Sem clima: mais da metade dos eleitores não se interessa pelas eleições
Pesquisador afirma que reação é fruto de um desgaste da política como um todo e também da forma como políticos se comunicam
"Não tem clima de eleição em Campo Grande". A afirmação direta e objetiva do pesquisador Paulo Catanante é reflexo de estudo de opinião realizado pelo Ibrape (Instituto Brasileiro de Pesquisas de Opinião Pública), o qual dirige, e traz números que demonstram o desgaste da política, principalmente na escolha para o Legislativo.
Parte dos resultados foram divulgados ontem (23) pelo Campo Grande News revelando o medo dos eleitores em ir às urnas em período de pandemia. Contudo, o estudo mostra mais, abordando o interesse de uma forma geral. "Na majoritária temos alguma movimentação, mas na proporcional, que é a de vereadores, sumiu", comenta Catanante.
Ele argumenta que o problema não está ligado apenas à pandemia de covid-19, mas também ao momento político enfrentado em todo o país, que não poderia ser diferente em Campo Grande - local que abrange a pesquisa, entrevistando 584 pessoas.
Conforme os números do estudo, 54% dos eleitores afirmaram não terem interesse pelas eleições de vereador na Capital. Interesse pequeno, médio e grande foi a resposta de 22%, 12% e 10%, respectivamente, enquanto 2% não responderam.
Já a eleição para prefeito não levanta o mínimo interesse em 36% dos entrevistados, enquanto 26% disse ter um interesse pequeno, contra 22% e 13% que afirmaram ter interesse médio e grande, respectivamente. Outros 3% não responderam à pergunta.
"O eleitor não está vendo o novo na campanha. O político está operando no analógico e eleitor está no digital. Outras pesquisas mostram que em 2016 o número de eleitores conectados eram de 66%. Hoje esse número é de 92%", revela Catanante.
O pesquisador ainda afirma que é preciso a partir de agora novas estratégias para reconquistar o interesse dos eleitores. "Reunião em bairro? Isso não vai existe mais. Será preciso cada vez mais buscar novas estratégias digitais", frisa, completando.
"É a primeira vez que a política nacional, estadual e municipal chegou ao povo de forma efetiva. Antes só sabia pela TV. Agora você pega o celular e vê tudo ali na hora, não precisa esperar passar o jornal na TV para saber o que acontece", destaca Paulo.
Que dia eu voto? - A pesquisa do Ibrape revela algo preocupante: 25% dos entrevistados, ou seja, um em cada quatro, responderam datas erradas sobre em que dia seria realizada às eleições para vereador e prefeito. Outros 6% sequer responderam e 69% acertaram - por causa da covid-19, as eleições de 2020 vão acontecer no dia 15 de novembro.
Apesar desse desinteresse, 54% dos participantes responderam discordar totalmente da afirmação "hoje em dia não é importante votar", enquanto 2% não respondeu, 25% disse concordar em parte e outros 20% concordaram totalmente.
Conforme antecipado ontem pelo Campo Grande News, o estudo revela ainda que 23% já disse que pretende não votar em 2020, enquanto 11% ainda pensa se vai ou não. Outros 2% não respondeu ao questionamento e 66% confirmou que irá à votação.
Campanha esvaziada - A reportagem foi ao Centro da Capital neste sábado e o cenário, que outrora seria de entrega maciça de santinhos, bandeiradas a cada esquina, entre outros, era bem mais tímido, mesmo faltando apenas 22 dias para o pleito municipal.
Em geral, os eleitores que conversaram com a reportagem afirmaram que preferem as campanhas assim, mais tranquilas e sem o tumultuo ao qual estávamos habituados. Essa queda na movimentação eleitoral em parte se deve às novas regras, algumas mais recentes e outras nem tanto assim, como a proibição de financiamento por empresas.
Contudo, se depender dos dirigentes partidários, esse período de tranquilidade deve dar uma trégua. Em consulta feita pelo Campo Grande News, a maioria deles afirma que nessa reta final deverá ser visto um ritmo mais acelerado da campanha, com intensificação de reuniões e demais aparições públicas dos candidatos, entre outras ações.