Coleta seletiva fracassada: apenas 2% do lixo da Capital “escapa” de aterro
Protagonista de sucessivas campanhas e planos, a coleta seletiva patina em Campo Grande, é alvo de mais uma investigação do Ministério Público e tema de perícia com resultado preocupante: ínfimos 2% dos resíduos sólidos domiciliares são vendidos como recicláveis.
Levantamento feito pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) aponta que somente o setor coberto pela coleta seletiva tem geração total de 301 toneladas por dia. Mas, depois de passar pela triagem, apenas 6 toneladas “escapam” de ser enterradas no aterro sanitário.
“Verifica-se que o sistema de Coleta Seletiva de uma forma global (Coleta Seletiva porta a porta, LEVs e Unidade de Triagem de Resíduos) evita de ser aterrado apenas 6 toneladas/dia, no universo de 301 toneladas/dia, representando uma fração ínfima de 2% dos resíduos sólidos domiciliares dispostos no Aterro Sanitário do município de Campo Grande”, afirma relatório técnico do TCE.
O documento, que traz resultado da perícia realizada entre 15 e 28 de outubro de 2016, foi anexado ao inquérito do MP/MS para apurar a eficiência da coleta seletiva e do trabalho de educação ambiental na cidade.
Na semana passada, foi aberta outra investigação, neste caso, sobre a baixa adesão dos condomínios à coleta seletiva. Conforme a CG Solurb, concessionária que faz a gestão dos resíduos sólidos na cidade, de 118 condomínios notificados, houve adesão de apenas 30. Ou seja, somente 25% ou um a cada quatro residenciais.
O MP deu prazo de 30 dias para a prefeitura de Campo Grande apresentar um plano de ação indicando como vai exigir a adesão dos condomínios residenciais ao programa de coleta seletiva, com cronograma e forma de atuação no caso de negativa.
Conforme o Código Municipal de Resíduos Sólidos, os prédios residenciais, comerciais e
condomínios fechados, com mais de 6 unidades, são obrigados a construir uma área reservada para fins de coleta seletiva de lixo, devidamente sinalizada e de fácil acesso.
Radiografia do lixo – Datado de 21 de julho de 2017, o Relatório Técnico da Unidade de Triagem de Resíduos Recicláveis do Município de Campo Grande conclui que o sistema de coleta seletiva ainda é bastante ineficiente, resultado principalmente da falta de adesão dos moradores e da falta de maiores programas de educação ambiental que conscientizem a população da importância da separação dos resíduos recicláveis.
Na Capital, o setor coberto pela coleta seletiva resulta na geração de resíduos sólidos domiciliares de 301 toneladas/dia, dos quais a parcela de material reciclável é de 111 toneladas/dia (36,99%). Contudo, a quantidade de resíduos que chega à UTR (Unidade de Triagem de Resíduos) é de apenas 12 toneladas diárias, o que representa 11% do potencial de resíduos recicláveis.
Após a triagem, o cenário ganha contornos ainda mais desfavoráveis: do material potencialmente reciclável que poderia ser coletado, apenas 5,5% (6 toneladas/dia) são vendidos pelas cooperativas.
No período entre outubro de 2015 e 2016, entraram na UTR 4.677 toneladas de resíduos oriundos da coleta seletiva, dos quais 2.347 toneladas (50,19%) foram recicladas e 2.330 toneladas (49,81%) enviadas para o aterro sanitário como rejeitos. A UTR é operada por 96 cooperados, que estão divididos em três cooperativas e uma associação.
Novo – A versão preliminar do plano da coleta seletiva será apresentada em evento amanhã (dia 30) pela Planurb ( Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano). O seminário vai debater temas como emancipação econômica dos catadores, educação ambiental e novas tecnologias.
A reportagem solicitou à Solurb informações sobre os motivos da baixa adesão à coleta, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.