Corredor de preservação do Pantanal volta à cena com investimento privado
Grupos de investidores têm pelo menos 600 mil hectares de área preservada e inúmeros projetos
O sonhado corredor de preservação no Pantanal parece ser cada vez mais real para ambientalistas e entusiastas da causa ambiental. Parte do sucesso das ações de manutenção dessas áreas se dá ao fato de investidores do setor privado de todo o Brasil comprarem terras para conservar a vida nativa.
O tema está em foco há mais de 10 anos, entretanto, voltou à cena em 2020, quando o projeto Aliança 5P (Pantanal, Preservação, Parcerias, Pecuária e Produtividade), formado por um grupo de empresários do País, comprou a fazenda Santa Sofia, de 34 mil hectares, em Aquidauana, no Pantanal. De lá para cá, o sonho do corredor biológico parece ainda mais vívido.
A fazenda, administrada em 2011 por Beatriz Rondon, foi palco de imagens fortes que mostravam a proprietária durante uma caçada às onças. Animais que ela alegava proteger.
O cenário ficou conhecido em todo País e a ação popularmente chamada de "Safári de caça as onças”. Na época a pecuarista, que fazia parte de grupos de preservação da espécie, foi denunciada e chegou a ser presa pela Polícia Federal.
Preservação - A conservação desse território é feita por dois grupos que compram ou administram as propriedades particulares. Um é a Rede Serra do Amolar, outro o Aliança 5P. Ângelo Paccelli Cipriano Rabelo, diretor presidente do IHP (Instituto do Homem Pantaneiro), que faz parte da Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, explicou ao Campo Grande News que as iniciativas privadas são muito recentes no Brasil.
“Elas existem há uns 10 anos. A gente tinha uma história que começa pela Serra do Amolar, que foi a primeira iniciativa que envolveu todo poder público, Eike Batista, Teresa Bracher (ambientalista), isso permitiu que o projeto tivesse um coração, o Parque Nacional do Pantanal. Esses investimentos são privados, na maioria das vezes são pessoas físicas que percebem que podem fazer algo para a sociedade”, comentou.
De acordo com o representante do IHP, a ação realizada na Serra do Amolar fez com que os entusiastas e empresários, comprometidos com a causa ambiental, como Teresa Bracher, adquirissem mais áreas e mobilizassem outras pessoas, como Mário Haberfeld e a Raquel Machado, que formam a Aliança 5P. Juntos, os projetos têm, pelo menos, 600 mil hectares de terra preservadas.
“Temos no total 300 mil hectares, só que 130 mil são do Parque Nacional, então temos uns 170 mil hectares. Esses investimentos nascem inspirados na história de conservação, na unidade de conservação de RPPN's (Reserva Particular do Patrimônio Natural), chamadas de "Acurizal" e, principalmente, na percepção da necessidade de implementação de uma política pública que deixa muito a desejar”, disse Ângelo.
Aliança 5P – Mário Haberfeld, fundador da ONG Onçafari e membro do Aliança 5P, falou à reportagem que o grupo possui 430 mil hectares de área preservada no Pantanal e que a extensão de terra significa o início de um sonho sendo realizado.
“A compra da fazenda Santa Sofia, em 2020, tinha como um dos objetivos a criação de um corredor de vida silvestre. Começamos com pouco mais de 100 mil hectares, expandimos para 230 mil e, hoje, apenas dois anos após o início do projeto, já temos um corredor de 430 mil hectares. O Pantanal é um diamante bruto que precisa ser lapidado, em termos de ecoturismo. Tem um potencial enorme e vocação para isso”, ressaltou o ex-automobilista brasileiro.
Raquel Vieira Machado, de 48 anos, é médica dermatologista e acolhe animais silvestres vítimas do tráfico desde 2010. Em 2020 criou um instituto que leva o nome dela para ampliar o auxílio prestado. Ela compartilhou com o Campo Grande News seu propósito em fazer parte do grupo Aliança 5p.
“Fazer parte desse grupo me deixa muito feliz porque eu me sinto fortalecida. Antes me sentia muito sozinha batalhando e lutando pela preservação. Agora, me sinto mais fortalecida por saber que existem pessoas que pensam como eu e que querem trabalhar com conservação ambiental”, disse.
A médica relatou que entre 2017 e 2018 começou a pensar em ter uma reserva para trabalhar com reabilitação e soltura de animais silvestres. Em 2016 comprou uma fazenda em Bonito, que está transformando em RPPN. “Comprei a reserva do Saci, divisa com a Serra da Bodoquena e tem outra área em Bonito que estou transformando em reserva também. Essa terceira tem uns 700 hectares de área preservada”, acrescentou.
Influência de Teresa Bracher - Raquel afirma que a compra da Fazenda Sofia foi influência da ambientalista e fundadora do Documenta Pantanal e do Instituto Taquari Vivo, Teresa Cristina Ralston Bracher, que também integra o conselho do Onçafari.
“A Teresa, além de uma amiga pessoal, é um exemplo de pessoa. Eu realmente me inspiro nela. Em 2020 ela me ligou falando dessa área (Fazenda Sofia), falando que tinha essa área de 34 mil hectares, a pessoa que estava em negociação iria destruir quase tudo.
Então juntamos e compramos várias partes dessa fazenda. A gente foca 100% na conservação. Quem administra é o Onçafari. Lá trabalhamos com conservação, reabilitação e soltura de animais”, disse.
A médica também tem duas áreas de preservação na Amazônia.” Então, no todo temos essas duas, uma no Pantanal, em sociedade, e outras três em Bonito., finalizou.
Você pode acompanhar os projetos citados através do Instagram: Oncafari, Instituto Homem Pantaneiro, Instituto Raquel Machado e Documenta Pantanal