Pousada que usava jacarés como atrativo é embargada no Pantanal
Estabelecimento é de funcionário aposentado do Ibama que é alvo de investigação da PF
Nos últimos 15 anos, o médico veterinário e funcionário do Ibama em Mato Grosso do Sul Gerson Bueno Zahdi, 64 anos, era tido como um exemplo de consciência ambiental aliada à atividade comercial e, com essa fama, apareceu em diversas publicações e reportagens de TV no Brasil e em outros países, mostrando sua criação de jacarés e a pousada vizinha, a Cacimba de Pedra, em Miranda. Do dia 18 de agosto para cá, quando ele, a mulher e a filha foram presos acusados de crime ambiental, isso mudou. Zahdi passou de exemplo a investigado e os negócios estão paralisados, segundo o Campo Grande News apurou.
Primeiro, foi o criadouro de jacarés, que teve 3 mil animais apreendidos, e colocados sob a guarda do próprio Zahdi, por falta de outro lugar para serem levados. O Ibama também aplicou multa de R$ 297 mil ao proprietário. Agora, foi a pousada Cacimba de Pedra, vizinha ao criadouro, que foi embargada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis) e não está recebendo hóspedes. Neste caso, foi aplicada multa de R$ 10 mil.
A pousada, que usava os jacarés como um de seus atrativos a turistas brasileiros e estrangeiros, não tinha licenciamento ambiental nem para a atividade turística nem para a vistação aos bichos, para a qual as regras são rígidas quanto ao contato entre humanos e animais. Além dos jacarés, a fazenda tem animais silvestres apreendidos do Espírito Santo, em 2009, e soltos no local com o aval do Ibama, como forma de reintrodução na natureza.
Zahdi se aposentou recentemente. Até julho, ele atuava no setor responsável pelas autorizações ambientais relativas à fauna, ou seja, por onde passaram todos os procedimetnos envolvendo o criadouro de jacarés dele. Deixou o setor em julho, para ser lotado no gabinete do superintendente do Ibama, Davi Lourenço. Logou depois, saiu sua aposentadoria, no fim de agosto.
Dúvidas-Segundo o Campo Grande News apurou, a criação nunca foi fiscalizada como deveria, situação que é alvo de investigação da PF. A corporação suspeita que Zahdi tenha sido beneficiado por ser funcionário do Ibama e também investiga o conflito de interesses entre as atividades dele como funcionário público e como empresário.
Desde que as acusações contra ele vieram a público, a partir da apreensão de carne de jacaré com a filha, na estrada, o Ibama se manifestou dizendo que o criadouro de jacarés é legal, mas que não tinha autorização para abater os animais. Por isso e por transportar animais abatidos sem autorização, Zahdi recebeu a multa de R$ 297 mil.
No dia 13 de setembro, na semana após uma matéria do SBT mostrar artistas visitando o local e brincando com os jacarés, foi expedida a ordem de embargo da pousada, por falta de licenciamento ambiental.
A coordenadora de Fauna do Ibama, Paula Mochel, informou que todas as atividades de Zahdi estão sendo investigadas pelo órgão. São 15 ofícios da Polícia Federal a serem respondidos. “Se forem confirmadas as irregularidades, ele vai ser punido”, afirmou.
Segundo ela, ainda não havia confirmação do recebimento pela pousada da ordem de embargo, porque isso é feito por meio dos Correios, cujos funcionários estão em greve.
Estranho- Quando o criadouro de jacarés foi alvo de ação da PF, Gerson Zahdi conversou com o Campo Grande News e disse que seus negócios respeitam o meio ambiente e devem ser encarados como um incentivo à atividade comercial sustentável.
Ele admitiu problemas com as licenças ambientais, atribuídos a lapsos.
Hoje, ele não quis dar entrevista. Pediu para conversar com os advogados dele.
Um deles, Carlos Alberto Miranda, disse que a pousada ainda não recebeu a notificação de embargo, mas a orientação foi para que deixasse de funcionar. Segundo ele, o estabelecimento pertence à esposa de Zadhi, Rosaura Dittmar Duarte.
O advogado disse que a decisão de não receber mais hóspedes foi tomada na semana passada, após uma diligência da Polícia Federal no local.
De acordo com ele, a licença ambiental, obtida junto aos órgãos estaduais, está para ser oficializada. O advogado disse que a falta desse tipo de autorização é uma algo comum aos empreendimentos turísticos na região.
Para ele, a situação envolvendo a família Zahdi é estranha, e está havendo ação “muito incisiva” da Polícia Federal em torno do caso.
O advogado disse que Zadhi recorreu da multa de R$ 297 mil no Ibama, e que ainda não entrou com medida judicial para liberar os animais apreendidos no próprio criadouro.
Embora o Ibama tenha dito que o criadouro está legal, o advogado afirmou que, com os animais apreendidos, a atividade está parada.
A PF não comenta o inquérito sobre o caso nem fala em prazo de conclusão.