Delcídio: de ministro e senador líder do Governo a cassado e o 1º a ser preso
Após quase 13 anos e meio representando Mato Grosso do Sul no Senado Federal, Delcídio do Amaral foi cassado por quebra de decoro e abuso das prerrogativas parlamentares. Antes de ser o terceiro senador brasileiro a ser cassado e o primeiro a ser preso durante o exercício do mandato, Delcídio fez carreira no setor energético e chegou ao cargo de ministro nos anos 90.
Nascido em 8 de fevereiro de 1955, em Corumbá - cidade localizada a 419 km de Campo Grande -, Delcídio do Amaral Gómez é engenheiro elétrico formado pela Escola de Engenharia Mauá, no Estado de São Paulo. Na Holanda, foi diretor da Shell, retornando em 1991 ao Brasil para atuar como diretor da Eletrosul, sendo responsável pela operação do sistema elétrico da região.
Depois, Delcídio assumiu o cargo de secretário executivo do Ministério de Minas e Energia e também foi conselheiro de administração da Vale do Rio Doce. Em 1994, assumiu interinamente o cargo de ministro de Minas e Energia, no fim do mandato presidencial de Itamar Franco. Outro cargo em empresa estatal assumido pelo corumbaense foi o de diretor de Gás e Energia da Petrobras.
Foi em 2001 que Delcídio retornou para sua terra natal, ao tornar-se secretário estadual de Infraestrutura e Habitação do governo de Zeca do PT. nesta época, ele também se filiou ao PT, concorrendo ao cargo de senador em Mato Grosso do Sul no ano seguinte. Na disputa, foi eleito em segundo lugar, desbancando o ex-governador Pedro Pedrossian - quem ficou em primeiro foi Ramez Tebet.
Projeto governo estadual - Durante seu mandato, acabou aderindo ao slogan de "O Senador de todos" e ganhando cada vez mais poder no cenário político. Daí, surgiu o projeto do senador em ser governador, disputando duas vezes o cargo em Mato Grosso do Sul. Em 2006, concorreu à sucessão de Zeca e foi derrotado, ainda no primeiro turno, pelo então ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli (PMDB).
Já em 2010, concorreu à reeleição ao Senado, sendo o mais votado no Estado - mandato que deve ser exercído até 2018. Em 2014, voltou a pleitear o Governo do Estado, chegando a liderar as pesquisas eleitorais. No primeiro turno, ficou em primeiro, com Reinaldo Azambuja (PSDB) em segundo e Nelsinho Trad (PMDB) em terceiro. Porém, no segundo turno, acabou sendo ultrapassado por Reinaldo.
Apesar de duas derrotas na corrida pelo executivo estadual, Delcídio seguiu prestigiado e foi escolhido em abril de 2015 como líder do governo de Dilma Roussef (PT) no Senado. Porém, sete meses depois, em 25 de novembro, ele foi preso pela PF (Polícia Federal) sob acusação de tentar dificultar as investigações da Operação Lava Jato.
Derrota no Senado - Gravação revelou que Delcídio negociava com o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, o silêncio dele sobre operações ilegais realizadas na empresa estatal. Entre as promessas feitas, havia "mesada" para sustento da família Cerveró e até plano de fuga do executivo, tudo para evitar que ele fizesse a delação premiada. Os áudios foram gravados pelo filho de Cerveró.
Diante desta situação, Delcídio teve a prisão autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavaski, que comanda as ações da Lava Jato no Supremo. No mesmo dia, em votação aberta, os senadores decidiram manter Delcídio preso, por 59 votos a favor e 13 contra. Houve também uma abstenção - assim como ocorreu hoje.
Depois de 80 dias detido, Delcídio foi solto após assinar acordo de delação premiada, fazendo várias revelações envolvendo Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua volta ao Senado, tirou seguidas licenças médicas. Mesmo tentando adiar a votação para que novos documentos fossem anexados no relatório de cassação, o ato foi à votação, sendo aprovada por unanimidade hoje, com 74 votos e nenhum contra.