João Amorim atuou na cassação de Bernal para manter "negócios"
Para montar o poderoso esquema de conseguir abocanhar verbas públicas usando artimanhas como corromper servidores, direcionar e fraudar licitações, João Alberto Krampe Amorim dos Santos, dono da Proteco, tinha um poder de articulação política de causar inveja a muitos caciques da política regional. Ao longo das investigações da Operação Lama Asfáltica, verifica-se também que ele teve participação fundamental para que a Câmara de Vereadores da Capital cassasse o prefeito Alcides Jesus Peralta Bernal (PP) em 12 de março de 2014.
Em 2012, João Amorim havia dado apoio político e financeiro ao ex-secretário e ex-deputado federal Edson Giroto, que perdeu a eleição de prefeito para Bernal. O candidato do PP foi para o segundo turmo com o candidato do PMDB e venceu a disputa com chapa pura. Sem os contratos que mantinha nas administrações anteriores a Bernal, Amorim traça a estratégia para tirar o pepista do poder e retomar os “negócios” no setor da obras públicas.
Amorim passa a articular com vereadores e também integrantes do primeiro escalão da administração de Alcides Bernal. No dia da votação da cassação, o dono da Proteco manda à Câmara um dos seus funcionários para acompanhar o comportamento de cada um dos vereadores. Até aí, ele e os aliados já haviam feito as contas de quantos parlamentares tinham na mão.
Sem saber que estava com as conversas telefônicas monitoradas pela Polícia Federal com autorização da Justiça Federal, Amorim articula e acompanha todo o processo de cassação à distância. E, de acordo com as interceptações, assim que a sessão é encerrada, ele recebe inúmeras ligações parabenizando-o pela vitória. Bernal foi cassado por 23 votos a 6.
Vencida a fase política, João Amorim passa então a trabalhar para manter o controle das obras públicas na capital. Fala com um alto funcionário da Secretaria Municipal de Obras, que recebe um “pagamento” de Elza Cristina dos Santos Amaral, apontada na Operação Lama Asfáltica como operadora financeira da suposta organização criminosa, liderada por Amorim. E conversa também com três secretários de Bernal, que ocupavam pastas importantes na administração.
Numa das conversas, João Amorim cobra de um secretário municipal ainda da gestão de Bernal, o pagamento de seis faturas à LD Construções, que pertence ao genro dele, Luciano Potrich Dolzan. A empresa havia sido contratada para atuar no combate ao mosquito da dengue na capital.
Ainda de acordo com o que se verificou durante uma fase da Operação Lama Asfáltica, após a saída de Alcides Bernal, passaram a ocorrer sucessivas reuniões na casa de João Amorim, algumas convocados às pressas. Nesse momento, o dono da Proteco passa a atuar com o colega João Baird, da Itel Informática, que também nos últimos anos conquistou dezenas de contratos com órgãos públicos.
Assim, João Amorim começa a ajeitar os contratos das suas empresas na Prefeitura. Ele cobra de um secretário municipal o pagamento de algumas faturas. E na conversa telefônica com um servidor municipal, o secretário pede uma solução e o funcionário público sugere cancelar o empenho de uma empreiteira que estava com algumas pendências, e usar esse dinheiro para fazer o pagamento de seis faturas da LD Construções e uma da Proteco, num total de R$ 8 milhões.