Por imagem de ‘gente como a gente’, pré-candidatos vão às redes sociais
Políticos intercalam plataformas políticas com postagens do dia a dia em busca de identificação com seguidores; fórmula ainda gera dúvidas entre especialistas, que ressaltam peso das redes sociais
O perfil nas redes sociais se tornou extensão quase obrigatória de muitas pessoas. Facebook, Instagram e outros escancaram, em geral, um misto de convicções e cotidiano. Assim, também se transformaram em um meio de agentes públicos ou aspirantes a um mandato se mostrarem como “mais um na multidão”: a ideia não é só exibirem um trabalho, mas revelar em perfis e páginas pessoais a informalidade de pais com seus filhos ou homens cuidando de plantas.
O comportamento, impensável na política do passado –onde muitos dissociavam o público do pessoal ou mantinham os eleitos em um mundo à parte–, ainda gera dúvidas em especialistas sobre sua efetividade. Porém, para quem se expõe diariamente nas redes sociais, gerou uma experiência positiva, inclusive perante os potenciais eleitores.
Em 2012, quando deixou a Prefeitura de Campo Grande, Nelsinho Trad (PTB) iniciou a intimidade com seu perfil no Facebook, que evoluiu para uma página que hoje reúne mais de 35 mil seguidores. “Sempre foi muito constante. Eu mesmo respondo, lógico, sempre em determinado período do final do dia”, disse.
Na internet, Nelsinho divulga de obras e ações a particularidades para satisfazer a curiosidade dos internautas –e dos eleitores. “Se o eleitor pudesse ter um Big Brother ambulante seria o ideal, porque veria com transparência dados, atitudes, o que a pessoa em que ele vai depositar sua confiança faz”, explicou ele.
“Mas não basta apenas confiarem em você: querem uma identidade com você. Por isso procurei deixar (o perfil) à disposição das pessoas para que possam ver meu jeito de ser, minhas atividades, minha personalidade”, emendou Nelsinho.
Contato – Há dois anos trabalhando um projeto visando a Câmara dos Deputados, Marcos Afonso (PDT) admite ter intensificado o uso de redes sociais na mesma época, justamente para divulgar sua imagem pessoal. Nos perfis no Facebook com cinco mil seguidores, página no Instagram e contatos no WhatsApp, afirma seguir também a linha da autenticidade.
“Para atingir o internauta é preciso ser autêntico e responder às pessoas. Minha forma de fazer política é de contato”, afirma, descartando encarnar um personagem na internet. “Estou há dois anos nisso, se fosse um personagem já teria caído”, emendou Afonso, avaliando que “esse é o futuro da política, a interatividade”.
Em análise – A efetividade dessas investidas, porém, ainda gera dúvidas em quem acompanha o marketing e as chamadas “mídias sociais”. Embora reiterem o alcance das ferramentas, não há consenso quanto a identificação entre o internauta e o pretenso candidato.
“É evidente que os pré-candidatos começam a ter esse trabalho, pois (a mídia social) é um meio de difundir as ideias e começar uma relação com um universo que, de repente, pode fazer parte de uma futura campanha”, afirma o publicitário Henrique Medeiros, segundo quem tais investidas dependem da linguagem adotada –o que torna dúbia a leitura sobre o efeito dessa imersão.
“Cada um se coloca em suas mídias e decide se é realmente adequada, se tem a ver com a imagem deles, se cria algum tipo de polêmica. Vem dentro dessa visão. É difícil avaliar se é positivo ou não, isso depende muito da posição de cada agente, das condições que assume”, explica Medeiros.
Kenneth Corrêa, que há 13 anos atua com marketing em redes sociais, faz a mesma avaliação. “Já ouvi argumentos de dois lados: de pessoas comuns que se identificam (com o dono do perfil) e também de quem quer um representante com a postura que ela não conseguiria ter”, disse, ao reconhecer o ambiente virtual como um importante meio de marketing.
“A presença nas redes sociais não dá só resultado em voto, mas principalmente como uma opção na qual os políticos podem fazer conteúdo e mostrar o que pensam”, prosseguiu Corrêa. Nesse sentido, a manutenção dessa abertura com o público pode ser um diferencial. “Há dois estágios: o do candidato e da pessoa eleita, para saber se com o mandato a pessoa continuará dando esse tipo de abertura para os eleitores”.
Ferramenta – Corrêa adverte que a quase onipresença dos perfis políticos tende a aumentar no período eleitoral. Isso porque a minirreforma aprovada pelo Congresso Nacional e autorizada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) permitirá, dentro de regras específicas, o impulsionamento –pagamento para que propaganda eleitoral seja vista por mais perfis, inclusive de quem não for seguidor do dono do perfil– de postagens.
Henrique Medeiros reforça. “Não se faz mais propaganda sem pensar nas redes sociais. Mas elas são mais um elemento de marketing. Há outros meios. A publicidade, propaganda, o marketing já a incorporou. Agora, será também pela propaganda eleitoral”.