Amaducci defende ampliar programas sociais e orçamento participativo
Petista não hesita em defender Lula e conta como foi sua entrada para a política, inspirado em Dorcelina Forlador
Ex-prefeito de Mundo Novo, formado em história e professor, Humberto Amaducci, de 51 anos, é o candidato do PT (Partido dos Trabalhadores) ao Governo de Mato Grosso do Sul.
Com discurso pautado na valorização do servidor, da classe trabalhadora, do pequeno produtor e empresário, Amaducci diz que uma de suas principais bandeiras é redistribuição dos recursos do Estado.
O candidato afirma que se eleito, quer promover debates antes de definir como aplicar recursos, o que ele chama de orçamento participativo e pretende reforçar os investimentos em programas sociais.
O candidato revela ter como inspiração uma das mais conhecidas lideranças do PT em Mato Grosso do Sul, Dorcelina Forlador – prefeita de Mundo Novo, cidade na faixa de fronteira que Amaducci também governou. Ligada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), ela foi assassinada em 1999.
Com as propostas e palavras do petista, o Campo Grande News termina neste sábado a rodas de entrevistas com os que estão na disputa pela vaga no Executivo estadual. A ordem de divulgação das entrevistas foi definida por sorteio.
Confira o que Amaducci falou sobre segurança, serviço público e educação:
“Critica-se muito o Bolsa Família, mas e as bolsas juiz? É uma coisa um tanto desigual”.
No seu programa o senhor fala em transformar em políticas de Estado programas sociais. Essa é uma das principais críticas que se tem contra o PT: “dar o peixe, mas não ensinar a pescar”. Quais os caminhos para a autonomia de médio e longo prazo para essas pessoas? Como prestar assistência social e garantir a independência dessas famílias?
Na realidade, há uma interpretação equivocada sobre os programas sociais. Quando surgiu a ideia dos programas sociais, eu me recordo muito bem, quando o Lula assumiu, uma das falas muito importantes dele era que o povo mais humilde, mais pobre pudesse ter ao menos três refeições durante o dia. Programa social é medida emergencial. Quando você institui um programa social são para aquelas famílias que vivem uma situação muito difícil. Às vezes o pai e a mãe não têm condições, às vezes nem de trabalhar, e têm dois, três, quatro filhos. Então, os programas são para estender a mão para essas crianças que estão vindo, que estão surgindo e também precisam ter prazo. Se o pai e a mãe têm condições de se reabilitar, de fazer um curso, a gente pode trazer eles para dentro da economia solidária, poder trazer ele para o mercado de trabalho. Na nossa avaliação, a importância desses programas sociais é que você pega essas crianças e tem um acompanhamento da vacinação, desenvolvimento escolar, quando o programa é tratado com seriedade. Na nossa autocrítica que temos que pensar e fazer é que muitas vezes o governo federal, os governos instituiu o programa e caiu muitas vezes na mão de pessoas que não tinham compromisso. Mas, nós tivemos exemplos de muitas famílias que chegou um ponto de procurar a gente e devolver o cartão de bolsa escola, dizendo que já estou trabalhando agora não preciso mais desse programa. Então, é um começo de atendimento. A partir do momento que você tira a família da miserabilidade para trabalhar, para a economia solidária, que você mantém essas crianças dentro do atendimento de saúde, tendo acompanhamento escolar eu acredito que é importante, fundamental. Critica-se muito o Bolsa Família, mas e as bolsas juiz? É uma coisa um tanto desigual. É um debate importante para fazer.
O senhor falou dos programas sociais, que é uma defesa histórica do Partido dos Trabalhadores e o PT hoje é um dos lados nessa polarização do país que se divide entre “bolsomitos” e “lulistas”. Até onde isso tem atingido sua campanha? O senhor também não é um candidato muito conhecido em Campo Grande, veio do interior, da região sul. A defesa do ex-presidente, que também está muito presente em todos os discursos e programas regionais e no Estado que o perfil do eleitor historicamente tendeu para o lado mais conservador, esse é o maior obstáculo para o senhor hoje na sua campanha?
