Torcidinho da Beatriz é receita de tataravó que sobrevive com Hugo
Beatriz ensinou Laura que ensinou Iracema e foi com ela que Hugo tomou gosto pela cozinha
Quando era pequeno, Hugo Cezar Fernandes Gondim se divertia passando as tardes ao lado de sua avó, Iracema, em seu “universo particular”, como ele define. Exemplo da amizade e carinho entre os dois é que foi para ele que Iracema ensinou como fazer o “torcidinho da Beatriz”, uma receita que chegou à 5ª geração com o professor de História.
“Minha tataravó, Beatriz, fazia a receita desse bolinho de fazenda e ensinou minha bisavó, Laura. Depois, minha bisavó ensinou para Iracema, minha avó e, no fim, não foi minha irmã e minha prima que aprenderam, fui eu”, conta Hugo. Se divertindo com a quebra da linhagem composta apenas por mulheres, ele brinca que a avó até deveria ter imaginado que ele não se interessaria, mas o amor pelos momentos entre avó e neta mudaram a narrativa do torcidinho.
Puxando as memórias, o professor explica que a cozinha de Iracema era um verdadeiro laboratório para testar receitas passadas de geração em geração.
“Ela aprendeu a cozinhar, costurar, escrever crônicas e até fotografar com a mãe dela, que se chamava Laura. Tinha lembranças da sua avó Beatriz por causa da receita de um biscoito torcido. Quando ia nas férias para a fazenda, que se localizava em Ribas do Rio Parto, ela sempre fazia esse bolinho ou biscoito e eu gostava de ficar com minha avó na cozinha para acompanhar”.
Enquanto Hugo ficava na cozinha, a irmã e a prima se aventuravam com os cavalos. “, eu era o neto que mais ficava no universo particular dela. Ali tinha fogão antigo, um pedestal com latas, potes com temperos, cadeiras de madeira, uma cristaleira cheia de curiosidades, como o relógio do bisavô e besouros nas gavetas. Além disso, o som da água da bica climatizava o ambiente”, descreve Hugo
Na cozinha que parecia quase mágica, Iracema se empenhava na produção do doce de leite, de mamão, goiaba, laranja, abóbora e outros sabores que ainda integram as memórias de Hugo.
“Assava bolos e pães, fervia leite, preparava o almoço e a janta. E não gostava de que atrapalhasse seu ritmo. Se isso acontecesse, ela sempre dizia ‘não venha bagunçar o meu coreto’”, diz Hugo.
Tanto é que o professor conta que a avó não era muito “fã” de intervenções na cozinha. “Dizia que se eu ficasse ia ter que aguentar a tarde inteira lá, porque se eu abrisse a porta o bolo ia murchar. Eu imagino que ela dizia isso para eu desistir”.
Mas, o gosto do neto era maior e a vontade se tornava ainda mais intensa. “eu dizia um “eba” e ficava a tarde toda lá, ouvindo ela contar histórias, cantar músicas da Carmen Miranda e levando bronca quando abria a porta. Teve um momento que ela desistiu de dar desculpas e eu virei o guardião do ponto do pão, enquanto ela ia fazer alguma outra coisa”, conta.
E, no fim, foi Hugo quem acompanhou as receitas da família e se tornou o único a saber como fazer o Torcidinho da Beatriz. “Sempre faço essa receita para lembrar dos bons momentos com minha avó Iracema”.
E, para quem quiser testar, Hugo compartilha um pouco sobre a receita:
Receita do Torcidinho da Beatriz
- 3 xícaras de Farinha de Trigo
- 1 xícara de Leite (pode ser vegetal)
- 1/2 xícara de Açúcar
- 1 colher de chá de Sal
- 1 colher de sopa de Fermento
- Óleo para fritar
Modo de Preparo
“Esse eu não revelo, porque é tradição passada de geração após geração na família. Digo apenas que é uma receita simples de fazenda, que deve colocar um pouco de alegria, botar a mão na massa e torcer até ficar bem torcidinho. Depois é só fritar e servir com doce de leite e um cafezinho”, completa.
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