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Sabor

Torcidinho da Beatriz é receita de tataravó que sobrevive com Hugo

Beatriz ensinou Laura que ensinou Iracema e foi com ela que Hugo tomou gosto pela cozinha

Por Aletheya Alves | 19/04/2024 08:15
Hugo mantém a receita de família presente no cotidiano. (Foto: Henrique Kawaminami)
Hugo mantém a receita de família presente no cotidiano. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando era pequeno, Hugo Cezar Fernandes Gondim se divertia passando as tardes ao lado de sua avó, Iracema, em seu “universo particular”, como ele define. Exemplo da amizade e carinho entre os dois é que foi para ele que Iracema ensinou como fazer o “torcidinho da Beatriz”, uma receita que chegou à 5ª geração com o professor de História.

“Minha tataravó, Beatriz, fazia a receita desse bolinho de fazenda e ensinou minha bisavó, Laura. Depois, minha bisavó ensinou para Iracema, minha avó e, no fim, não foi minha irmã e minha prima que aprenderam, fui eu”, conta Hugo. Se divertindo com a quebra da linhagem composta apenas por mulheres, ele brinca que a avó até deveria ter imaginado que ele não se interessaria, mas o amor pelos momentos entre avó e neta mudaram a narrativa do torcidinho.

Bolinho de fazenda foi ensinado por sua avó, Iracema. (Foto: Henrique Kawaminami)
Bolinho de fazenda foi ensinado por sua avó, Iracema. (Foto: Henrique Kawaminami)

Puxando as memórias, o professor explica que a cozinha de Iracema era um verdadeiro laboratório para testar receitas passadas de geração em geração.

“Ela aprendeu a cozinhar, costurar,  escrever crônicas e até fotografar com a mãe dela, que se chamava Laura. Tinha lembranças da sua avó Beatriz por causa da receita de um biscoito torcido. Quando ia nas férias para a fazenda, que se localizava em Ribas do Rio Parto, ela sempre fazia esse bolinho ou biscoito e eu gostava de ficar com minha avó na cozinha para acompanhar”.

Enquanto Hugo ficava na cozinha, a irmã e a prima se aventuravam com os cavalos. “, eu era o neto que mais ficava no universo particular dela. Ali tinha fogão antigo, um pedestal com latas, potes com temperos, cadeiras de madeira, uma cristaleira cheia de curiosidades, como o relógio do bisavô e besouros nas gavetas. Além disso, o som da água da bica climatizava o ambiente”, descreve Hugo

Na cozinha que parecia quase mágica, Iracema se empenhava na produção do doce de leite, de mamão, goiaba, laranja, abóbora e outros sabores que ainda integram as memórias de Hugo.

Hugo, ainda criança, ao lado da avó, Iracema. (Foto: Arquivo pessoal)
Hugo, ainda criança, ao lado da avó, Iracema. (Foto: Arquivo pessoal)

“Assava bolos e pães, fervia leite, preparava o almoço e a janta. E não gostava de que atrapalhasse seu ritmo. Se isso acontecesse, ela sempre dizia ‘não venha bagunçar o meu coreto’”, diz Hugo.

Tanto é que o professor conta que a avó não era muito “fã” de intervenções na cozinha. “Dizia que se eu ficasse ia ter que aguentar a tarde inteira lá, porque se eu abrisse a porta o bolo ia murchar. Eu imagino que ela dizia isso para eu desistir”.

Mas, o gosto do neto era maior e a vontade se tornava ainda mais intensa. “eu dizia um “eba” e ficava a tarde toda lá, ouvindo ela contar histórias, cantar músicas da Carmen Miranda e levando bronca quando abria a porta. Teve um momento que ela desistiu de dar desculpas e eu virei o guardião do ponto do pão, enquanto ela ia fazer alguma outra coisa”, conta.

E, no fim, foi Hugo quem acompanhou as receitas da família e se tornou o único a saber como fazer o Torcidinho da Beatriz. “Sempre faço essa receita para lembrar dos bons momentos com minha avó Iracema”.

E, para quem quiser testar, Hugo compartilha um pouco sobre a receita:

Receita do Torcidinho da Beatriz

  • 3 xícaras de Farinha de Trigo
  • 1 xícara de Leite (pode ser vegetal)
  • 1/2 xícara de Açúcar
  • 1 colher de chá de Sal
  • 1 colher de sopa de Fermento
  •  Óleo para fritar

Modo de Preparo

“Esse eu não revelo, porque é tradição passada de geração após geração na família. Digo apenas que é uma receita simples de fazenda, que deve colocar um pouco de alegria, botar a mão na massa e torcer até ficar bem torcidinho. Depois é só fritar e servir com doce de leite e um cafezinho”, completa.

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