Adriane manda recado a machistas e pensa na cidade para futuras gerações
“Mulher também pode. Não vou ser bonequinha de fantoche”, afirma a atual vice-prefeita
Adriane Lopes (Patriotas), 45 anos, vive a expectativa de se tornar, a partir de 2 de abril, a segunda mulher a figurar na galeria que exibe os prefeitos de Campo Grande nos últimos 123 anos. Até então, a única mulher presente nessa linha do tempo, entre 1899 e 2022, é Nelly Bacha, que assumiu interinamente o poder por três meses em 1983, quando era presidente da Câmara.
Trinta e oito anos depois, Adriane será a primeira prefeita da Capital eleita por voto popular. “Mulher também pode. Não vou ser bonequinha de fantoche”, afirma a atual vice-prefeita. As declarações contundentes são para afastar o fantasma do machismo e a insistente desconfiança de que mulheres não têm capacidade para o topo do poder.
“Uma das maiores dificuldade é abrir espaço. Nós sofremos violência política. Geralmente, muitos acham que por ser mulher, nós não estamos preparadas. Todos os dias temos que provar a nossa capacidade. Isso é um desgaste muito grande, mas eu já me acostumei, sou muito resiliente. Campo Grande é muita conservadora, mas nós não tivemos ainda uma prefeita eleita. Como é que a gente pode julgar antes de ter vivido a experiência?”, diz a futura prefeita.
Natural de Grandes Rios, ela rememora que a política marcou a infância na cidade do interior do Paraná. Os avós, materno e paterno, não disputavam o pleito, mas decidiam a eleição no município. “O lado que os meus dois avôs pendiam sempre ganhava a eleição. Eram fundadores da cidade, uma cidade bem pequeninha. Cresci observando isso. Talvez, foi o que tenha nos impulsionado a fazer diferença.”
Machismo - Formada em Direito e Teologia e com pós-graduação em Administração Pública e Gerência de Cidades, Adriane ouve até que o fato de ser casada com o deputado estadual Lídio Lopes (Patriotas), um político mais experiente, faria dele o verdadeiro gestor da cidade.
“Meu esposo é auditor de contas há 35 anos. Está no terceiro mandato de deputado e foi vereador em Campo Grande. Eu ouço isso e acredito que já é uma questão de gênero também. Só porque o meu esposo tem mais experiência, isso é sobre ele. Não é sobre a minha pessoa. Eu acredito que esse é um posicionamento bem machista e uma questão de gênero. Já estão me discriminando por se mulher quando dizem isso. Nós temos um histórico paternalista e machista na política.”
O discurso da futura prefeita é marcado pela palavra continuidade. Se a última vez que o vice assumiu a cadeira de prefeito foi na turbulenta transição Alcides Bernal (cassado) e Gilmar Olarte (preso), a sucessão agora é pacífica. Enquanto Marquinhos Trad (PSD) vai disputar o governo do Estado, Adriane planeja manter a estrutura administrativa do primeiro escalão, somente nomeando novos secretários em substituição aos que vão concorrer nas Eleições 2022.
“Meu maior desafio é dar continuidade ao nosso plano de governo, que foi preparado para Campo Grande ouvindo a população. Não foi algo que saiu da minha cabeça, da cabeça do Marquinhos, nem de marqueteiro. Nosso plano de governo foi ouvindo as pessoas e as suas necessidades. A gestão tem que atender aos anseios do cidadão. Com os homens, está a força. Com as mulheres, a sensibilidade. A gente vem buscando meios para efetivar as políticas públicas em todos os setores.”
Marquinhos e Adriane dividem a gestão de Campo Grande há cinco anos. “Tenho formação, mas se não bastasse a formação, estou há cinco anos no Poder Executivo. Conheço a equipe que está aqui e nós não pretendemos fazer mudanças. Vamos substituir apenas aqueles que colocaram seu nome à aprovação popular e que vão pedir para sair”, diz.
De acordo com a vice-prefeita, muitas secretarias já bateram as metas, abrindo espaço para que a sua gestão trace novos objetivos. Por meio de uma ferramenta de avaliação, Adriane tem acesso a painel que mostra a execução das propostas de cada secretaria, num mosaico que ela define como visão dos “bastidores da prefeitura”.
Visão empreendedora - Ela conta que as mulheres na política acabam sendo vistas como atuantes somente na área social. A vice-prefeita, que já liderava iniciativas sociais, teve esse segmento como primeira missão na administração pública, mas logo desdobrou os projetos em outras áreas para que as transformações fossem efetivas.
“Com a nossa visão empreendedora, levamos para dentro da secretaria projetos que capacitam as pessoas e dão a elas uma oportunidade de mudança, oportunidade de ter autonomia. Geralmente, quando você trabalha na área social, a visão é somente de políticas voltadas para o social, você não gera transformação, uma oportunidade de real mudança de vida.”
A caneta de R$ 4,7 bilhões - Quando chegar assumir o cargo de prefeita, Adriane Lopes vai administrar um município com orçamento de R$ 4,7 bilhões. Os planos para 2022 foram traçados em conjunto.
“Aquilo que foi pactuado, acordado, vai acontecer. O nosso maior desafio é que tudo que foi proposto aconteça. Não posso dizer que concordo com 100% do posicionamento do prefeito, mas quando há discordância, a gente tem um diálogo franco e chega num consenso.”
Aos 916 mil habitantes de Campo Grande, a futura prefeita tem uma mensagem que também mira o porvir. “Prometo muito trabalho, dedicação e busca de desenvolvimento. Preparando Campo Grande para o futuro. É nossa missão preparar Campo Grande para as próximas gerações.”