Bluma quer transparência, investir em tecnologia e diálogo com poderes
"Precisamos enfrentar também o problema de alguns privilégios na coisa pública e a questão da desigualdade social"
Com o discurso sobre combate à corrupção, defendendo a transparência na gestão como ponto forte de governo, o engenheiro civil Marcelo Bluma, do PV, se coloca como candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul que será capaz de dialogar com os poderes Legislativo e Judiciário, caso eleito, para uma conversa "a três mãos". A entrevista foi concedida ao Campo Grande News, que promoveu uma rodada com os seis postulantes ao cargo de chefe do Executivo estadual.
Bluma já foi vereador de Campo Grande até 2012, quando se candidatou à prefeitura da Capital. Nas eleições de 2016 tentou novamente se eleger como prefeito e agora pleiteia o cargo de chefe do Executivo estadual.
Para ele, as propostas de governo são importantes, porém o essencial é combater a corrupção e enfrentar o "problema de alguns privilégios na coisa pública". Nesta escala, combater, por fim, a desigualdade social.
Na esteira de combate, o candidato do PV afirma que "transparência" deve ser a luz para abrir a caixa preta. "A possibilidade da corrupção diminui". Afirma que, se eleito, será um governador que adotará critérios de transparência, até porque "a pressão sobre os governadores, prefeitos, quando não tem essa transparência passa a ser muito grande".
Como o nome do partido já propõe, Bluma diz que mantém preocupação com a questão ambiental "até para impedir que o negócio ultrapasse os seus limites e crie problemas".
Na segurança, rejeita a ideia de que violência se combate com uso da força, mas sim uso de tecnologia. Usou como exemplo negativo a intervenção do Exército no Rio de Janeiro (RJ) para dizer que a força não vai acabar com o crime organizado. É necessário, em sua visão, fortalecer o serviço de inteligência, melhorar as ferramentas de investigação e tomar a frente do crime para combatê-lo.
Sobre governabilidade, nós vimos na Prefeitura de Campo Grande o caso do Alcides Bernal [ex-prefeito pelo PP], que em virtude da relação com a Câmara Municipal, a gestão acabou inviabilizada. O que o senhor costuma responder em relação a isso?
Acompanhei o processo do Bernal e posso dizer que o problema do Bernal foi ele mesmo. Politica é a arte de governar, e governar significa conversar com todas as forças. O próximo governador é bom que não seja refém, eu não sou, não sou apoiado por nenhum desses grupos políticos que estão ai, não sou apoiado por grupos empresariais.
É preciso que o chefe do Poder Executivo seja um político com habilidade de chamar também o chefe do Poder Judiciário e fazer uma conversa a três mãos, porque os problemas de Mato Grosso do Sul hoje precisam ser enfrentados de forma sistemática.
Agora, debater politicamente com os deputados, entender que eles representam segmentos, representam municípios e regiões do MS e que politicamente o governo pode dar respostas às reivindicações e às necessidades desses políticos. Isso é importante e natural da política.
Eu fui vereador de Campo Grande e me elegi representando a região da saída de Três Lagoas, Tiradentes, Framboiã, Cidade Jardim e Maria Aparecida Pedrossian. E todos os anos eu sentava com o chefe do poder executivo pra votar o orçamento de Campo Grande e não era toma lá da cá, era uma discussão política, eu dizia: prefeito se você precisa do meu voto para aprovar o orçamento inteiro, eu quero dizer pra você o pedaço que eu represento na cidade paga IPTU, ICMS, IPVA e precisa ter uma parte desse dinheiro de volta investidos em obras.
O senhor tem um orçamento muito reduzido em relação aos seus principais concorrentes e vem de um partido que não tem força política no Estado. Mas participar e concorrer de uma eleição como essa é trazer alguns debates. Como candidato, quais debates acha que são essenciais para Mato Grosso do Sul?
A primeira linha é combater a corrupção, não adianta falar de propostas. O que adianta o candidato ter um monte de propostas depois não cumpre? O que nós precisamos ter claro hoje em Mato Grosso do Sul é, ponto um: não dá para aceitar o nível de corrupção na coisa pública porque o dinheiro é nosso, é seu, é meu, é do cidadão, e se a gente aceitar calado essas coisas vão ficar cada vez pior.
