Falta incentivo ou consciência? Coleta seletiva na Capital estagnou há 2 anos
Serviço é oferecido em 47 bairros de Campo Grande; 17 são parcialmente atendidos pela Solurb
Enquanto são estabelecidos novos critérios de cálculo para a taxa do lixo, surgem ideias para incentivar a coleta seletiva em Campo Grande. Há quem defenda desconto no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), enquanto outros acreditam que trata-se de uma atitude de cidadania.
A presidente da Cata-MS (Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis do Bairro Dom Antônio Barbosa), Lúcia Rodrigues, esclareceu que reduzir tributos poderia envolver mais os campo-grandenses que separam somente 507,1 toneladas de recicláveis por mês. Em comparação, outras 28 mil toneladas seguem no mesmo período direto para o aterro.
"Se viesse só lixo limpo nossa renda ia aumentar e agilizaria em 60% o trabalho de triagem. Hoje recebemos a coleta seletiva e o mesmo material que vai para o aterro", explicou Lúcia. Conversa com o prefeito Marquinhos Trad (PSD), em julho do ano passado, já teria tratado do desconto. Na ocasião, ele visitou a UTR (Usina de Tratamento de Resíduos Sólidos).
Por enquanto, não há projeto de lei sobre concessão de desconto para quem colaborar com a coleta seletiva. A ideia, conforme o presidente da Câmara Municipal João Rocha (PSDB), deve ser estudada depois de resolvido o problema com a taxa do lixo. "Você pode criar um programa de estímulo, mas o incentivo significa renúncia fiscal", relembrou Rocha.
Na avaliação da cabeleireira Rosemeire Himoto, 45 anos, nem todos precisam receber algo em troca para cumprir com seu dever cidadão. Em sua residência, no Bairro Amambaí, os papéis, garrafas pet e de vidro já são separadas para que uma das nove equipes de coleta seletiva deem o tratamento adequado ao resíduos.
O mecânico Carlos Venâncio, 57 anos, pontuou no São Francisco que a consciência ambiental precisa começar "na escola desde pequeno", enquanto a professora Vânia Fleury, 70 anos, disse no Cabreúva que "dinheiro é tolice".
Posição de quem já participa da coleta seletiva encontra respaldo de ambientalistas como a presidente do Instituto Gea - Ética e Meio Ambiente, Ana Maria Domingues Luz, contrária a um eventual incentivo financeiro da prefeitura a quem colabora com a coleta seletiva.
"Tem muita confusão porque aquilo vale dinheiro e muitas vezes se acha que deve ser pago quem entrega ou ter premiação para quem separa. Se o incentivo cessa, por algum motivo, isso para de acontecer e não avança a consciência cidadã. Normalmente as pessoas sequer sabem como é desumano mandar resto de comida e absorvente para alguém ficar pinçando o que é reciclável", comentou Ana Maria. "Com coleta seletiva funcionando e indo separado para as cooperativas todos ganham. A prefeitura tem que investir em educação ambiental".
Cobertura - Sob responsabilidade da Solurb Soluções Ambientais, o serviço deve ser ampliado esta ano. A meta é abrir 132 pontos para entrega voluntária de recicláveis, bem como ampliar cobertura da coleta de porta em porta de 47 dos 74 bairros da Capital. Dados oficiais ainda estimam que ao menos 430 dos 874 mil moradores possuem acesso ao serviço.
Em 2016, última vez que o serviço foi ampliado, um levantamento do TCE (Tribunal de Contas do Estado) apontou que o setor coberto pela coleta seletiva gerava 301 toneladas por dia, porém depois de triagem somente seis toneladas "escapavam" de ser enterradas no aterro sanitário de Campo Grande.
A questão evoluiu, em setembro do ano passado, para abertura de ação do MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) questionando prefeitura e concessionária sobre melhorias no programa de coleta seletiva. Plano foi adotado no mesmo mês para reverter esse quadro.