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Política

Estrela, letras do nome e personalismo: totens de governos contam história de MS

Em 2015, lei regulamentou a identidade visual de Mato Grosso do Sul

Por Aline dos Santos | 11/10/2024 07:16
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Totens de obras estaduais espalhados por Mato Grosso do Sul contam a história. (Foto: Reprodução)
Totens de obras estaduais espalhados por Mato Grosso do Sul contam a história. (Foto: Reprodução)

Contemporâneo da ditadura, Mato Grosso do Sul nasceu em 11 de outubro de 1977 pelo decreto do presidente Ernesto Geisel. Mas, a nova unidade federativa a se fazer estrela na bandeira do Brasil só ganhou estrutura administrativa a partir de primeiro de janeiro de 1979.

A partir daí, são 45 anos de logomarcas e totens de obras encravados na paisagem de Mato Grosso do Sul. Nessas quatro décadas, surgem estrela (como a marca da vida toda do ex-governador Pedro Pedrossian), iniciais estilizadas de Ramez Tebet e Zeca do PT e medidas legais contra o personalismo.

Por fim, em 2015, lei regulamentou a identidade visual do governo de MS, cuja última mudança aconteceu neste ano: é possível acrescentar a inscrição “Estado do Pantanal” abaixo do logotipo “Governo do Estado de Mato Grosso do Sul”.

Nesta viagem pelo tempo, somos guiados pelo professor Wagner Cordeiro Chagas, professor de História. Ele percorreu o Estado para levar edição de seu livro as escolas públicas dos 79 municípios. No caminho, foi compilando fotografias de totens e, depois, se dedicou a estudar as logomarcas.

Logomarca na gestão Harry Amorim Costa. (Foto: Reprodução)
Logomarca na gestão Harry Amorim Costa. (Foto: Reprodução)

A primeira parada é no ano de 1979, quando o gaúcho Harry Amorim Costa (Arena) foi nomeado para o cargo de governador. Com perfil de secretariado mais técnico do que político, a gestão de Harry, engenheiro civil e funcionário do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, teve vida curta: de primeiro de janeiro de 1979 a 12 de junho de 1979.

A logomarca do primeiro governo foi austera. “No que diz respeito às peças de publicidade daquela gestão, a mesma se utilizou apenas do brasão estadual”, afirma Wagner.

Com a saída de Harry Amorim Costa, Londres Machado (PP), atual deputado estadual, teve governo tampão em junho de 1979. Depois, foi nomeado Marcelo Miranda Soares, então prefeito de Campo Grande.

Após a Constituição Federal, nome de Marcelo Miranda saiu da logomarca. (Foto: Reprodução)
Após a Constituição Federal, nome de Marcelo Miranda saiu da logomarca. (Foto: Reprodução)

Nas propagandas, Miranda importou a logomarca que usou na prefeitura da Capital entre 1977 e 1979. O slogan era personalista: “Governo Marcelo Miranda – Conquistamos um estado. Vamos construí-lo”. A imagem era de uma árvore.

Ao pesquisador, Miranda afirmou que a árvore representava o jovem Estado, os galhos e as folhas tentavam mostrar os municípios e sua importância para a unidade federativa.

“É possível observar que no desenho da logomarca, o governo não se utilizou de algo que o personificasse. No entanto, o fato de aparecer o nome do administrador demonstra a evidência de promoção pessoal. Vale a pena ressaltar que destacar o nome do governador na logomarca não era exclusividade de Mato Grosso do Sul. Praticamente em todos os estados brasileiros isso era comum. Essa prática só passou a ser proibida a partir da Constituição Federal de 1988”, destaca Wagner.

Em 1987, Marcelo Miranda voltou ao governo de MS, desta vez eleito por voto popular. Nesta temporada, a logomarca prosseguiu com o nome do governador. "Governo Marcelo Miranda – Humanizando o Progresso”. Depois, com a publicação da Constituição Federal, o nome saiu para dar lugar ao do Estado: “Governo do Estado de Mato Grosso do Sul – Humanizando o Progresso”.

Logomarca do governo Pedro Pedrossian. (Foto: Reprodução)
Logomarca do governo Pedro Pedrossian. (Foto: Reprodução)

Estrela de Pedrossian – Governador por três mandatos, o engenheiro Pedro Pedrossian espalhou a estrela, uma simbologia pessoal, pelo Estado. Elas estavam da luminária ao pratinho de merenda. A primeira gestão foi entre 1965 e 1970, quando só existia Mato Grosso.

