Assessor de deputado apresenta defesa ao STF com ataques à Polícia Federal
Chefe de gabinete de Loester Trutis é acusado de forjar atentado junto com o parlamentar
O chefe de gabinete do deputado federal Loester Trutis (PSL), Ciro Nogueira Fidelis, apresentou ontem (23), ao Supremo Tribunal Federal, defesa no processo em que é acusado de ter forjado o próprio atentado, em 16 de fevereiro de 2020. Fidelis responde por disparo de arma de fogo, dano e comunicação falsa de crime.
Em relação ao parlamentar, o STF não conseguiu notificá-lo até o momento. Trutis havia acertado receber o oficial de justiça dia 15 deste mês em seu gabinete em Brasília, mas não apareceu nem foi mais localizado. A notificação é importante para que o prazo de 15 dias para a defesa do deputado comece a contar (ver aqui).
Em relação ao parlamentar, o STF não conseguiu notificá-lo até o momento. Trutis havia acertado receber o oficial de justiça dia 15 deste mês em seu gabinete em Brasília, mas não apareceu nem foi mais localizado. A notificação é importante para que o prazo de 15 dias para a defesa do deputado comece a contar (ver aqui).
Em 40 páginas, a defesa do assessor Ciro Fidelis não apresentou elementos que possam derrubar as provas colhidas pela Polícia Federal em oito meses de investigação. Fidelis se limitou a desqualificar o trabalho da PF em Mato Grosso do Sul e atacar o delegado responsável pelo caso, Glauber Fonseca de Carvalho Araújo, prática adotada por Trutis em suas redes sociais.
Fidelis se limitou a desqualificar o trabalho da PF em MS e atacar o delegado responsável pelo caso.
A defesa chama a polícia de “incompetente” e acusa o delegado de “perseguição”. Também questiona o fato de a PF ter devolvido o veículo utilizado pelos acusados no dia do suposto atentado “após as primeiras diligências”. No entanto, a própria defesa cita que o carro esteve à disposição dos peritos por mais de três meses, tempo suficiente para a realização da perícia, ou de qualquer outra análise pelas autoridades.
“Em primeira linha de investigação, não foram localizados ou encontrados elementos que confirmassem, nos dizeres do Delegado da investigação, ‘os fatos narrados pelas supostas vítimas’. Dessa forma, passou-se a utilizar uma segunda linha de investigação, da qual, apontou-se os defendentes terem supostamente simulado o atentado, tudo com base na referida investigação direcionada”, ataca o advogado do assessor, Mário Panziera Junior.
Panziera cita dez situações em que, segundo a defesa, mostram que as investigações da PF foram malconduzidas. Entre elas, de que não foi dado conhecimento ao advogado anterior sobre a “modificação da linha de investigação do inquérito policial”; simulação do percurso percorrido pelo denunciado Ciro Nogueira Fidelis, sem observar a total incoerência e diferença entre “pessoas”, horário, localidade, dia, trânsito e o próprio veículo.
Também alega que as investigações não levaram em conta o fato de o deputado ter feito denúncias contra “prefeito, governador, milícias, delegados, políticos e outros”, segundo a defesa, “o que poderia ter motivado a inversão das investigações”, com o deputado passando de vítima a suspeito.
Fidelis trocou a senha do celular após entregar aparelho aos investigadores.
Ciro Fidelis, no entanto, não rebateu a uma das provas mais contundentes que consta do processo. Segundo a PF, o assessor trocou a senha de acesso ao celular, depois de fornecê-las e entregar o aparelho aos investigadores. “De forma absolutamente surpreendente, a senha de acesso a uma das contas já havia sido alterada”, relata o delegado, no inquérito.
A polícia estranhou o fato de o assessor tentar embaraçar as investigações. “Ora, a suposta vítima demonstra atitude dúbia, ou seja, entrega seu aparelho celular e suas contas de e-mail com as respectivas senhas, mas acaba modificando o acesso às mesmas. Essa ação tem a nítida finalidade de impedir o acesso da equipe de investigação aos dados que seriam importantes para a elucidação dos fatos. Esse comportamento causou extrema perplexidade, porquanto, na qualidade de vítima, teria ele, por óbvio, interesse em auxiliar a equipe de investigação”, diz trecho do processo.
Em vários pontos, o advogado antecipa a defesa do deputado, justificando que “Loester Trutis denuncia desvio de recursos públicos mesmo antes de ser deputado”. Conforme dezenas de reportagens publicadas pelo MS em Brasília, Trutis é um dos parlamentares do Estado que mais torram dinheiro público em Brasília. Por vários, meses chegou a usar a verba indenizatória da Câmara dos Deputados para pagar aluguel da casa onde morava com a ex-mulher e os filhos, no Bairro Vilas Boas, em Campo Grande, o que é ilegal (ver aqui).
Provas diversas
O pedido de indiciamento do assessor teve amparo em diversos indícios de que os investigados teriam agido com a finalidade de capitalizar politicamente. “A hipótese investigatória inicial foi testada em seus limites, não tendo surgido qualquer indício de que o alegado atentado contra a vida do parlamentar pudesse ser motivado por causas pessoais, estranhas à função pública por ele exercida”, aponta o inquérito.
Em oito meses, a PF reuniu uma série de provas para derrubar a versão da dupla. São dezenas de laudos técnicos, como de balística, de informática, de localização do veículo por meio do GPS, sobre o trajeto feito pelas supostas vítimas no dia do crime, análises de dezenas de imagens de câmeras de segurança, tanto em Campo Grande quanto na rodovia.
Excluída a linha inicial de investigação, segue o documento, não emergiu qualquer outro elemento indicativo de uma terceira hipótese que pudesse apontar, por exemplo, erro de execução, erro sobre a pessoa, entre outros.
“Ao invés disso, contrariedades e inconsistências da versão inicial dos fatos, assim como a exploração pública do episódio utilizando perfil em rede social para a interlocução com seu eleitorado, levaram à suspeita de que o atentado contra a sua vida pudesse ter sido simulado a fim de promover a capitalização política dos acontecimentos pela ‘vítima’”.