ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SEGUNDA  01    CAMPO GRANDE 14º

Na Íntegra

Reeleições sem fim na FFMS são marca de futebol "fora da lei", diz ex-dirigente

Em entrevista ao podcast Na Íntegra, Paulo Telles afirmou que Federação sempre fez "pouco caso" de times de MS

Por Jhefferson Gamarra e Glaura Villalba | 04/06/2024 17:10
Ex-presidente do Cene, Paulo Telles em entrevista ao podcast Na Íntegra (Imagem: Campo Grande News)
Ex-presidente do Cene, Paulo Telles em entrevista ao podcast Na Íntegra (Imagem: Campo Grande News)

Em meio a incertezas e discussões sobre o futuro da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), após a prisão do presidente Francisco Cezário, que esteve à frente da entidade por 26 anos, o podcast Na Íntegra do Campo Grande News recebeu Paulo Telles, ex-presidente do Cene, para discutir os problemas enfrentados pelo futebol sul-mato-grossense nos últimos anos. Telles, que atualmente trabalha como advogado, também criticou a nomeação de Estevão Petrallás como presidente interino da federação, classificando-a como uma "traição".

O “último adversário” de Cezário na presidência da FFMS, cuja candidatura foi impugnada pela comissão eleitoral, relatou o abandono sentido no futebol sul-mato-grossense desde a era de ouro do Cene, o Furacão Amarelo. Segundo Telles, faltou apoio da federação para competições nacionais.

“Nunca teve tempo, nunca podia. Nós sentíamos abandonados, para dizer o português. Iriamos [disputar campeonatos] com as nossas forças, porque não tinha a ajuda que hoje tem, a realidade do futebol hoje é bem diferente de quando eu fui presidente, o time tinha que se capitalizar para se custear, hoje existe um custeamento, então é mais confortável e menos oneroso”, lembrou Telles.

Sobre a nomeação de Estevão Petrallás, ex-presidente do Operário Futebol Clube, como presidente interino da federação pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Telles disse que a decisão causou surpresa e indignação entre os presidentes de clubes de Mato Grosso do Sul. Segundo ele, enquanto os clubes estavam reunidos para encontrar uma solução para os rumos da federação, Petrallás estava na CBF articulando sua própria nomeação.

“Os clubes estavam reunidos para discutir uma situação e ele estava na CBF tentando uma situação que deu êxito. Isso não pegou bem para os clubes que estavam reunidos, pegou todo mundo de surpresa. Penso que, se o Estevão tivesse comunicado ao pessoal, ou a uma grande maioria, avisando: ‘pessoal, estou no Rio de Janeiro, vou falar com o presidente da CBF e me colocar à disposição. O que vocês acham? Concordam ou não concordam?’. Acho que todos os clubes naquele momento concordariam porque o futebol estava largado e precisava de um rumo”, ressaltou Telles, avaliando a atitude de Petrallás como uma traição.

Na edição do programa, foram abordados diversos temas relacionados ao fraco desempenho do futebol sul-mato-grossense, considerado o terceiro pior de todo o Brasil. O episódio completo pode ser assistido no podcast Na Íntegra: Reeleições consecutivas na Federação são a marca de um futebol "fora da lei"

Operação Cartão Vermelho

Para recapitular, no dia 21 de maio, o Gaeco prendeu Francisco Cezário de Oliveira por suspeita de comandar um esquema para desviar milhões da FFMS. A casa do presidente, um imóvel de alto padrão localizado na Vila Taveirópolis, em Campo Grande, foi vasculhada, e agentes apreenderam uma grande quantia em espécie. Como Cezário é advogado com registro ativo, o trabalho do Gaeco foi acompanhado por representantes da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados da Seccional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), e ele foi levado para uma cela especial no Presídio Militar Estadual.

De acordo com o Gaeco, braço do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, a operação desbaratou uma organização criminosa voltada à prática de peculato, estelionato, falsidade documental, lavagem de dinheiro e delitos correlatos. Em 20 meses de investigação, constatou-se que um grupo desviava valores provenientes do Estado (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em benefício próprio e de terceiros.

“Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol, em valores não superiores a R$ 5 mil, para não alertar os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema”, informou o MP em nota divulgada no dia da operação.

Nessa modalidade, o grupo realizou mais de 1.200 saques, totalizando mais de R$ 3 milhões. A organização criminosa também desviava diárias de hotéis pagos pelo Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. O esquema de peculato incluía um sistema de "cashback", uma devolução criminosa de valores. No total, os valores desviados da FFMS, entre setembro de 2018 e fevereiro de 2023, superaram R$ 6 milhões.

No dia 27 de maio, Cezário recebeu o "cartão vermelho" da CBF, que nomeou Estevão Petrallás, ex-presidente do Operário, como interventor por 90 dias.


Nos siga no Google Notícias