Do Coach à Igreja Universal: calendário da Capital ganhou 69 datas em 4 anos
Vereadores criaram, Câmara aprovou e a prefeita sancionou em média 17 novas datas comemorativas por ano
Dia do Airsoft, Dia do Perdão e até Dia do Coach são algumas das 68 datas comemorativas criadas pela Câmara de Campo Grande e sancionadas pela Prefeitura da Capital entre 2021 e 2024, a última legislatura. O levantamento foi feito com base na biblioteca de leis do site oficial da Prefeitura.
RESUMO
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A Câmara Municipal de Campo Grande aprovou 68 datas comemorativas entre 2021 e 2024, incluindo o Dia Municipal da Igreja Universal do Reino de Deus. A criação dessas datas visa homenagear grupos e conscientizar sobre temas relevantes, mas tem gerado críticas da população, que questiona a prioridade dessas ações em detrimento de melhorias em saúde e educação. Vereadores defendem que as datas valorizam diferentes segmentos sociais, mas moradores expressam descontentamento com a quantidade e relevância das comemorações.
A última data comemorativa sancionada pela prefeita Adriane Lopes (PP) foi publicada no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) desta segunda-feira (10) e institui o “Dia Municipal da Igreja Universal do Reino de Deus”, que também foi incluída no Calendário Oficial de Eventos de Campo Grande, a ser comemorada todo dia 9 de julho.
Segundo o decreto, a data será comemorada anualmente como uma “forma de homenagear a Igreja Universal por todo o trabalho espiritual e social prestado à sociedade campo-grandense”, diz trecho da Lei n. 7.380, de 7 de março de 2025, publicada hoje.
As datas comemorativas são criadas para chamar a atenção para a importância de um grupo, patrimônio cultural e ou para conscientização. Apesar de legais, algumas datas geram “estranheza” e até indignação por parte da população. Para alguns dos entrevistados, vereadores acabam desperdiçando tempo com a elaboração deste tipo de projeto de lei.
O ourives Edgar Eudosiak, de 62 anos, é um dos moradores da Capital que ficou indignado com o teor de algumas datas. A data que mais chamou sua atenção foi o Dia Municipal do Flashback, Passinho, DJs, Promoters e Clubes, que recentemente foi incluída no calendário oficial de eventos do município.
"Eu gosto de flashback, inclusive escuto muito, mas isso não precisa ser prioridade do poder público. Eu acredito que a prioridade seria cuidar da saúde pública e da educação. Porque sem educação ninguém tem nada, sem saúde também ninguém faz nada. Isso é o mais importante”, opina Edgar.

Já a diarista Sandra Gutierrez, de 50 anos, ficou indignada com a quantidade de datas já aprovadas. “Para mim não tem nada a ver ter tudo isso de data. A coisa mais urgente para Campo Grande é ter posto de saúde, melhorar o atendimento. Acho que o pessoal está muito mal atendido ultimamente”.
A opinião também foi compartilhada pela dona de casa Francinara Oliveira, de 23 anos, que reforça que a maior preocupação do poder público deveria ser a saúde da Capital. “A gente vai lá para pegar remédio e não tem, mas aí criam essas datas”, comenta.
Francinara achou desnecessário ter data para uma igreja específica, como foi o caso da Igreja Universal. “Nada a ver. Cada um com a sua religião. Tinham que focar mais no que as pessoas precisam”, completa.

Na visão da cozinheira Geni Veiga Rocha, de 65 anos, a criação de mais datas comemorativas “não tem nenhuma prioridade”. "Eu acho que há muitas coisas que os nossos governantes, seja no nível municipal, estadual ou federal, poderiam aprovar, muito mais proveitosas do que ficar inventando data. E não há necessidade de criar novas datas".
Para ela, a prioridade na cidade é melhorar a qualidade da saúde pública e do transporte público. "Eu acho que o transporte e a saúde pecam muito. O transporte urbano, o pessoal reclama muito e na saúde, sem comentários, tá deficiente mesmo. Então, tinha que focar nisso e não ficar inventando datas comemorativas para ocupar o tempo de trabalho”, diz Geni.
Para que servem? - O estabelecimento de datas comemorativas é previsto pela Constituição e são criadas por meio de projetos de lei apresentados pelos vereadores na Câmara.
Por meio da criação de datas e a inclusão delas no calendário oficial de eventos do município, também é possível que as comemorações recebam verba pública na realização de ações e eventos. No entanto, conforme previsto pela Lei Nº 12.345, de 9 de dezembro de 2010, a definição do critério de alta significação será dada, “em cada caso, por meio de consultas e audiências públicas realizadas, devidamente documentadas, com organizações e associações legalmente reconhecidas e vinculadas aos segmentos interessados”.
O vereador Ronilço Guerreiro (Podemos) aponta que é comum as datas não serem aceitas por toda a população. Na visão dele, as datas comemorativas não são banais, mas sim uma forma de reconhecer os diferentes grupos que vivem em Campo Grande. “Para algumas pessoas, pode não fazer diferença, mas para outras, sim. É como uma homenagem. Alguns segmentos se sentem valorizados com isso. Pode haver pessoas que não gostam de determinada data, profissão ou gosto específico, mas vivemos em uma sociedade diversificada. Muitas vezes, essas datas são criadas para que determinados grupos se sintam contemplados”, comenta Ronilço.
Ronilço também aponta que algumas dessas datas podem vir acompanhadas de medidas concretas. “No Dia do Estudante, conseguimos garantir a gratuidade no transporte para os alunos. Mas, muitas vezes, as pessoas focam apenas no que querem criticar. Estamos trabalhando em diversas áreas, como cultura e educação, além de atender às demandas que recebemos no gabinete de rua”, diz.
Em outras situações, a demanda pela criação de datas pode vir de um grupo específico, como foi o caso do vereador Beto Avelar (PP), que, por meio da Lei 11.255/24, incluiu a data "Dia Municipal do Flashback, Passinho, DJs, Promoters e Clubes" no Calendário Oficial de Eventos do Município de Campo Grande, com o objetivo de valorizar a cultura musical e o entretenimento nostálgico da cidade. Ele explica que essa demanda surgiu a partir do próprio grupo.
“Foi o movimento que chegou até mim e solicitou esse projeto, e eu achei viável. Entendi que seria um projeto adequado para a nossa capital, até mesmo pelo saudosismo e por todas as pessoas que veem essa iniciativa com bons olhos. Foi por isso que apresentei o projeto”, explica Beto.
Para o vereador, o papel da Câmara é avaliar as demandas que chegam, mesmo que algumas pareçam polêmicas. “Chegam projetos que são até certo ponto polêmicos, mas de interesse de todo o município. Nós precisamos ter a responsabilidade de saber diferenciar isso e entender que, quando um projeto é bom, devemos apoiá-lo”, opina Beto Avelar.
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