e a diferença entre as produções de cada lugar”, conta.
Para o gerente de marketing, Leonardo Batista dos Santos, de 38 anos, o critério para escolher a cerveja é o mesmo da comida. "A gente busca os produtos que têm os ingredientes mais frescos, feitos com itens que valorizem o sabor da bebida". Tanto Leonardo quanto Rodrigo são de Goiânia e estão em Campo Grande a trabalho, mas fizeram questão de procurar nos bares da cidade a maior variedade de cervejas artesanais. Os dois já conheciam o modelo das “brew pubs”, que já é permitido em capitais como Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro, e concordam com a importância do incentivo a produção local.