Grupo reproduz layout do Campo Grande News para espalhar notícias falsas
Ao rastrear os responsáveis pela página "Campo Grande Fake News", o caminho leva a gabinete de deputado
Alvo de investigação do STF (Supremo Tribunal Federa) que levou à prisão nomes ligados ao chamado “gabinete do ódio” do governo Bolsonaro, a produção de fake news para atacar inimigos, sejam eles pessoas ou ideologias, tem seus representantes em Mato Grosso do Sul. Um deles leva ao gabinete do deputado federal Loester Carlos (PSL).
Nomeado como secretário parlamentar, destacado para trabalhar em Campo Grande, Mateus Gaioso Guimarães de Oliveira aparecia, em dezembro, como responsável técnico por página nascida como paródia do Campo Grande News, mas que acabou se transformando em vetor de ataques a políticos e publicação de mentiras. Mateus é nomeado desde outubro do ano passado no gabinete de Loester Carlos.
A informação mostrando que ele fez publicações no site “Campo Grande Fake News” consta do rastreio da página feito em ferramenta virtual que armazena o histórico de usuários que controlam domínios de internet.
Além das notícias falsas, a intenção é confundir o leitor usando o mesmo layout do portal Campo Grande News.
Criada em março do ano passado, a página surgiu fazendo humor com características de regiões da cidade e com fatos verídicos noticiados. Mas de outubro do ano passado para cá, teve transformação radical no conteúdo, investindo em política
Hoje, quem abre, encontra ataques diretos a políticos locais, além de notícias claramente inventadas. Ao explorar a página do grupo no Facebook, também é possível verificar matérias positivas a Loester Carlos.
Mateus Gaioso Guimarães de Oliveira é um dos 19 funcionários nomeados no gabinete do deputado federal, com salário de R$ 2,3 mil. No escritório em Campo Grande, ele foi procurado pela reportagem, por telefone, mas não retornou o contato.
A mãe de Mateus, Juliana Gaioso, foi denunciada pelo deputado federal Fábio Trad (PSD), em razão de ameaças a ele nas redes sociais e posts considerados ataques ao estado democrático de direto. Depois disso, perdeu o cargo no gabinete da senadora da base governista Soraya Thronicke (PSL).
Procurada via Whatsapp, ela orientou a procurar pelo filho no gabinete do deputado.
Em nome de quem ? - No registro oficial, o “dono do site”, segundo levantado pelo Campo Grande News, é o publicitário Demétrius Brasil, que tem empresa em São Paulo dedicada, entre outros serviços, à campanha virtual política. Ele mora em Brasília. Na internet, é possível localizar vídeos de curso para formação de políticos oferecido por ele.
Demetrius afirmou à reportagem conhecer “Loester” assim como "inúmeros outros deputados" e ter prestado serviços a parte deles em 2018, quando o parlamentar do PSL foi eleito. Disse não se lembrar se atendeu Loester.
Sobre o domínio em nome dele, disse que fazia parte de um projeto de “rede de notícias”, que acabou sendo abandonado. Afirma ter feito “vários trabalhos” no Estado, sem nomear os contatos.
Quando foi procurado, disse que verificaria a situação do domínio em seu nome e retornaria o contato, mas isso nunca foi feito.
Rede - Há pelo menos mais um domínio local, o MS1Agora, também site de notícias, registrado em nome do profissional da publicidade. Nesse perfil, é possível ver notícias em tom elogioso ao escolhido por Loester Carlos para apoiar nas eleições em Campo Grande, o vereador Vinícius Siqueira (PSL).
Sobre o Campo Grande Fake News, Demétrius garantiu que o cliente era outra pessoa, não nominada, e não o deputado Loester Carlos.
Indagado sobre as fake news espalhadas pela página, afirmou que iria verificar e, se houvesse algo errado, “tiraria do ar”.
Demétrius Brasil afirmou, ainda, que trabalha nesse ramo há “20 anos” e por isso tem mais de 700 domínios registrados em seu nome.
Cópia - A reportagem também comentou com o publicitário sobre o layout, que é cópia da identidade visual do Campo Grande News. Para ele, a url (endereço) diferente tira a possibilidade de confusão e quem entra sabe do que se trata.
Porém, para a assessoria jurídica do portal, o uso da identidade visual, visivelmente copiado, configura crime. Por isso, a direção do Campo Grande News resolveu acionar a Justiça, em respeito ao leitor e com medida contra a disseminação de notícias falsas.
“Pode caracterizar uma série de crimes, o crime de dano, o uso de propriedade intelectual, a falsidade ideológica e outros que forem sendo identificados ao longo das apurações”, afirma o advogado Felix Jayme Nunes da Cunha.
O deputado federal foi procurado via assessoria de imprensa, mas não respondeu ao pedido de informação sobre o assunto.