PF apura se funcionário do Ibama que cria jacarés se aproveitou do cargo
O inquérito aberto após Gerson Zahdi ser preso também investiga se ele vendia carne do réptil ilegalmente
A Polícia Federal quer saber se o criador de jacarés e funcionário do Ibama Gerson Bueno Zahdi, 64 anos, foi, de alguma forma, beneficiado em sua atividade comercial por sua condição de funcionário de carreira do instituto.
Na quarta-feira passada, ele foi preso, junto com a esposa e a filha, acusado de crime ambiental, e um inquérito foi aberto a respeito, com previsão de conclusão em 30 dias. Os três conseguiram liberdade após pagar fiança de R$ 27 mil.
Outra suspeita investigada pela PF é se Gerson estava vendendo carne de jacarés para restaurantes de Campo Grande sem autorização ambiental nem sanitária.
Zahdi, a esposa Rosa Dittmar Duarte, e a filha, A.K.B.Z., foram presos sob acusação de transporte ilegal de carne de jacaré e de animais abatidos. Foram acusados, ainda, de manter, em Miranda, um rebanho de mais de 3,4 mil jacarés sem licença ambiental válida.
O criadouro era, até então, considerado referência e conhecido como o único com autorização do Ibama no Estado. Até esse fato causou estranheza nos policiais federais, considerando que em outros estados, como Mato Grosso, o número de criadores de jacarés é maior.
O órgão informou que a licença do criadouro está válida e, por outro lado, confirmou que Zadhi não tinha a autorização para o transporte da carne e dos animais encontrados por policiais federais em uma abordagem de rotina na BR-262, próximo a Terenos. Ele só pode criar os animais para venda da pele e consumo próprio da carne.
A pedido da PF, o Ibama vai fazer esta semana uma fiscalização no criadouro de jacarés. A partir dela, poderá decidir, também, eventuais punições administrativas, entre elas multas e até interdição. Por enquanto, os animais estão apreendidos, tendo Gerson Zahdi como fiel depositário.
Muitas questões- O delegado responsável pelo inquérito, Mário Nomoto, afirmou que há muitas interrogações a respeito da atividade de Gerson Zadhi e da família, a serem respondidas com o andamento do inquérito.
Segundo ele, Gerson admitiu que não tinha a licença para transporte dos produtos apreendidos com a filha dela na estrada e apresentou uma licença de operação do criadouro já vencida. Os policiais também checaram no site do Ibama se ele tinha autorização para criar os animais e o CPF dele indicou que o cadastro no órgão ambiental estava vencido.
Sobre isso, a informação dada pelo Ibama é de que o cadastro vencido não invalida a autorização para criação dos animais. O delegado explicou que, como o assunto é complexo, foi aberto o inquérito que vai esclarecer o assunto.
Em relação à atuação de Gerson no Ibama, ele disse que uma das informações essenciais é saber o criador de jacarés atuou na área que autoriza esse tipo de atividade ou se foi beneficiado por colegas. Outra questão, de acordo com o delegado, é saber se a atividade comercial desenvolvida pelo funcionário do Ibama é compatível com a função pública.
Zahdi hoje é lotado no gabinete da superintendência do Ibama, mas já atuou no setor de fauna, justamente o que faz as vistorias e autorizações para atividades comerciais com animais. Atualmente, ele está em licença médica, para tratamento psiquiátrico.
Na semana passada, em entrevista ao Campo Grande News, disse que estava deprimido e envergonhado com a situação e negou qualquer irregularidade no criadouro de jacarés, atribuindo a falta da licença a um “lapso”. De acordo com ele, a carne dos animais é consumida na fazenda onde eles são criados.