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Lado Rural

Sombreamento em confinamento melhora eficiência hídrica e nutricional

Técnica pode economizar até 3 mil litros de água por quilo de ganho de peso; MS tem 775 mil animais confinados

Por José Roberto dos Santos | 22/09/2023 14:50
Animais da raça nelore descansam sob malha de alumínio termorreflexiva usada para sombreamento
Animais da raça nelore descansam sob malha de alumínio termorreflexiva usada para sombreamento

Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) demonstrou que o fornecimento de sombreamento artificial em sistema de confinamento de bovinos de corte foi capaz de reduzir as pegadas hídrica e da terra, além de aumentar a eficiência nutricional. Em média, as pegadas hídrica e terrestre foram 3% e 7% menores, respectivamente, nas áreas com sombra em comparação com as instalações a pleno sol.

A pesquisa foi publicada na revista internacional Science of The Total Environment de setembro.

O experimento foi bem recebido por produtores rurais de Mato Grosso do Sul. De acordo com Censo de Confinamento realizado pela multinacional DSM–Firmenich, a terminação intensiva atingiu 830 mil cabeças em Mato Grosso do Sul no ano de 2022, representando aumento de 7% frente aos dados de 2021, o que garantiu a MS o posto de quarto maior rebanho confinado do Brasil.

Já na primeira pesquisa realizada em 2023, o Estado caiu para a quinta posição, com 775,5 mil animais. No entanto, os especialistas explicam que o segundo semestre é o principal para a terminação de bovinos em confinamento, o que deve impactar os números durante o resto do ano.

Indicadores

Foram avaliados três indicadores: pegada hídrica, pegada de uso da terra e eficiência do uso dos nutrientes nitrogênio (N) e fósforo (P). As pegadas foram avaliadas em cenários agrícolas diversos: soja no Paraná e São Paulo, e primeira e segunda safras de milho, também nesses dois estados. A avaliação é pioneira em relação ao impacto de um sistema de confinamento bovino, considerando de maneira holística as eficiências de água, terra e nutrientes e as sinergias entre os três indicadores.

De acordo com o pesquisador Julio Palhares, o impacto das mudanças climáticas, com aumento de temperatura e de eventos climáticos extremos mais frequentes, terá consequências negativas também no desempenho da pecuária de corte. “A repercussão desses fenômenos climáticos nos bovinos se estende a consumo de alimentos, padrões comportamentais, uso de água e eficiência para converter nutrientes em carne. Por isso, é importante uma gestão responsável e utilização de tecnologias para mitigar esses efeitos e melhorar a gestão ambiental”, destaca Palhares.

Desempenho ambiental

O estudo indicou que fornecer sombra artificial, além de melhorar o bem-estar animal, impacta diretamente o desempenho ambiental. A pesquisadora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (Universidade de São Paulo) Taisla Novelli ressalta que tecnologias que reduzam o estresse térmico e proporcionem mais conforto climático aos bovinos devem ser consideradas para aumentar a eficiência no uso de recursos pela pecuária de corte.

Grupo de animais da raça nelore utilizados no experimento. (Fotos: Divulgação/Embrapa)
Grupo de animais da raça nelore utilizados no experimento. (Fotos: Divulgação/Embrapa)

O experimento

A pesquisa foi conduzida no Confinamento da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), de setembro a dezembro de 2019. Participaram 48 touros da raça Nelore, divididos em dois grupos, um com sombra e outro a pleno sol.

O material utilizado para ofertar sombra foi uma malha de alumínio termorreflexiva. Segundo as especificações do fabricante, 78% a 83% de sombra e 32% de transmissão de luz difusa.

Os animais foram separados em quatro áreas com 12 touros cada, por 85 dias. Os primeiros 11 foram para adaptação, seguidos das fases de crescimento e terminação.

A dieta foi composta por bagaço de cana, soja, milho e mistura mineral, com valores baseados na matéria seca. Para mensurar o consumo de ração e água, foram utilizados cochos eletrônicos e bebedouros eletrônicos.

Segundo o pesquisador da Embrapa Sérgio Raposo Medeiros, a eficiência da pecuária é uma métrica complexa que depende de vários fatores, sendo o tipo e a formulação da dieta um dos aspectos principais. Se a dieta for ajustada para cada fase do desenvolvimento do animal, pode levar a um melhor aproveitamento dos elementos da alimentação, resultando em menor excedente. A utilização eficiente da ração não só melhora a ciclagem de nutrientes, como também reduz perdas para o meio ambiente e custos.

* Com informações da Embrapa Pecuária Sudeste

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