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Meio Ambiente

Temporada recorde de chuvas em Campo Grande prejudica hortifrútis

Trabalhadores relatam dificuldades e prejuízos de até R$ 30 mil por mês, por conta dos efeitos climáticos

Guilherme Correia | 16/03/2023 15:20
Trabalhador de horta urbana em Campo Grande exibe plantação de alface. (Foto: Henrique Kawaminami)
Trabalhador de horta urbana em Campo Grande exibe plantação de alface. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com o período recorde de chuvas em Campo Grande, trabalhadores de hortifrútis têm relatado série de dificuldades causadas pelos efeitos climáticos. Em estabelecimentos ouvidos pela reportagem, a dificuldade no processo de plantação já provocou prejuízo financeiro de até R$ 30 mil.

Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), analisados pelo Campo Grande News, a parcial de chuvas registradas entre 1º de janeiro e 15 de março, em 2023, é a maior desde 2010, conforme estação meteorológica de Campo Grande.

O acumulado de precipitações neste período é também o sétimo maior desde o início da medição do órgão, em 1961.

No Bairro Tiradentes, Hortifrúti estima prejuízo de R$ 30 mil, em um mês, em decorrência da situação. Um dos funcionários, Liniker Aquino, de 32 anos, observa que há chuvas mais fortes, com ventos e gotas grossas, que acabam impactando diretamente nas plantações. “Essa chuva forte acaba com a horta, não tem como plantar. Há outras leves e contínuas que não atrapalham tanto”.

Segundo ele, neste mês, chegaram a ficar uma semana sem conseguir plantar nada, o que gerou o prejuízo. Antes disso, já tinham ficado um intervalo de 20 dias. Por conta do tempo nublado, verduras como as alfaces se adaptam, criando caules mais longos, e estragam mais facilmente. “O caule cresce para tentar pegar sol e a alface fica pior, perdemos muitas”.

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No caso da alface-americana, com essas muitas chuvas, os pés ficam úmidos e quando vem o sol, acaba ‘cozinhando’ as folhas. As alfaces que durariam para uma semana acabaram em dois dias, porque o plantio não rendeu”, explica Liniker Aquino.

A água também se acumula  na terra, dificultando o crescimento e impedindo a ação dos adubos. “Quando chove, a terra fica úmida, nós plantamos e o broto não consegue respirar. Então precisamos fazer um trabalho de afofar a terra, com madeiras, para colocar a plantinha e ela absorver o adubo. O problema é que com as fortes chuvas, acaba-se lavando este adubo”.

Ele comenta que um saco de 50 quilos custa em torno de R$ 250 e poderia ser usado por duas semanas. Contudo, com as chuvas, a proporção fica incerta. “Tem que racionar, se você joga bastante, tem o risco de perder todo o saco de adubo. Tem que medir para não ter mais prejuízo”, explica Liniker.

“Na semana passada, olhei a previsão no Google, estava com baixas chances de chuva, e usei quase um saco de adubo. Quando choveu, perdi tudo”.

Início de plantação de alface no hortifrúti na Rua Oceania, no Bairro Tiradentes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Início de plantação de alface no hortifrúti na Rua Oceania, no Bairro Tiradentes. (Foto: Henrique Kawaminami)

Expectativa - “Neste ano, o clima está diferente. Geralmente depois de fevereiro, a gente já estaria com mais mercadorias, mas já temos prejuízos de chuvas desde novembro”, relata Liniker. Segundo ele, neste mês, já era esperado o lucro com a horta, o que não veio até agora.

Por se tratar de um local alugado, os funcionários avaliam não compensar realizar a instalação de coberturas, por exemplo. Além disso, comprar verduras do Ceasa (Central de Abastecimento) também está fora de cogitação, já que o lucro é praticamente nulo.

“A alface envelhece com as chuvas e, dependendo, as rúculas também rasgam. A couve dá para plantar, mas leva três meses, então nem plantamos, por medo de perder tudo. Um vizinho parou de plantar folhas e está só plantando berinjela e quiabo, que são mais resistentes”.

Tempo nublado e chuva faz com que alface "queime". (Foto: Henrique Kawaminami)
Tempo nublado e chuva faz com que alface "queime". (Foto: Henrique Kawaminami)

No mesmo bairro, na Rua Nicomédes Vieira de Rezende, Sérgio Aparecido de Souza, de 47 anos, trabalha há oito anos no ramo, onde planta alface, rúcula, cheiro-verde, hortelã, agrião e chicória. Ele explica que a Quitanda e Horta do Sérgio vive situação semelhante. “Eu nunca tinha pego um ano assim”, comenta.

“É a primeira vez em que pego uma temporada de chuvas sem parar e sem dar chances da gente ganhar dinheiro”, lamenta o proprietário, que aumentou o preço da alface de R$ 5 para R$ 7 o pé.

Segundo Sérgio, a chuva alaga as plantações e apodrece as raízes, além de “lavar” o adubo. Se continuar a chover desta forma, ele estuda colocar uma cobertura com sombrite em cima da plantação, ou uma lona transparente.

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A terra apodrece e a produção de alface fica escassa”, descreve Sérgio Aparecido de Souza.

O proprietário relata que muitas verduras vêm de municípios de São Paulo para Campo Grande, para abastecer os estabelecimentos da Capital, mas que a produção local tem sofrido. “Isso acontece porque o pessoal que lá tem o apoio das prefeituras, aqui não temos. Nem com os prejuízos e nem para implementar outras estruturas”.

“Desde o começo do ano, tive um prejuízo de uns R$ 15 mil. Você vai trabalhar na terra e não tem como, porque ela fica encharcada. O bom é que tenho funcionários que estão tentando me ajudar, batendo a terra, mas ainda assim, ficamos na aflição. Todos os dias, olho a previsão do tempo para ver se melhora", finaliza.

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Processo de manutenção da terra sendo feito para evitar mais danos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Processo de manutenção da terra sendo feito para evitar mais danos. (Foto: Henrique Kawaminami)
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