Ponto dois: precisamos enfrentar também o problema de alguns privilégios na coisa pública e ponto três enfrentar a desigualdade social, que é um problema nacional e que precisa ser enfrentado em Mato Grosso do Sul, principalmente na prestação de serviços de qualidade para a população.
A sua coligação se coloca como um plano de ruptura em relação ao atual status político nacional e regional. No entanto, nesse grupo há pessoas que já tiveram mandato, o senhor inclusive, que foi vereador. Onde está a diferença no seu grupo?
A diferença está exatamente na participação da política atual ou não. Nessa coligação, esses partidos hoje não participam nem do governo municipal nem do governo estadual, isso significa que esses partidos não fazem parte desses grupos políticos atuais.
Quando você olha, por exemplo, a coligação de Reinaldo Azambuja, aqueles partidos que estão com ele são partidos que participam da política dele. As legendas que estão com o Mochi [Junior Mochi, candidato do MDB] são legendas que participam da política deles. É assim que acontece, mas nós não participamos. Então nós podemos dizer que queremos mudar esses grupos políticos.
Quando o senhor era vereador, não acontecia denúncias na Câmara. Na sequência vieram alguns escândalos como a Coffee Break. Não é estranho o senhor ter entrado num sistema tão doente e passado por isso sem ao menos ter feito algo para combater a corrupção dentro de uma casa como a Câmara Municipal?
Olha, no período que eu estava não me recordo de nenhum escândalo dessa natureza, se aconteceu e se você tiver conhecimento fale agora ou cale-se para sempre...
O que a população espera de alguém que tem um cargo como esse é que, em algum momento, se levante contra isso e a gente não vê dentro da Câmara, nem dentro da Assembleia, nenhum nome que se levante para “cortar” na própria carne.
É uma pena, eu fui o autor, por exemplo, do projeto que acabou com o voto secreto na Câmara Municipal. Eu acho que deu uma transparência incrível.
Eu nunca fui presidente da Câmara e também nunca fui primeiro secretário, exatamente porque não fazia parte do núcleo e do grupo que conduzia os processos. Eu acredito que tenham boas pessoas na Assembleia e na Câmara que não compactuaram, inclusive na época da Coffe Break. Tenho convicção que tinha vereadores que não compactuavam, mas qual é o problema?
Quando você é minoritário no Legislativo, você fica excluído das comissões e da mesa diretora. É um processo extremamente doloroso para quem está ali e não compactua, porque fica na periferia do processo.
Outra coisa que a gente observa é que a imprensa não é democrática como muitas vezes defende, abre espaço para aqueles que estão no poder e não abre espaço para oposição.
Quando se fala em PV a maioria logo pensa em um partido ecológico, o que é um equívoco porque essa ideia já foi rompida. Mesmo assim, gostaria de saber a respeito de economia verde, sobre aproveitar recursos de maneira sustentável. Como unir esses aspectos, a economia e a questão ambiental gerando emprego, renda e desenvolvimento para o Mato Grosso do Sul?
Avançamos muito no Estado, naquilo que a gente chama de agronegócio, que é muito forte aqui. A crítica que nós, do PV, fazemos, é que em todo processo econômico é preciso que exista equilíbrio, por isso a preocupação com a questão ambiental é importante até pra impedir que o negócio ultrapasse os seus limites e crie problemas para a população.
Nós temos alguns potenciais econômicos, com possibilidades de criar muita riqueza para nosso povo com a criação de salários e empregos sustentáveis. Primeiro deles é a indústria do turismo, que é a segunda maior geradora de empregos do mundo. Temos um potencial fabuloso aqui com Bonito, Pantanal, com a fronteira.
Eu costumo dizer que na região de fronteira nós poderíamos contar a história do segundo maior conflito militar das Américas, que é a guerra do Paraguai e transformar isso em riqueza. O mundo faz isso. Você vai aos Estados Unidos e encontra museus, onde se conta a história.
