Nelsinho deixa PMDB e rompe relação política de 24 anos com Puccinelli
Após 24 anos dividindo histórias em um mesmo grupo político, o ex-governador André Puccinelli (PMDB) e o ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB) romperam a relação. O fim da parceria não teve conversa olho no olho e veio à tona por meio de troca de farpas via imprensa e rede social.
Em 1992, a história da dupla começou a ser escrita e por incrível que parece não foi o pai Nelson Trad que convidou o filho para ingressar na política. Foi André Puccinelli, na época deputado estadual, que foi à casa de Nelsinho, acompanhado do fiel escudeiro, Osmar Geronymo, incentivá-lo e ser candidato a vereador.
“Na época, participamos juntos de uma eleição de classe, ele (André) me viu atuar e gostou”, relatou Nelsinho. Ainda segundo ele, o ex-governador justificou o convite por ser deputado do interior e precisar um vereador na Capital.
Na primeira eleição, Nelsinho foi o segundo vereador mais votado e ficou na Câmara por 10 anos até virar deputado estadual, em 2002. Ele chegou à Assembleia como o parlamentar mais votado do Estado. Na época, era filiado no PTB. “Tudo que passei, passei sempre seguindo a orientação política dele (de André)”, comentou o ex-prefeito.
Um ano depois, em 2003, ingressou aos quadros do PMDB, partido do ex-governador. No período, começou a corrida para ser o candidato do partido a prefeito de Campo Grande. “Todo mundo falava e ele (André) mesmo falava que preferia que o (Edson) Giroto fosse o candidato, mas eu liderava as pesquisas e fui o escolhido”, contou Nelsinho.
Em toda a carreira, ele frisa que seguiu “até virgula e centésimos dos compromissos que foram firmados”. “Daí a nossa estranheza de ter toda a liberdade para ser sincero perante o companheiro que foi fiel e, mesmo assim, não ter sido”, comentou o ex-prefeito.
A decepção veio no ano passado, após ficar em terceiro lugar na disputa pelo Governo do Estado. “O que faltou para mim foi ter a percepção de que estava totalmente abandonado, e que, aqueles que deveriam estar mais próximos e empenhados na vitória do partido PMDB, foram os primeiros a virarem as costas e a traírem”, postou no Facebook.
Sobre falas de correligionários de que este seria o troco por supostamente não ter entrado de cabeça na campanha de Giroto a prefeito de Campo Grande, Nelsinho rejeitou a possibilidade. “Não é verdade isso, fiz o que foi possível. O fato é que a liderança dele (de André) abafa, ele toma conta de tudo, quer resolver tudo, a gente não podia decidir nada”, explicou.
Questionado sobre os motivos de ter aceitado as supostas imposições e, inclusive, deixar de ouvir familiares para enfrentar André, Nelsinho alegou que tem “característica de ser uma pessoa que veste uma camiseta”. “Até mesmo quando tinha divergência com meu pai procurava acalmar em busca do projeto maior”, completou.
Agora, no entanto, por sentir-se traído, o ex-prefeito disse que “não tem mais condições de convivência”. Ele informou ainda que “tá certa” a decisão de deixar o PMDB, porém, anunciará o futuro partido somente após a reforma política. Nelsinho ainda deixou claro que voltará a disputar cargo eletivo. “Só não concorre quem não está morto e não estou, apesar que para eles (PMDB) estou, mas vou provar que não estou”, finalizou.
Procurado pelo Campo Grande News, André não retornou as ligações até a publicação da matéria. Mas, em outras entrevistas, adiantou que não tem mais interesse em manter laços com Nelsinho. Em recente reunião do PMDB, ele até antecipou a saída do correligionário do partido. “Parece que o Nelsinho não veio... vai embora”, afirmou.
Essa semana, em entrevista à Rádio Capital, foi mais longe e insinuou que o ex-prefeito foi o culpado pela derrota do PMDB, nas eleições do ano passado, por não ter pedido votos nos 79 municípios do Estado. Via Facebook, Nelsinho reagiu e disse que é “ na vida é muito melhor ser traído, do que ser o traidor”.