Almoço em Campo Grande selou empréstimo de Bumlai para o PT
Foi em um almoço na residência dele, em Campo Grande, que o pecuarista José Carlos Bumlai assinou, em 2004, contrato de empréstimo de R$ 12 milhões junto ao Banco Schahin para repassar ao caixa dois do Partido dos Trabalhadores. As declarações foram feitas pelo próprio à Polícia Federal na segunda-feira (14), quando mudou versão anterior de que o dinheiro não teria ido para os petistas.
O conteúdo do depoimento de Bumlai aos federais foi relevado nesta terça-feira (15) pelo jornal O Estado de S. Paulo. O pecuarista falou por seis horas e meia à Polícia Federal na tarde anterior.
Bumlai conta que foi procurado, em outubro de 2004, em São Paulo (SP), pelo então presidente do banco Schahin, Sandro Tordin, e pessoas ligadas ao PT, entre elas Delúbio Soares. O empréstimo, no entanto, não foi fechado naquela ocasião, mas a conversa já foi de que o dinheiro iria para o PT, de acordo com a confissão.
O pecuarista disse que “se sentia constrangido em negar” a realização do empréstimo, “ainda mais porque os destinatários reais da operação garantiram-lhe” que ele seria quitado rapidamente. Bumlai lembrou que, à época, o PT “possuía muita força no cenário nacional” e por isso não pretendia se indispor com seus representantes.
Dias após a reunião na capital paulista, Sandro Tordin foi “sem comunicar” até a casa de Bumlai, em Campo Grande, já com a documentação em mãos para fechar o empréstimo de R$ 12 milhões. “Durante o almoço, Sandro puxou o interrogando de lado e lhe disse que não achava que o dinheiro deveria transitar para os beneficiários finais do empréstimo diretamente da conta dele”, contou o pecuarista à PF.
Bumlai disse não saber para quem o dinheiro foi repassado, alegando que a lista de beneficiários foi encaminhada diretamente por Tordin ao setor financeiro do Frigorífico Bertin, de Natalino Bertin. Amigo do pecuarista, que, segundo ele, emprestou uma conta bancária para efetivar a transação com o Schahin.
Amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai está preso desde o dia 24 de novembro, em Curitiba (PR), onde está o QG da Operação Lava-Jato, sobre corrupção na Petrobras. Na confissão à PF, o pecuarista cita Delúbio Soares e João Vaccari Neto como envolvidos no negócio com o Schahin.
Segundo Bumlai, os R$ 12 milhões foram usados pelo PT para pagar dívidas de campanhas eleitorais. O empréstimo nunca foi quitado, e teria sido uma ‘troca de favores’ para o grupo Schahin, que anos depois conseguiu um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras para fornecimento e operação de navios-sonda.
No depoimento de segunda-feira, Bumlai negou que tivesse atuado junto à Petrobras em favor do grupo Schahin, bem como confirmou que a quitação do empréstimo, por meio de embriões de gado, foi fraudada. Na versão inicial, ele disse que o dinheiro seria para compra de uma fazenda.