Empresário perdeu a confiança no INSS, afirma presidente da CDL
Adelaido Vila diz que trabalhadores são incentivados a irem para a previdência privada; para ele, reforma é vital para a economia
O sistema previdenciário brasileiro já não inspira confiança no empresariado que, a fim de oferecer possibilidade de futuro para seus empregados –bem como garantir clientela no longo prazo–, tem estimulado a adesão ao sistema privado ou outros investimentos para lhes proporcionar uma renda futura.
A informação partiu do presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila, para quem a reforma da previdência, em debate no Congresso, é muito mais do que a simples discussão de aposentadorias, mas aborda um dos pilares da atividade comercial no Brasil.
Vila, em entrevista ao Campo Grande News, aponta ainda um terceiro ingrediente para a torcida em favor da reforma da previdência: a superação de um degrau para outras reformas importantes para o comércio e o fornecimento de serviços, em especial a tributária.
“O próprio governo apresenta dados que dizem que o Brasil está completamente falido por conta do endividamento, do gasto com a previdência. É o que nos passam constantemente”, afirmou o dirigente.
O discurso sobre o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), segundo ele, até aqui tem chamado a atenção “para a necessidade de investimentos de forma a garantir uma previdência privada. Nunca tivemos muita confiança na previdência pública, e agora temos muito menos”.
O presidente da CDL-CG afirma que, no meio empresarial, é forte o entendimento de que, mantido o atual cenário da previdência, caberá ao sistema privado “garantir a sobrevivência do comércio futuro”. “Se o trabalhador perde a capacidade de compra no futuro, quebra toda a cadeia. A aposta é de uma poupança para garantir que o trabalhador não perca sua capacidade de consumo após a aposentadoria dele”.
Por meio de cursos e treinamentos oferecidos inicialmente para os empresários, e cujo conteúdo deve ser repassado aos funcionários, a CDL-CG espera trabalhar a educação financeira, principalmente dos jovens.
Pesquisas internas da entidade apontam que 57% dos trabalhadores entre 18 e 25 anos têm preocupações com o futuro financeiro, mas não se dedicam a investimentos, que vão desde uma previdência suplementar até a aquisição de investimentos como consórcios ou planos de capitalização sem grandes valores, “que pode resolver a vida dele e não o deixar dependente da previdência”.
Tal trabalho, destacou ele, é realizado sem que isso comprometa as obrigações patronais com a previdência, de forma a reiterar ao trabalhador a importância de uma boa preparação para o futuro.
Etapa – Adelaido Vila reforça que a reforma da previdência é uma etapa das mudanças necessárias para garantir sustentação à economia, conforme explicado pela própria classe política –que, na sequência aposta em um novo Pacto Federativo (para uma partilha equilibrada de recursos entre União, Estado e municípios) e a reforma tributária. Sem essas três, considera ele, o país continuará paralisado.
“A reforma da previdência é extremamente importante para nós. A expectativa é de ela ocorra o quanto antes para que possamos começar a receber investimentos”, afirmou. “Da forma como está sendo colocado, ela é um critério para o crescimento econômico”.
Para o empresariado, Vila espera que a reforma ofereça, diretamente, alívio nos custos coma folha de pagamento. “Apesar de a reforma trabalhista ter permitido que a pessoa possa trabalhar como pessoa jurídica até na atividade da empresa, também esperamos que possa haver alguma desoneração para quem tem carteira assinada”, pontuou. “Mas, como empresário, há muito tempo sabemos que essa previdência não satisfaz as necessidades básicas do trabalhador e, muito menos, do empreendedor”.
A CDL, destacou seu presidente na Capital, tomou a frente das negociações, reunindo-se semanalmente com integrantes da bancada federal tanto para saber dos avanços do projeto no Congresso como para pedir mobilização os parlamentares em torno da reforma. “Já conversamos com quatro deles, que são alinhados ao governo, e a expectativa é de que a proposta será aprovada. Agora começamos a ouvir o outro lado, falando com a oposição”, destacou.
Adelaido Vila destacou que o projeto abrange, de imediato, uma grande massa de trabalhadores –só entre servidores públicos há 70 mil em Campo Grande, apenas do Estado e do município. “A reforma da previdência afeta muito fortemente esse trabalhador, que é um consumidor importante para todos nós”. O dirigente complementa apontando que incertezas sobre a reforma e a economia já se fizeram sentir nas vendas do Dia das Mães.
“Com o país paralisado, o governo federal sinalizando não fazer nenhum investimento até a proposta passar, obras paradas, o Minha Casa, Minha Vida (programa habitacional) idem, sem dinheiro vir, estamos com medo de um colapso”, disse, apontando que o sentimento de incerteza se espalhou pela atividade comercial.