Capital só escolheu uma vereadora 26 anos após aprovado o voto feminino
Entre homens que criaram maioria das leis, elas tiveram mais participação de 2009 a 2012 e foram 18 eleitas
Campo Grande nasceu com a emancipação da Vila de Santo Antônio de Campo Grande, em 1899. Os primeiros vereadores tomaram posse em 1905. Entre eles, não havia mulheres e nem poderia, afinal a primeira eleição em que elas puderam votar e serem votadas no Brasil ocorreu 28 anos depois, em 1933. Demorou ainda 26 anos para a cidade ter a primeira mulher vereadora, a professora Oliva Enciso, em 1959.
De lá para cá, a Câmara Municipal de Campo Grande teve apenas 18 vereadoras entre os tantos parlamentares que votaram leis propostas por eles mesmos e pelos prefeitos, nessas décadas.
Os tempos áureos da participação das mulheres foram entre 2009 e 2012, quando quatro atuaram ao mesmo tempo entre os homens: as advogadas Grazielle Salgado Machado Nishina e Thaís Helena Vieira Rosa Gomes, a empresária Magali Marlon Picarelli e a professora Rose Modesto.
Depois disso, a Casa de Leis elegeu no máximo duas por mandato e, atualmente, somente uma, Luiza Ribeiro, ocupa cadeira no parlamento municipal. Ela era suplente de Camila Jara, que deixou a cadeira para ser deputada federal.
O começo - A primeira mulher vereadora foi a professora Oliva Enciso, em 1959. Ela foi presidente da casa de 5 a 28 de janeiro de 1958. Oliva dá nome à Escola Municipal que fica no bairro Tiradentes e a um dos plenários da câmara.
Esse era o 13ª mandato, cujos vereadores aprovaram a instalação do serviço ambulatorial municipal, a construção de unidade de combate ao câncer e a gratuidade de serviços aos indigentes, entre outros projetos com foco na melhoria da saúde pública aos campo-grandenses.
Transformações - Nos anos seguintes, o ensino público recebeu várias melhorias, como merenda escolar e água filtrada para os alunos; foram construídas mais escolas, houve a inclusão da disciplina de Educação Moral e Cívica na grade escolar e foi proibida a exploração de mão-de-obra de menores e mulheres.
Entre 1960 e 1961, foi eleita a professora Maria de Lourdes Widal Roma. O Centro Estadual de Educação Profissional no bairro Moreninha leva o nome dela como homenagem. Nessa época, alguns parlamentares passaram a se reeleger e manter-se na Casa de Leis por vários mandatos, mas as mulheres ainda tinham passagem rápida pela Câmara. Maria de Lourdes volta à casa entre 1971 e 1972.
Entrou em 1976 a professora e advogada Nelly Elias Bacha, conforme os registros da Câmara Municipal. Referência usada para a página na Wikipédia, no entanto, informa que ela foi eleita em 1972 e reeleita em 1974, 1976, 1982 e 1985.
Com a exoneração de Heráclito de Figueiredo da prefeitura, Nelly foi nomeada prefeita pelo então governador Wilson Barbosa Martins. No cargo por pouco mais de dois meses, ela autorizou obras de construção de galerias pluviais na Avenida Euler de Azevedo e a construção da sede do Movimento Brasileiro de Alfabetização em Campo Grande.
Nelly voltou à Câmara após a nomeação de Lúdio Coelho como prefeito e encerrou a carreira após duas derrotas consecutivas em candidaturas. Naquela época, foram aprovados a implantação das primeiras ciclovias nas ruas mais movimentadas da cidade, a criação da Escola de Datilografia Municipal, a Semana da Cultura e a criação da Fundação de Cultura do Município. A divisão do Estado de Mato Grosso para a criação do Estado de Mato Grosso do Sul foi definida nesse período.
De 1979 a 1982, a casa teve a professora Marisa Serrano Ferzelli como vereadora. De 1983 a 1988, teve mandato a professora Marilene de Moraes Coimbra. De 1997 a 2000, foi vereadora a empresária Magali Picarelli. Essa era a 5ª legislatura desde que Campo Grande foi elevada à Capital do novo Estado.
Naquele tempo, foi aprovada a criação do Sistema Municipal de Licenciamento e Controle Ambiental. Em 1997, a Câmara aprovou a utilização do mototáxi; a criação do Conselho Municipal do Idoso, dos Direitos da Mulher e de Desenvolvimento Rural e o programa de Agentes Comunitários.
Entre 2001 e 2004, Magali continua, enquanto entram a advogada Maria Emília Sulzer e a professora Tereza Name. De 2005 a 2008, entram as advogadas Grazielle Salgado Machado Nishina e Thaís Helena Vieira Rosa Gomes, enquanto Magali continua vereadora.
De 2009 a 2012, as três continuam na Casa de Leis e entra a professora Rose Modesto. Começam a ocorrer sessões comunitárias e itinerantes, que levam o trabalho dos vereadores até os bairros e entidades de classe.
Naquele tempo, foi instituída a Lei Antifumo, que proibiu o consumo de cigarros em ambientes fechados, além da Lei da Posse Responsável de Cães e Gatos, a Lei Anti-Cerol, entre outras.
De 2013 a 2016, Grazielle Salgado Machado e Thaís Helena continuam e entram as advogadas Carla Stephanini e Luiza Ribeiro. Em abril de 2013 entra a então suplente empresária Juliana Zorzo.
De 2017 a 2020, a Casa de Leis tem a administradora e professora Dharleng Campos e a enfermeira Aparecida Amaral, a “Cida”.
Déficit da democracia - Para o mandato de 2021 a 2024, foi eleita apenas a cientista política Camila Jara, que foi eleita deputada federal em 2022 e deixou a cadeira para a suplente Luiza Ribeiro.
Em março deste ano, mulheres de Campo Grande foram homenageadas com a Medalha Legislativa Celina Martins Jallad, que foi deputada estadual em MS. Na ocasião, a proponente da solenidade, vereadora Luiza, destacou que a representação das mulheres precisa crescer.
“Estamos na mesma luta no que se refere à defesa das mulheres, especialmente nos espaços de poder. Nós avançamos, mas muito pouco. Hoje, o Brasil ocupa a posição 135 no ranking mundial do número de mulheres nos parlamentos. Há um déficit da democracia, pois o parlamento é a representação do povo. É preciso falar sobre isso e agitar elementos capazes de alterar essa situação”, disse Luiza.
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