Não, eu sempre fui petista. Me filiei ao Partido dos Trabalhadores na minha juventude e a gente sempre acreditou nos bons projetos e boas propostas do nosso partido. Aprendi muito com a Dorcelina Folador, porque eu entrei na política por ela me convidando para ser candidato a vereador e depois para coordenar o orçamento participativo. Tivemos um convívio muito próximo, ideias e pensamentos, a gente conversava muito e no meio político precisamos ter autenticidade, não se pode enganar o eleitor e eu não poderia sair lá de Mundo Novo para vir aqui querer enganar vocês. Querer dizer que não sou Lula, não sou do PT. Eu não, eu assumo a minha história, a minha origem e com muito orgulho. O Lula esteve três vezes em Mundo Novo, esteve lá em 1996, no lançamento da campanha da Dorcelina e já acreditava nela. Ele (o Lula) passou frio em Mundo Novo, foi por volta do mês de maio, mesmo assim ele foi lá e fez o lançamento em praça pública. Depois ele esteve em 1998, na pré-campanha do Zeca e deu apoio para o candidato. Infelizmente, ele também esteve no velório da Dorcelina. Ele é uma figura que mostra liderança nossa no partido, não aquele tipo de liderança distante, que a militância não tem acesso. Muito pelo contrário, o Lula nas nossas ações, por onde a gente vai e caminha estando presente, ele nos cumprimenta e nos reconhece, uma liderança popular e de base popular. É importante deixar claro e assumir para a população de Mato Grosso do Sul que você pode até não gostar do Lula, não gostar do PT, mas se você tem o mínimo de senso de justiça vai perceber o que está acontecendo com o homem e com a pessoa do Lula, não está correto. Uma grande liderança a nível mundial, o mundo enxerga, a ONU já declarou que o Lula realmente tem direito de ser candidato e na nossa avaliação é isso, quem tem direito de dizer que ele pode ser presidente ou não, é o povo brasileiro. Estamos vivendo em um momento muito estranho, muito difícil também na classe politica como um todo. Eu governei o município de Mundo Novo por três mandatos, cometemos erros, tivemos falhas, mas nunca desviamos 1 centavo daquela prefeitura para beneficio próprio. Então, essa questão da corrupção é um bom debate que eu não tenho dificuldade nenhum em fazer com outras pessoas.
Uma grande questão que se discute, inclusive quando os candidatos vêm para cá, é a segurança na fronteira. Onde o governo federal poderia intervir e ajudar fundamentalmente Mato Grosso do Sul? Na segurança pública, o senhor fala abertura de plano de cooperação com países fronteiriços para coibir o crime organizado. Mas se no governo federal isso fica só na esfera do compromisso, como é reforçar a segurança na fronteira e ao mesmo tempo resolver a questão de segurança pública aqui em Campo Grande, no caso tem altos índices de homicídio, furtos, uso de drogas extremamente nociva e como é fazer tudo isso?
Eu sou fronteiriço, nascido e criado na fronteira, vim da cidade de Porã. Quando criança nós fomos para o Paraguai, então fui criado meio brasiguaio até chegarmos a Mundo Novo. É óbvio que essa política é responsabilidade do governo federal, a segurança da fronteira e tudo, mas o Estado tem que estar presente. Tem que reforçar essa parceria, já existem programas a nível federal. Agora, o mais importante na nossa avaliação, é fortalecer essas regiões com investimentos na área da educação, na cultura, no esporte e dar apoio a nossa juventude para que eles não caiam nas garras da criminalidade. Então esse é um desafio muito grande, não conseguimos combater isso na força e do dia para noite. Isso tudo é uma construção, é você investir nas pessoas e cuidar bem das pessoas, o que você consegue fazer é resgatar.
Mas na prática, como o Estado deveria agir?
Nós estivemos em uma audiência pública em Ponta Porã, que tive o prazer em participar como convidado e o governo do Estado estava lá com a sociedade. Para ter uma base, Ponta Porã precisa de ao menos 30 policiais e tem apenas 150. O Estado tem que cumprir com seu papel, fazer sua parte que é promover um concurso público, ter servidores atuando nessa área, oferecer condições de segurança para que eles possam estar atuando. Se um malandro chega na cidade e vê um policiamento ostensivo, com o camburão com combustível para poder estar rodando, logo ele vai embora e não irá permanecer ali. O Estado cumprir a sua parte já é o primeiro passo e investir bem forte também em outros segmentos como geração de empregos, saúde, entre outros. Nós temos uma experiência na cidade de Mundo Novo que é muito próximo ao Paraná, o caminho das águas para passeio turísticos, feito entre o Paraná e Mundo Novo. Temos que resgatar o caminho dos hervais, que é na nossa faixa de fronteira e você vai fortalecer as pessoas que vivem ali gerando emprego e renda, nessa questão do turismo que conta história da guerra do Paraguai, isso resgata culturalmente a nossa história limpa através da fronteira.
