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Na Íntegra

Falar sobre suicídio é antiestigma que previne casos, defende psicóloga

Podcast Na Íntegra explora tema da campanha Setembro Amarelo

Por Caroline Maldonado | 06/09/2024 08:24

Jornalista há 32 anos, a diretora de Jornalismo do Campo Grande News, Ângela Kempfer, lembra que aprendeu na faculdade a nunca noticiar suicídios, tampouco fazer reportagens sobre o tema. De lá para cá, muita coisa mudou e completa 10 anos da maior campanha antiestigma do mundo, Setembro Amarelo, criada pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) para prevenir o suicídio. A comunidade médica chegou à conclusão que devemos falar sobre isso. Ainda assim, leitores e até colegas jornalistas comentam, vez ou outra, que o jornal não deveria falar disso.

O podcast Na Íntegra trouxe nesta semana a psicóloga e colunista do jornal, Lia Rodrigues Alcaraz, especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica, que fala sobre a importância de falar sobre o suicídio justamente como forma de prevenção.

“Era um tabu. O argumento era que se o jornalista escrevesse sobre suicídio, isso geraria uma reação em cadeia e várias outras pessoas se matariam”, lembra Ângela.

A psicóloga explica que falar sobre a morte já era algo difícil por uma questão cultural, por isso pensava-se que falar de suicídio também seria ruim, além de que poderia estimular alguém com ideias suicidas, mas não há evidências científicas de que as pessoas podem cometer suicídio porque viram uma notícia sobre isso ou porque alguém falou algo relacionado.

Pelo contrário, os especialistas viram que é necessário falar do tema, lógico, não de qualquer forma, mas no sentido de mostrar às pessoas que há formas de buscar ajuda e a vida sempre será a melhor escolha.

“Conforme a gente não fala sobre isso, a gente deixa de debater sobre a saúde mental, alertar, falar sobre a prevenção, falar quais são os caminhos, porque o que a gente mais viu ao longo dos séculos é ‘aconteceu isso e a pessoa estava do meu lado e eu não sabia o que estava se passando com ela. Ela não se abriu comigo, não falou'”, destaca Lia.


Os relatos de pessoas que conviveram com quem cometeu suicídio deixam evidente que a falta de falar sobre as dores, as tristezas, os medos e qualquer sentimento e emoção que atormenta, tornam mais difícil perceber que alguém precisa de ajuda e, consequentemente, ajudá-la a sair da rota do suicídio.

Lia fala também sobre a atenção que devemos dar às crianças quando expressam suas emoções de alguma forma, seja relatando um sentimento ou até se ferindo fisicamente. A psicóloga explica, ainda, a relação entre a cultura e a incidência de suicídio de homens e mulheres.

Durante o podcast, Lia fala sobre o luto de pessoas que conviveram com quem cometeu suicídio. “Assim como quando você perde um membro e você tem que aprender a viver sem aquele membro, o luto é a mesma coisa, você perde e aí você tem que aprender a viver sem aquilo”, diz.


Setembro Amarelo - Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda!”. A campanha é desenvolvida em parceria como CFM (Conselho Federal de Medicina) e parceiros no Brasil inteiro.

Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde) são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar os episódios subnotificados. Estima-se mais de 1 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.

Clique aqui para visitar o portal da campanha Setembro Amarelo e todos os materiais para divulgação.

A campanha tem ainda a Cartilha Suicídio Informando para Prevenir que traz mitos relacionados ao assunto e diversas orientações para quem quer entender mais sobre o tema.

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