Leite ao produtor segue em desvalorização; ano deve fechar com preços em queda
Em MS preço reage, mas indústria insiste em baixar os preços, reclama pecuarista
No mercado do leite ao produtor vale a máxima de que não há nada ruim que não possa piorar. Em outubro o preço do litro do produto pago ao pecuarista recuou 6,5% frente ao mês anterior. Pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) mostra que o preço do leite foi de R$ 2,8481/litro na “Média Brasil” líquida.
Essa foi a segunda queda consecutiva no campo, mas o valor ainda ficou 15,5% superior ao registrado em outubro do ano passado, em termos reais. E a expectativa de agentes consultados pelo Cepea, segundo nota técnica distribuída à imprensa, é de que esse movimento de desvalorização persista até o final do ano, ainda que em menor intensidade.
Leite em MS
Nesse contexto, o índice de preços para a cesta de produtos lácteos de Mato Grosso do Sul como um todo teve uma variação positiva de 5,15% no mês de outubro de 2022, comparado ao mês imediatamente anterior.
Para o pecuarista Ronan Salgueiro o mercado do leite continua ruim como sempre. "Apesar de o índice do leite em MS ter apresentado reajuste de acréscimo de 5%, as indústrias baixaram os preços", analisa ele.
Leite spot
Segundo índice do leite divulgado pela Secretaria de Fazenda e a Semagro-MS (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), o litro do leite spot apresentou uma variação de +5,09% em outubro de 2022, valor maior do que o verificado para o mês anterior, quando se registrou variação negativa de 21,03%.
Quando comparamos com o mesmo período do ano passado (outubro de 2021), houve um movimento no sentido contrário, uma vez que naquele período houve uma variação de preços do litro do leite spot de -14,58%.
O spot serve como um apetite das empresas pela compra de leite matéria-prima – se a produção de leite dos seus produtores diretos cai ou a demanda por seus derivados sobe, a empresa recorre ao leite spot. Assim, os preços deste mercado são um indicativo do que pode acontecer com os preços ao produtor.
Sazonalidade
A baixa nos preços ao produtor no quarto trimestre do ano é algo esperado pelo setor, uma vez que existe uma tendência de aumento da produção associada ao regime de chuvas. Dessa forma, um fator sazonal contribui para a queda do custo ligado à alimentação e ao aumento da produção no campo neste período, sobretudo no Sudeste e Centro-Oeste
Diante disso, observa-se elevação da oferta no campo nos últimos meses. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) do Cepea aumentou 2,2% de agosto para setembro, quinto avanço mensal consecutivo.
Os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) mostram que as exportações seguiram em queda em outubro e, apesar do recuo de 15,4% das importações, o volume internalizado ainda é alto, estando 80,8% maior que o registrado em outubro do ano passado.
Soma-se a esse contexto de pressão sobre as cotações ao produtor a demanda enfraquecida por lácteos na ponta final da cadeia. A pesquisa do Cepea mostra que, desde agosto, os laticínios vêm enfrentando dificuldades nas negociações dos lácteos com os canais de distribuição – e esse cenário se manteve em outubro, devido ao consumo desaquecido. Ainda assim, a desvalorização dos derivados em outubro foi menos intensa que em meses anteriores.
Esse movimento baixista no mercado de lácteos em outubro deverá influenciar o preço do leite cru captado naquele mês e pago ao produtor em novembro, corroborando a expectativa de que o ano termine com os preços no campo em queda, finaliza análise feita pelo Cepea.
Colaborou Natália Grigol, do Cepea.