Liara deixou MS e hoje é feliz servindo churrasco e chipa no Japão
Campo-grandense inaugurou restaurante em plena pandemia e também administra seu próprio salão de beleza
O dia 11 de março de 2011, uma sexta-feira, dificilmente será esquecido pela campo-grandense Liara Cristiane Menezes Pereira Yusa, de 47 anos. Ela se encontrava em seu salão de beleza, em Tóquio, quando um terremoto abalou o Japão.
“O salão estava lotado e as clientes correram desesperadas com medo do nosso prédio desabar”, lembra a brasileira. “Muitas estavam até com gel de depilação no corpo, com tinta no cabelo, papel de luzes e creme corporal. Tudo parou nesse dia”.
Daquele dia em diante as coisas não foram fáceis. O ex-marido que era seu amigo ficou sem o emprego. O atual companheiro que também trabalhava junto a Liara era alguém apaixonado pela culinária brasileira que ela fazia. Foi quando juntos tiveram a ideia de montar um restaurante.
“Fizemos um plano de negócios e fomos ver alguns locais para alugar. No Japão isso é caríssimo, pois pedem uma média de 10 meses de aluguel adiantado”, conta.
Naquele mesmo ano encontraram um restaurante brasileiro que estava falindo. A iniciativa deu certo, mas a Liara saiu dos negócios após encerrar a parceria com o ex-marido meses depois. “E por um longo do tempo eu resolvi ficar só com o salão de beleza atuando na área da estética, mas permaneci com a vontade ter um restaurante no meu coração, para que japoneses pudessem comer comida brasileira de verdade”.
Liara é manicure, depiladora, cabeleireira, maquiadora e esteticista. Em Campo Grande atuava como despachante até o dia em que se apaixonou por um japonês, casou e foi viver no Japão em 1999. Por lá, ela revolveu investir pesado na estética, se profissionalizou e abriu o próprio salão de beleza que hoje tem duas unidades.
No começo, quando ainda não tinha conquistado o mercado da estética, Liara vendia comida por encomenda. “Eu colocava numa cesta bonita com pratos, copos, guardanapos e taça de vinho”. Foi assim que ela saiu pela primeira vez nas páginas de uma revista japonesa, “fazendo feijoada e dobradinha”, conta.
Por isso, apesar do fim da parceria com o ex, ela não desistiu do seu sonho e apostou no próprio restaurante. Ela e o marido estadunidense recorreram a empréstimos em banco e também à ajuda de uma amiga para investir 200 mil dólares (pouco mais de R$ 1 milhão) e inaugurar o restaurante de comida brasileira no bairro de Daikaniyama Shibuya, conhecido como o Brooklin de Tóquio.
“Procuramos um ponto bacana por dois anos e com empréstimo de banco e ajuda de uma amiga demos início a nossa ideia. O local que encontramos era terrível, estava abandonado, levamos semanas para limpar tudo”.
Ela abriu o restaurante em agosto de 2020. “Abrimos quando estava tudo normal e, em pouco tempo, piorou novamente por causa da covid. Hoje, conto com ajuda mensal do governo para manter o restaurante. Mas o que me deixa feliz é ver o restaurante movimentado aos fins de semana”, destaca.
Como o Japão está em estado de emergência novamente, o movimento caiu. Mas Liara celebra reconhecimentos. “Há três semanas, uma tv japonesa chamada Nihon Terebi nos entrevistou e aparecemos no programa mostrando a comida brasileira, como feijoada, pastel e costela no fogo de chão”.
Em seu restaurante, o Brasil Bar & Grill, ela tem rodízio de churrasco, feijoada, carreteiro, dobradinha, pastel, acarajé, moqueca e diversas porções que são a cara da comida brasileira. Às vezes, quando está com muita saudade de casa, ela aposta na sopa paraguaia e na chipa.
Já a decoração é feita com diferentes itens brasileiros, alguns de Campo Grande. “Minha tia Denise Elaine mandou várias coisas de Campo Grande para colocar no restaurante. A decoração tem pequi, telha com pintura de arara, ariranha. Meu irmão quando veio para o Japão me trouxe berrantes também”.
Com esperança que tudo passe, ela e a família se desdobram para manter os negócios de portas abertas. “Perdi funcionários tanto no salão de beleza quanto no restaurante. Por isso hoje estamos nos dividindo. Eu trabalho das 9h às 16h30 no salão e depois fico das 17h às 20h no restaurante. Só folgamos às segundas”.
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