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Política

JBS pagou R$ 150 milhões em propina para políticos de MS, diz delação

Soma de notas apresentadas à Lava Jato mostra que R$ 59 milhões foram pagos a empresas e pessoas por meio de notas frias; o restante foi entregue em dinheiro

Anahi Zurutuza e Nyelder Rodrigues | 19/05/2017 20:38
Unidade da JBS em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)
Unidade da JBS em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio)

Os documentos entregues pela JBS à PGR (Procuradoria Geral da República) e depoimentos dos sete delatores apontam que a empresa desembolsou “não menos que R$ 150 milhões”, conforme destacam os procuradores no documento de registro da delação premiada, em propinas dadas a políticos de Mato Grosso do Sul. O valor é a soma de tudo que foi pago entre 2003 e 2016.

O depoimento de Wesley Batista, um dos donos da JBS, à Operação Lava Jato, já havia revelado que esquema de troca de incentivos fiscais por propina passou por três governos de Mato Grosso do Sul.

O Campo Grande News teve acesso à íntegra da delação homologada na quinta-feira (18) e divulgada nesta sexta-feira (19) pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Os ex-governadores Zeca do PT e André Puccinelli (PMDB), além do atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB), foram beneficiados, segundo o delator.

O pagamento foi feito por diversas modalidades. “Notas frias, pagamento de doleiros a terceiros e espécie”, detalhou o empresário.

Azambuja – Já Reinaldo Azambuja levou do grupo JBS, segundo a delação, R$ 45.631.696,03. Ele recebeu R$ 10 milhões em espécie, de acordo com o delator, e outros R$ 35 milhões por meio de pagamentos feitos com notas falsas emitidas por pessoas físicas e jurídicas.

A Buriti Comércio de Carnes seria a empresa participante do esquema, para a qual foram pagos R$ 12.903.691,03 por meio de notas frias expedidas entre maio e julho de 2015.

O restante dos “pagamentos”, boa parte deles feitos em 2016, são referentes a vendas de gado, operações que conforme a delação nunca aconteceram, são de fachada.

A JBS anexou, por exemplo, notas emitidas pelo atual secretário de Estado de Fazenda, Márcio Monteiro (PSDB), no valor de R$ 333 mil, pelo deputado estadual Zé Teixeira (R$ 1,6 milhão), pelo ex-prefeito de Dois Irmãos do Buriti e ex-deputado estadual Osvane Ramos (R$ 583 mil) e ex-prefeito de Porto Murtinho Nelson Cintra (R$ 296 mil).

Wesley Batista durante depoimento a procuradores (Foto: Reprodução)
Wesley Batista durante depoimento a procuradores (Foto: Reprodução)
O irmão de Wesley, Joesley Batista durante delação (Foto: Reprodução)
O irmão de Wesley, Joesley Batista durante delação (Foto: Reprodução)

Puccinelli – Para Puccinelli, a JBS pagou o maior montante –R$ 114.175.420,88, conforme documentos apresentados à PGR e também conteúdo do depoimento. 

Deste total, R$ 90 milhões foram pagos com dinheiro em espécie, parte que o denunciante dizer não ter como provar. Outros R$ 24.175.420,88 chegaram ao ex-governador por meio de notas frias.

Os documentos entregues pelos irmãos Batista mostram que R$ 5 milhões foram pagos por meio de notas falsas de compra de gado emitidas por Ivanildo da Cunha Miranda, que em depoimento, Wesley disse ser um dos operadores de Puccinelli no esquema. Miranda foi substituído por André Luiz Cance, segundo empresário.

Zeca – Tudo começou com José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT. Wesley Batista disse no depoimento dado no dia 4 de maio, que as negociações do o Estado de Mato Grosso do Sul começaram em 2003 com João Baird, que seria o operador do ex-chefe do Executivo estadual no esquema.

Empresário que também é investigado na Operação Lama Asfáltica -cujo principal alvo é Puccinelli-, Baird teria sido quem estabeleceu percentual de 20% dos valores economizados pela JBS em incentivos fiscais concedidos pelo governo, “modus operandi” que perdurou.

Wesley admitiu, entretanto, não ter mais documentos referentes aos valores pagos a Zeca do PT quando ele ainda era governador. “Foi um fato de 2003 e nós não temos mais os registros de quanto foi pago de propina”, justificou.

Mas, disse que Zeca foi beneficiado pelo grupo, mesmo depois de deixar o governo. Em 2010, quando se candidatou a deputado federal, ele teria recebido R$ 1 milhão em doação oficial para campanha e mais R$ 2 milhões “por fora”, este último montante entregue a ele em espécie e em mãos.

Outro lado – O Campo Grande News procurou o ex-governador André Puccinelli. Ele informou, por meio da assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre a delação por enquanto.

Reinaldo Azambuja afirmou em nota que a delação é baseada em suposições que as doções feitas pela empresa a ele foram encaminhadas pelo diretório nacional tucano e constam na prestação de contas da campanha.

“Em relação à declaração de que recebi aproximadamente R$ 10 milhões dos empresários, informo que o valor exato é de R$ 10,5 milhões repassados pelo PSDB nacional e que constam regularmente declarados na prestação de contas eleitoral de minha candidatura em 2014”, informou o texto.

“Por fim, reforço que qualquer outra alegação de fatos ilícitos envolvendo meu nome e a empresa JBS não condiz com a verdade, e será devidamente comprovado”, completou Azambuja.

Já Zeca do PT informou que está tranquilo por não haver provas de que recebeu propina. “Resta desafiado que seja apresentado qualquer prova ou indício do fato aludido na referida delação”, informou em nota.

Em resposta à reportagem, Nelson Cintra, afirmou que desconhece os termos da delação. Ele completa que ele vende gado para a JBS há vários anos e, prova disso, é que ele vai embarcar mais de 300 bois para abate no domingo (21), sendo que a nota fiscal foi emitida hoje. “São 144 da fazenda de Porto Murtinho e outros 180 de Caracol”, frisou.

A reportagem tentou contato com o deputado estadual Zé Teixeira (DEM) e com a assessoria dele, que prometeu tentar falar com o parlamentar.

Outros citados foram procurados, mas não foram encontrados.

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