Nós aqui, poderíamos estar contando essa história [do Paraguai]. Toda a cultura paraguaia que influencia a gente na gastronomia, na música, e nós não trabalhamos isso. Eu penso que fortalecer de fato a indústria do turismo poderia dar um ganho muito grande para nós.
Outra questão importante que nós podemos fortalecer em Mato Grosso do Sul é construir aqui um polo gerador de tecnologia, que hoje é a mola propulsora. É a indústria que mais cresce no mundo. Nós mandamos dinheiro para a Califórnia para aquela rapaziada que fez o programa chamado Uber, que fez o programa chamado Facebook, entre inúmeros outros.
Nós vamos ficar vendendo boi e soja até quando? É preciso investir em tecnologia. Vi um programa para ser usado nas escolas, você identifica o aluno e no dia que ele não vai o próprio sistema manda a informação para o pai dele, sensacional! Porque não utilizar as universidades, e claro, o Governo do Estado tem de entrar como parceiro.
O senhor pensa em alguns mecanismos pra que a corrupção deixe de ser um ralo do dinheiro público?
Transparência. O melhor detergente que existe no mundo chama-se luz do sol, quando você abre a caixa preta, estabelece critérios objetivos, a possibilidade da corrupção diminui.
Inclusive quero ser um governador que faça isso porque a pressão sobre os governadores e prefeitos, quando não tem essa transparência, passa a ser muito grande.
Porque ele [governante] vai dizer 'isso aqui eu não posso fazer', eu não posso furar fila, por exemplo, a fila das inscrições para as casas populares, que estará na internet. As pessoas vão saber sua posição quando eu for pressionado para dar uma casa para um 'cupinxa' que está lá na trigésima posição, eu vou dizer eu não posso porque é público.
Em seu projeto para segurança pública, que também é uma questão fundamental em Mato Grosso do Sul, o senhor fala em criar uma superintendência de inteligência ligada diretamente ao gabinete do governador. Como isso funcionaria?
Todo meu programa parte do princípio que nós precisamos fortalecer o uso da tecnologia na administração. Eu quero investir em tecnologia e segurança pública exatamente porque segurança pública se faz investindo em inteligência. Você não combate o crime organizado na força, a intervenção no Rio de Janeiro está mostrando isso. Precisa combater o crime fortalecendo seu serviço de inteligência, melhorando suas ferramentas de investigação, estando à frente do crime organizado para combatê-lo.
É preciso que o Estado também seja protagonista e busque uma integração com a Polícia Rodoviária Federal, com todo o setor de inteligência da Polícia Federal, integrando com a Militar e a Civil.
Como seu governo prevê o uso da tecnologia na educação? É mais do que colocar uma lousa digital dentro da sala de aula?
Com certeza. Inclusive, na minha visão, essas salas de informática com os computadores já está ultrapassada. Talvez esse seja um dos motivos que ajude aumentar a evasão, porque hoje a plataforma é o smartphone com os aplicativos.
No dia que o aluno não vai à aula o pai recebe uma mensagem no Whatsapp dele “olha, seu filho não veio à escola hoje”. Então a possibilidade de usar aplicativos é infinita e muito barato, questão de organização.
No meu escritório, um dos problemas que eu tinha na campanha eleitoral era o desperdício de recurso em várias áreas, uma delas é transporte. Eu fiz o rastreamento dos veículos, baixei o custo pra mais de 70% nas campanhas eleitorais.
Hoje a gente tem um déficit de 75 mil famílias na espera de moradia. O que prevê em relação a essa questão, tem alguma estratégia diferente do que já está colocado?
Quero fazer um grande programa habitacional. É um erro não investir numa politica habitacional forte e eu vou fazer um retorno ao que já aconteceu em Mato Grosso do Sul no passado. A construção civil no Estado caminha com muita dificuldade. Eu conheço profundamente esse setor, você só vê ofertas de apartamentos médios e de alto padrão.
Uma das coisas que deu para o Lula [ex-presidente da República] esse prestígio foi ele entender que quando viabilizou créditos com programas como Minha Casa Minha Vida ele aqueceu a economia. O erro no governo estadual foi não ter trabalhado esse aspecto e eu quero ser um governador bem lembrado por ter feito o maior programa habitacional de Mato Grosso do Sul.