Na beira da estrada, esperança com eleição é zero: “Nunca recebemos uma visita"
Lia tem 68 anos e passou a maior parte deles em moradias improvisadas às margens de rodovia
Na BR-060, a dez quilômetros do Centro de Campo Grande e rumo a Sidrolândia, um par de placas chama a atenção do viajante que não faz da rodovia uma pista de corrida. Lado a lado, há uma placa improvisada e outra confeccionada em gráfica com o nome da área de invasão.
As duas são resultados da disposição e do investimento de Eutália Lopes Agoeiro, mais conhecida como Lia. Em 68 anos, a maior parte deles passados em moradias precárias e improvisadas às margens de rodovia, ela destaca que se habituou a não esperar nada da administração pública.
E nesta época de eleição, em que candidatos fazem da moradia uma bolsa de apostas, no melhor estilo “quem dá mais”, é taxativa ao declarar zero expectativa com a eleição.
“Espero nada, nada e nada. O que você vai esperar? Para nós aqui, nunca recebemos uma visita. Nós só somos eleitores. Nem posto de saúde eu uso, faz seis anos que ao vou ao posto”.
Lia conta que já levou suas placas em eventos com políticos em Campo Grande, com a ideia de chamar a atenção para que a área de “invadimento”, como define, possa receber energia elétrica.
Por enquanto, a geladeira fica desligada, o celular é recarregado por meio de uma pequena placa solar e o gelo, acondicionado em isopor, vem de lares amigos nas redondezas.
“Com luz, nós estaríamos no céu. Nem precisava mais ir para o céu se você ligar a geladeira”, afirma sobre a revolução que a energia elétrica faria na sua vida.
Mato Grosso do Sul tem deficit de 71.966 moradias, conforme estimativa da Fundação João Pinheiro/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).