O programa que do senhor prevê algum adicional de fronteira para policiais?
Com certeza. Na realidade assim, temos que valorizar o trabalhador como um todo. Você percebe que Mato Grosso do Sul tem defasagem na área da pequena produção, pessoal da Agraer que não tem discussão de política salarial e os professores temos aí metade deles sem concurso, sem um salário bom. Você pega a média salarial dos nossos administrativos [da Educação], a base não passa de R$ 1 mil.
Em relação a essa questão dos servidores, o senhor defende a suspensão do decreto que aumentou a contribuição do servidor público estadual para o regime previdenciário? É um projeto aprovado em meio a polêmicas, criado para dar sustentabilidade ao MS Prev. Como manter a saúde do sistema previdenciário que todos dizem que está em colapso, sem esse acréscimo nas contribuições?
Com transparência e com debate, ouvindo o funcionário público. O que está acontecendo hoje com os governos, a gente percebe as decisões estão sendo tomadas nos gabinetes e vem ingerida a goela abaixo, não temos diálogo. Não tem clareza nas informações, não existe clareza no que se arrecada e onde se gasta, o que é feito com o recurso. Quando a gente fala da participação popular, levo uma bandeira que aprendi quando coordenei o orçamento participativo, que me encanta muito é que as pessoas querem ajudar, elas querem contribuir e fazer com que o governo de certo, independente da bandeira partidária. Nem todo mundo quer estar filiado a partido, mas tem aquele servidor que a bandeira dele é a melhoria para a categoria dele. Então nós temos que ter e fazer os ajustes. Se você faz concurso público e tem mais gente pagando e arrecadando, não vai quebrar.
“Levo uma bandeira que aprendi quando coordenei o orçamento participativo, que me encanta muito é que as pessoas querem ajudar, elas querem contribuir e fazer com que o governo de certo, independente da bandeira partidária”.
O senhor falou antes em relação a fronteira sobre a educação, o seu programa cita imposições obscurantistas na Base Nacional Comum Curricular. O que seria essas imposições e que ajustes seriam esses no governo Amaducci? O senhor pode nos detalhar?
Alguns políticos quererem impor na educação que não haja debates e que as pessoas não pensem, como a questão da mordaça.
Como Escola sem Partido?
Eu sou de escola pública, minha vida inteira eu e minha esposa estudamos em escola pública e temos amigos professores, meus quatro filhos estudaram em escola pública, eu nunca vi ninguém discutir ou falar alguma coisa sobre partido político dentro de uma sala de aula. O que a gente ouve é professor de história contar o que existe e existiu, mas dentro da grade curricular normal. Com certeza, é assustador, propostas que vem querendo podar as pessoas pensarem, a ter aquele momento de debate e discutir.
Suas propostas enfatizam a agricultura familiar baseada nos pequenos produtores, mas Mato Grosso do Sul é um grande produtor de soja, de milho, de cana. Onde os grandes produtores, que são, a base da arrecadação, estão contemplados no seu programa?
Eles precisam de infraestrutura, de estrada, de investimento em ferrovias para agilizar o escoamento da produção, para que eles (produtores) não precisem efetivamente do Estado. Mas, temos vários pequenos produtores aqui no Estado e cada pequeno produtor desses é um empresário. O estado tem de dar um suporte. Com incentivo, ele também estará gerando emprego e renda.
Ainda no campo econômico, existem os incentivos fiscais que privilegiem as grandes geradoras de empregos. Mas, como atrair e incentivar essas empresas em cenário de crise?
O que percebemos é que as vezes os grandes tem incentivos demais e dão pouco retorno. Se você pega o médio empreendedor seja no comércio, na indústria ou na área rural, pequeno ou médio, são os geradores empregos. O que nós temos é de construir essa política de incentivo e exigir como isso a geração de empregos.
Para finalizar, o senhor poderia completar essa frase “Humberto Amaducci vai ficar conhecido como o governador que...”
Trouxe a transparência para o Estado de Mato Grosso do Sul.