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Política

Até candidatos com patrimônios acima de 1 milhão receberam auxílio emergencial

Dois pleiteam cargo de prefeito, um de vice, e outros seis querem ser vereadores

Guilherme Correia | 15/10/2020 08:51
Disponibilizado para suavizar dificuldades econômicas vindas da pandemia, o auxílio gerou filas enormes quando surgiu no Brasil (Foto: Silas Lima/Arquivo)
Disponibilizado para suavizar dificuldades econômicas vindas da pandemia, o auxílio gerou filas enormes quando surgiu no Brasil (Foto: Silas Lima/Arquivo)

Entre os 1.555 candidatos a cargos políticos em Mato Grosso do Sul com nome inserido no auxílio emergencial, pouco menos da metade (768) tem bens declarados à Justiça Eleitoral. Entre eles, alguns casos chamam atenção - nove candidatos, com nome no benefício, têm patrimônio avaliado em mais de R$ 1 milhão. A maioria (503), contudo, declarou valor inferior a R$ 100 mil.



O administrador Lazaro Alves de Assis (PSDB) declarou pouco mais de R$ 1,2 milhão em bens e recebeu duas parcelas. A reportagem tentou contato com ele, que não retornou as ligações. Ao Campo Grande News, o presidente do diretório municipal diz que o auxílio era para quem deixou de ter renda, e não tinha relação com bens declarados. "Ele [Lazaro] vivia de vender queijo, requeijão e derivados do leite. Ficou um tempo sem poder vender", alega.

Candidato a vereador por Selvíria, o empresário Elio Alves Cavalcente (PSDB), conhecido como "Elio do Mercado", tem patrimônio declarado em R$ 1,67 milhão e CPF consta em três parcelas do auxílio. Ele também não retornou as chamadas feitas desde a manhã de terça. No entanto, por meio de mensagens, disse supor que teve documentos fraudados já que não precisa do auxílio. "Vou imensamente procurar um advogado e tomar as devidas providências (sic)".

Eu agradeço muito ao presidente Jair Bolsonaro por estar liberando esta ajuda a quem precisa de fato. E juro perante a Deus que eu nunca retirei nem um centavo para me beneficiar. Se eu puder ajudar nesta investigação estarei à disposição da Justiça", diz o candidato.

Candidata a vereadora pelo município de Iguatemi, a advogada Raquel Melez Martins (DEM), de 33 anos, tem declarados caderneta de poupança no valor de R$ 1.946,10 e sítio avaliado em impressionantes R$ 1,2 bilhão. Contudo, ela afirma que o valor da propriedade foi registrado errado pelo partido, sendo que o correto seria R$ 1,2 milhão. "Você não sabe a dor de cabeça que me deu, mas já corrigimos. Foi encaminhado ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]".

Mesmo assim, ela tem CPF (Cadastro de Pessoa Física) registrado no banco de dados da CGU (Controladoria Geral da União), com três parcelas do auxílio de R$ 600, nos meses de maio, julho e agosto, e explica à reportagem que se recebeu é porque estava desempregada e "tem como provar". Ela também lamenta que o erro inicial na declaração tenha causado transtorno já que "agora todo mundo tem que saber minha situação financeira, fora o transtorno de ter que ficar explicando minha situação".

Candidato a vereador por Brasilândia, o empresário Jorge Justino Diogo (PSD) declarou pouco mais de R$ 2,1 milhões em bens. Seu CPF consta em recebimento de quatro parcelas do benefício, mas ele afirma que devolveu o dinheiro à União. Ao Campo Grande News, ele relata que teve dificuldades financeiras no início da pandemia. "Dificuldades todos têm, havia sim dificuldade [financeira], porque desde março parou tudo que tinha aqui e não tinha renda [...], em momento algum pedia patrimônio, falava apenas sobre renda".

Preenchi o cadastro como qualquer brasileiro, a primeira parcela veio, mas depois a gente se deu conta e fiz a devolução. Não tem nenhum recurso que tenha entrado e eu não tenha devolvido. Foi um aprendizado", explica o candidato.

Candidato a vereador por Bonito, o comerciante Renan Perin (PSB) declarou R$ 1,63 milhão em bens e quatro parcelas do auxílio. Outro que recebeu dinheiro do auxílio foi o candidato a vereador por Cassilândia, o comerciante Florisvaldo Barbosa Dias (PSL), que declarou R$ 1,537 milhão em bens e recebeu duas parcelas do benefício. Tanto a assessoria jurídica do PSD quanto o candidato do PSL não responderam a reportagem.

Outros três já citados - Reportagem publicada pelo Campo Grande News na semana passada foi atrás dos patrimônios declarados pelos candidatos a prefeito e vice nas cidades de Mato Grosso do Sul. Três deles haviam declarado valor acima de R$ 1 milhão e seus nomes constavam no recebimento do auxílio.

Um deles, candidato a prefeito em Três Lagoas com quase R$ 1,4 milhão em patrimônio, Divino Freitas (Avante) confirmou recebimento de parcelas de julho e agosto devido ao fechamento da própria empresa por dificuldades econômicas geradas pela pandemia. Ele prometeu devolver o dinheiro público.

Candidato à prefeitura de Inocência com patrimônio de aproximadamente R$ 6 milhões, o pecuarista Antonio Angelo Garcia dos Santos, conhecido como Toninho da Cofapi (DEM), também tem nome relacionado na lista mas, conforme Portal da Transparência, devolveu parcelas à União.

Por fim, candidato a vice-prefeito de Bandeirantes, com pouco mais de R$ 2 milhões declarados à Justiça Eleitoral, Dilson Nunes (PDT) é outro registrado no benefício federal com duas parcelas pagas. Ele confirmou recebimento e alegou ter ficado em "situação complicada" devido à crise econômica advinda do novo coronavírus, que influenciou diretamente na produção.

Dados - Levantamento foi feito a partir de cruzamento de dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com os da CGU. Nomes, CPFs, e demais informações sobre cada candidato podem ser conferidos no portal DivulgaCand ou no repositório de dados do Tribunal.

Consultas individuais de quem recebeu benefício podem ser feitas no Portal da Transparência, mas planilhas completas se encontram neste link.

Conforme já apurado, nenhum político eleito em Mato Grosso do Sul tem nome nos registros do auxílio no mês de agosto. Mato Grosso do Sul, até agora, recebeu pouco mais de R$ 2,2 bilhões advindos do auxílio.

(*) matéria atualizada às 9h41 para inserção de respostas de candidatos

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