Feita com banana verde, receita venezuelana faz Rubi recomeçar a vida
Ela é uma das imigrantes que usa culinária típica da Venezuelana para recomeçar e também matar a saudade de casa.
“Às vezes, eu compro só três bananas verdes, para não perder os ingredientes caso nenhum cliente apareça”, diz Beatriz Ramirez, 30, apelidada de Rubi desde à infância, enquanto vira a massa de banana na frigideira, para depois enchê-la de carne desfiada com salada, ovo cozido, presunto, milho e molho caseiro.
Filha de cozinheira experiente em culinária árabe, Rubi é natural da Venezuela e uma das imigrantes que transformaram a culinária típica para recomeçar a vida ao lado do marido e dos cinco filhos.
Distante das arepas venezuelanas, prato de massa de pão feito com milho moído, e relativamente mais conhecido no Brasil, ela decidiu investir nos patacons ou patacones, um aperitivo feito com fatias grossas de banana da terra verde e que são fritas.
A maneira mais típica de preparar a receita é achatá-las com uma tábua ou rolo para formar uma camada fina e crocante. Depois, duas fatias recebem o recheio e formam um lanche que, segundo Rubi, “é mil vezes melhor que hambúrguer”.
“Esse é um prato conhecido na Venezuela, saboreado a qualquer hora do dia. Bem-feitinho ele serve como uma refeição”, explica.
Morando numa casa simples do bairro Coronel Antonino e sem muitas condições financeiras, Rubi compra poucos ingredientes por dia para que nada estregue na geladeira. “A banana tem que ser verde, se eu compro muitas, elas maduram muito rápido. Então as vezes eu só tenho três”, conta.
Para apresentar o prato, a cozinha recorre a explicação do tempo que leva para a receita ficar pronta até os ingredientes essenciais. Para quem não gosta de carne bovina, tem opção recheada com frango e qualquer um dos dois custa R$ 15,00.
O prato ainda é servido de maneira muito simples, na varanda de casa e é preciso ter paciência para esperar porque Rubi faz praticamente tudo sozinha, enquanto a família ajuda a cuidar dos filhos.
Até o início da semana ela também não tinha onde receber os clientes até que ganhou três jogos de mesas. “Agora ficou mais fácil sentar e esperar”, diz.
Mas o tempo de espera vale à pena quando o cardápio chega à mesa. Rubi recheia com carinho e deixa molhinho de pimenta à vontade para quem quiser apimentar a receita.
Com as vendas, além de ajudar na rendar viver em Campo Grande e ajudar os familiares que ficaram na Venezuela, a culinária é uma forma de matar a saudade de casa. “É uma forma da gente se sentir acolhido e acolher os que estão tentando recomeçar por aqui”.
A crise econômica tirou Rubi e a família da Venezuela. “Eu trabalhava só para conseguir comida. Os dias que não tinha comida na escola eu nem mandava as crianças para estudar, porque era um gasto enorme”.
Ela chegou ao Brasil por Roraima até que conseguiu uma oportunidade de recomeçar em Campo Grande com apoio do grupo de voluntários do MS Acolhe, da organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras.
“Comecei trabalhando numa padaria conhecida da cidade. E depois de um ano eu decidi sair para ajudar a cuidar das crianças dentro de casa, mas para não ficar sem dinheiro, resolvi investir nos nossos patacons. Nosso objetivo agora é crescer e formar uma varanda venezuelana no bairro”.
Quem quiser experimentar o prato feito por Rubi, o atendimento é das 17h30 até às 22h, de terça a domingo, na Rua São Luiz Gonzaga, 51, Coronel Antonino.