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Meio Ambiente

Rodovias no Cerrado de MS espantam mamíferos de seus habitats

Cerca de metade do Cerrado já foi destruída pelo desmatamento e pela expansão agrícola, diz estudo da USP

Por Lucas Mamédio | 16/12/2024 15:57
Lobo-guará é atropelado em uma das rodovias do estudo (Foto: Reprodução da pesquisa)
Lobo-guará é atropelado em uma das rodovias do estudo (Foto: Reprodução da pesquisa)

Cerca de metade do bioma Cerrado já foi destruída pelo desmatamento e pela expansão agrícola, e o que resta de vegetação nativa está fragmentado por pastos, monoculturas e rodovias. É o que aponta um estudo recente, conduzido por pesquisadores da USP e publicado na revista Animal Conservation, que analisou os efeitos dessas mudanças na paisagem, especialmente a proximidade das rodovias, sobre a fauna do Cerrado no sudeste de Mato Grosso do Sul.

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Um estudo da USP revela que a fragmentação do Cerrado, causada pelo desmatamento e pela expansão agrícola, afeta a abundância de sua fauna. A pesquisa, focada em 12 espécies de mamíferos no Mato Grosso do Sul, demonstrou que a redução da qualidade e conectividade do habitat impacta negativamente a maioria das espécies, exceto a anta e o tamanduá-mirim. A proximidade de rodovias influenciou apenas três espécies, com o cachorro-do-mato apresentando maior abundância próximo a elas, contrariando as expectativas. O estudo destaca a necessidade de mitigar os impactos das rodovias com medidas como cercas e passagens de fauna, além da restauração da vegetação nativa para melhorar a conectividade do habitat e conservar a biodiversidade do Cerrado.

O estudo focou em 12 espécies de mamíferos e investigou como a qualidade e a conectividade do hábitat, bem como a proximidade das rodovias MS-040 e BR-267, influenciam a abundância dessas espécies. “A redução da qualidade e conectividade do hábitat teve impacto na diminuição da abundância das espécies”, afirma Vinicius Alberici, primeiro autor do estudo.

Para a maioria das espécies analisadas, essas variáveis foram determinantes, com exceção da anta e do tamanduá-mirim, que não apresentaram alterações significativas em suas populações.

A proximidade das rodovias afetou a abundância de apenas três das 12 espécies estudadas: tamanduá-bandeira, capivara e cachorro-do-mato. Curiosamente, o cachorro-do-mato mostrou maior abundância próximo às rodovias, contrariando a expectativa dos pesquisadores.

“Esperávamos que todas as espécies com altas taxas de atropelamento fossem fortemente impactadas”, explica Adriano Garcia Chiarello, coordenador da pesquisa.

Áreas estudadas no estado de Mato Grosso do Sul. A paisagem agrícola nas duas rodovias (a estadual MS-040 e a federal BR-27) é bastante similar (Foto: Reprodução do artigo)
Áreas estudadas no estado de Mato Grosso do Sul. A paisagem agrícola nas duas rodovias (a estadual MS-040 e a federal BR-27) é bastante similar (Foto: Reprodução do artigo)
Tatu-canastra flagrado pelas câmeras da pesquisa (Foto: Reprodução da pesquisa)
Tatu-canastra flagrado pelas câmeras da pesquisa (Foto: Reprodução da pesquisa)

Entre as 12 espécies analisadas, cinco estão ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira e a anta. Os dados foram coletados por câmeras fotográficas distribuídas ao longo das rodovias e em áreas de vegetação nativa, considerando um gradiente de distância de até 10 km das rodovias.

As rodovias e o tráfego de veículos representam uma ameaça direta à fauna, especialmente por aumentar o risco de atropelamentos. A pesquisa destaca a importância de mitigar esses impactos, recomendando a implementação de cercas e passagens de fauna. “Espécies como o tamanduá-bandeira se beneficiariam de medidas específicas, como redução da velocidade e cercamento de trechos críticos”, aponta Chiarello.

O estudo também sugere que a restauração da vegetação nativa nas propriedades rurais pode melhorar a conectividade do hábitat e contribuir para a conservação da fauna local.

“A manutenção de áreas de preservação permanente é essencial para a sobrevivência das espécies no Cerrado”, conclui Chiarello. Os resultados indicam que, com manejo adequado, as paisagens agrícolas podem ser compatíveis com a conservação da biodiversidade.

Vinicius Alberici instalando uma das câmeras na área de estudo (Foto: Arquivo Pessoal)
Vinicius Alberici instalando uma das câmeras na área de estudo (Foto: Arquivo Pessoal)

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