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Meio Ambiente

Pesquisa encontra caminhos para gestão sustentável do fogo na pecuária

Estudo mostrou a diferença de percepção entre os "pantaneiros tradicionais" e os "recém-chegados"

Por Gabriela Couto | 06/12/2024 15:34
Pesquisa encontra caminhos para gestão sustentável do fogo na pecuária
Homem pantaneiro fechando cocho, em mangueiro, montado em cavalo (Foto: ICAS)

O Pantanal, maior planície alagada tropical do planeta, vive um dilema complexo: como equilibrar as necessidades econômicas da pecuária extensiva com a preservação ambiental? Um estudo, publicado nesta semana, na Revista Científica Biodiversidade Brasileira, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), propõe soluções para essa questão, explorando as percepções e práticas dos pecuaristas do bioma em relação ao uso do fogo.

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Um estudo do ICMBio, realizado com pecuaristas do Pantanal, investiga o impacto do uso do fogo na conservação do bioma e na sustentabilidade da pecuária. A pesquisa revela uma mudança na percepção do fogo, antes visto como ferramenta, agora como um tormento, devido aos incêndios devastadores. A falta de clareza sobre a legislação e a diferença de percepção entre pecuaristas tradicionais e recém-chegados destacam a necessidade de diálogo entre órgãos reguladores e comunidades locais. Como solução, propõe-se a adoção do Manejo Integrado do Fogo (MIF), combinando queima controlada, capacitação e conhecimento tradicional, buscando uma gestão sustentável que concilie as necessidades econômicas com a preservação ambiental do Pantanal.

Liderado pela bióloga Mariana Catapani, coordenadora de coexistência do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), o estudo foi realizado com 70 pecuaristas das 11 sub-regiões do Pantanal, entre dezembro de 2021 e março de 2022. A pesquisa visa entender como o uso do fogo, uma prática histórica na região, impacta a conservação do bioma e a sustentabilidade da pecuária, propondo alternativas para uma gestão integrada e responsável.

Historicamente, o fogo no Pantanal tem sido utilizado para renovar pastagens e controlar pragas, uma prática consolidada entre os pecuaristas da região. No entanto, os incêndios devastadores que assolaram o bioma entre 2019 e 2020 expuseram os efeitos destrutivos do uso inadequado do fogo. A destruição de vastas áreas de vegetação e a perda de biodiversidade agravaram ainda mais os impactos socioeconômicos na região, gerando um novo debate sobre a gestão dessa ferramenta.

"Antes, o fogo era uma ferramenta; agora, é visto como um tormento", relata um dos entrevistados no estudo, refletindo uma mudança significativa nas percepções dos pecuaristas, tradicionalmente defensores do uso do fogo. A crescente preocupação com os prejuízos financeiros, os impactos ambientais e as incertezas legais foram destacadas por muitos dos entrevistados.

Um dos principais achados da pesquisa foi a lacuna no entendimento da legislação sobre o uso do fogo. Embora a legislação sobre queimadas seja amplamente reconhecida, muitos pecuaristas demonstraram confusão sobre as normas e restrições vigentes. Para Mariana Catapani, esse cenário reforça a urgência de um maior diálogo entre os órgãos reguladores e as comunidades locais, a fim de criar políticas públicas mais eficazes e alinhadas à realidade do Pantanal.

Pesquisa encontra caminhos para gestão sustentável do fogo na pecuária
Homem pantaneiro anexando mangueira d'água para retirar água de rio (Foto: Icas)

Além disso, o estudo revelou uma importante diferença de percepção entre os "pantaneiros tradicionais" e os "recém-chegados". Essa distinção destaca a importância do da tradição na construção de práticas de manejo sustentável. "O resgate do conhecimento tradicional pode ser essencial para construir práticas mais adaptadas às especificidades do Pantanal", explica Catapani.

Sustentabilidade - Para conciliar os interesses da pecuária com a conservação do Pantanal, o estudo sugere a adoção do Manejo Integrado do Fogo (MIF). Essa abordagem integra práticas de queima controlada, capacitação de brigadas comunitárias e o resgate de conhecimentos tradicionais, como a utilização de aceiros. O MIF tem se mostrado eficaz em outras regiões do Brasil, e os pesquisadores acreditam que pode ser uma solução viável para o bioma pantaneiro.

Como caminho para a transformação, são propostas abordagens de Manejo Integrado do Fogo, que unem saberes tradicionais, capacitação comunitária e uso controlado das chamas, iluminando uma estratégia sustentável para o futuro do Pantanal.

Pesquisa encontra caminhos para gestão sustentável do fogo na pecuária
Manejo integrado do fogo sendo utilizado em pastagem, com apoio de brigadistas (Foto: ICAS)

A proposta vai além de uma simples mudança na forma de uso do fogo; ela busca uma gestão sustentável que respeite tanto a necessidade de renovação das pastagens quanto a urgência de preservar a biodiversidade do Pantanal. "Uma gestão sustentável do fogo no Pantanal depende do envolvimento ativo dos pecuaristas e da valorização do seu conhecimento local", conclui Catapani.

O estudo reforça a importância de uma abordagem que integre as necessidades socioeconômicas da região com os princípios de conservação ambiental. Ao colocar os pecuaristas como protagonistas na busca por soluções, a pesquisa aponta que a preservação do Pantanal não pode ser dissociada da realidade local e das práticas que, por gerações, moldaram a relação entre o ser humano e o bioma.

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