Sombreamento em confinamento melhora eficiência hídrica e nutricional
Técnica pode economizar até 3 mil litros de água por quilo de ganho de peso; MS tem 775 mil animais confinados
Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) demonstrou que o fornecimento de sombreamento artificial em sistema de confinamento de bovinos de corte foi capaz de reduzir as pegadas hídrica e da terra, além de aumentar a eficiência nutricional. Em média, as pegadas hídrica e terrestre foram 3% e 7% menores, respectivamente, nas áreas com sombra em comparação com as instalações a pleno sol.
A pesquisa foi publicada na revista internacional Science of The Total Environment de setembro.
O experimento foi bem recebido por produtores rurais de Mato Grosso do Sul. De acordo com Censo de Confinamento realizado pela multinacional DSM–Firmenich, a terminação intensiva atingiu 830 mil cabeças em Mato Grosso do Sul no ano de 2022, representando aumento de 7% frente aos dados de 2021, o que garantiu a MS o posto de quarto maior rebanho confinado do Brasil.
Já na primeira pesquisa realizada em 2023, o Estado caiu para a quinta posição, com 775,5 mil animais. No entanto, os especialistas explicam que o segundo semestre é o principal para a terminação de bovinos em confinamento, o que deve impactar os números durante o resto do ano.
Indicadores
Foram avaliados três indicadores: pegada hídrica, pegada de uso da terra e eficiência do uso dos nutrientes nitrogênio (N) e fósforo (P). As pegadas foram avaliadas em cenários agrícolas diversos: soja no Paraná e São Paulo, e primeira e segunda safras de milho, também nesses dois estados. A avaliação é pioneira em relação ao impacto de um sistema de confinamento bovino, considerando de maneira holística as eficiências de água, terra e nutrientes e as sinergias entre os três indicadores.
De acordo com o pesquisador Julio Palhares, o impacto das mudanças climáticas, com aumento de temperatura e de eventos climáticos extremos mais frequentes, terá consequências negativas também no desempenho da pecuária de corte. “A repercussão desses fenômenos climáticos nos bovinos se estende a consumo de alimentos, padrões comportamentais, uso de água e eficiência para converter nutrientes em carne. Por isso, é importante uma gestão responsável e utilização de tecnologias para mitigar esses efeitos e melhorar a gestão ambiental”, destaca Palhares.
Desempenho ambiental
O estudo indicou que fornecer sombra artificial, além de melhorar o bem-estar animal, impacta diretamente o desempenho ambiental. A pesquisadora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (Universidade de São Paulo) Taisla Novelli ressalta que tecnologias que reduzam o estresse térmico e proporcionem mais conforto climático aos bovinos devem ser consideradas para aumentar a eficiência no uso de recursos pela pecuária de corte.
O experimento
A pesquisa foi conduzida no Confinamento da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), de setembro a dezembro de 2019. Participaram 48 touros da raça Nelore, divididos em dois grupos, um com sombra e outro a pleno sol.
O material utilizado para ofertar sombra foi uma malha de alumínio termorreflexiva. Segundo as especificações do fabricante, 78% a 83% de sombra e 32% de transmissão de luz difusa.
Os animais foram separados em quatro áreas com 12 touros cada, por 85 dias. Os primeiros 11 foram para adaptação, seguidos das fases de crescimento e terminação.
A dieta foi composta por bagaço de cana, soja, milho e mistura mineral, com valores baseados na matéria seca. Para mensurar o consumo de ração e água, foram utilizados cochos eletrônicos e bebedouros eletrônicos.
Segundo o pesquisador da Embrapa Sérgio Raposo Medeiros, a eficiência da pecuária é uma métrica complexa que depende de vários fatores, sendo o tipo e a formulação da dieta um dos aspectos principais. Se a dieta for ajustada para cada fase do desenvolvimento do animal, pode levar a um melhor aproveitamento dos elementos da alimentação, resultando em menor excedente. A utilização eficiente da ração não só melhora a ciclagem de nutrientes, como também reduz perdas para o meio ambiente e custos.
* Com informações da Embrapa Pecuária Sudeste