Na administração de 1980 a 1983, quando comandou MS, a logomarca utilizada por Pedro Pedrossian era representada por uma estrela ao lado do seu nome.

“Praticamente em todos os municípios de Mato Grosso do Sul houve, entre 1980 e 1983, uma placa descerrada com a estrela simbolizando uma obra de Pedrossian”, destaca o pesquisador.

Na autobiografia, o político explicou ter uma espécie de estrela guia. “Embora não seja místico, sempre acreditei ter uma estrela para me definir a missão ou, pelo menos, me acompanhar nos momentos cruciais da vida”, escreveu Pedrossian.

O terceiro mandato percorreu o período de 1990 a 1994. E a estrela do “pedrossianismo” retornou mais imponente. “Blocos de concreto com a estrela ao centro são vistas até os dias atuais em rodovias, avenidas, parques, universidades”, diz Wagner.

Totens de gestão de Pedro Pedrossian e de Wilson Barbosa Martins. (Foto: Reprodução)
Totens de gestão de Pedro Pedrossian e de Wilson Barbosa Martins. (Foto: Reprodução)

Sai a estrela, entra o mapa - Eleito em 1982, Wilson Barbosa Martins administrou o Estado até meados de 1986, quando renunciou para concorrer ao Senado. A logomarca era “Governo de Mato Groso do Sul -MS”. Para identificar as obras, colocou grande totens com blocos de concreto.  O formato lembra as iniciais do gestor.

O segundo mandato foi de 1995 a 1998. A logomarca trazia a inscrição “Governo do Estado – MS Agora Tem Futuro”.

Segundo o pesquisador, a historiadora Marisa Bittar apontou que poderia ser mais um capítulo da rusga entre Willson e Pedrossian: a propaganda deixava “implícita a crítica ao governo Pedrossian, cujo slogan era: ‘Mato Grosso do Sul, o futuro agora’”. O totem das obras manteve a mesma estrutura utilizada pela administração de Pedro Pedrossian.  Mas a estrela foi substituída por um mapa de Mato Grosso do Sul.

Totens dos ex-governadores Ramez Tebete e Zeca do PT. (Foto: Reprodução)
Totens dos ex-governadores Ramez Tebete e Zeca do PT. (Foto: Reprodução)

Iniciais – De 1986 a 1987, o governador foi Ramez Tebet, que adotou as iniciais RT para marcar as obras.

“Sobre a publicidade utilizada nessa administração, é visível o caráter personalista, ao ler na logomarca as letras iniciais do nome do governador “RT”, seguido do nome Ramez Tebet. O mesmo ocorre com o totem, logo em seguida, localizado na BR-163 (anel viário de Campo Grande), iniciado por Wilson Martins e inaugurado por Ramez, no ano de 1986”, destaca o professor.

Eleito por dois mandatos, Zeca do PT governou Mato Grosso do Sul de 1999 a 2006. A logomarca foi vista com olhos distintos. Teve quem viu um Z estilizado, como quem enxergue o pôr do sol no Pantanal.

"Pensei numa logomarca  simbólica do que a minha eleição representava e encomendei  um desenho que mostrasse um sol vibrante e um horizonte largo, colorido, um horizonte a ser alcançado", afirma Zeca.

Logomarcas de André Puccinelli e Reinaldo Azambuja. (Foto: Reprodução)
Logomarcas de André Puccinelli e Reinaldo Azambuja. (Foto: Reprodução)

Azul x verde – Também governador por dois mandatos, André Puccinelli (MDB) trouxe a bandeira de Mato Grosso do Sul para a logomarca do governo e para os totens de obras. A cor do governo era azul.

Com a entrada de Reinado Azambuja (PSDB) passou a predominar o verde nos símbolos oficiais, inclusive com mudança no uniforme dos alunos da rede estadual de ensino, que na gestão anterior era azul. A bandeira estilizada de MS deu lugar ao brasão do Estado.

No governo de Eduardo Riedel (PSDB), o azul voltou para a logomarca oficial, mas o brasão foi mantido. Desenhado por José Luiz de Moura Pereira, o brasão foi instituído pelo Decreto Estadual 2, de 1º de janeiro de 1979. Já o totem das obras tem a cor azul e o brasão do Estado.

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