Só quem perdeu pela diferença de 40 eleitores sabe o poder de cada voto
Abstenção foi altíssima em Campo Grande no 1º turno: 25,50%, índice que poderia alterar muitos resultados
A máxima de que cada voto importa numa eleição fica clara no “placar” do primeiro turno de 2024 em Campo Grande. Na disputa de vereador, apenas 40 votos fizeram a diferença entre ser eleito para uma vaga na Câmara Municipal ou ficar de fora. No interior, o candidato Odair Pereira (PL) perdeu a prefeitura por 4 votos em Jateí.
Por aqui, com 3.244 votos, o vereador Ronilço Guerreiro (Podemos) foi reeleito, enquanto Júlio do Campo Nobre (Podemos), com 40 votos a menos (3.204) é suplente.
O candidato, que por pouco não virou vereador, não escondeu a frustração de perder a vaga. Ele, que é tesoureiro da UEFA-MS (União Esportiva de Futebol Amador de Mato Grosso do Sul), comparou a quantidade de votos com uma partida de futebol, que com pouco mais de dois times completos resolveria a eleição.
"Como que dói, né? 40 votos. A gente que mexe com o esporte, envolvido da Liga Terrão, fala que é praticamente é uma partida de futebol com as equipes, uma de cada lado com 20 atletas. Mas sabemos que a política não tem esse contexto. É uma questão de convencimento. Rodei 45 dias em busca desses votos empenhados, dedicados, a minha Brasília amarela não parou momento algum, mas um detalhezinho faltou para a gente poder concretizar esse objetivo", lamentou o candidato.
Situação parecida acontece no comparativo entre o vereador Otávio Trad (PSD) e a subtenente Edilaine Mansueto (PSD). A diferença foi de 79 votos. Otávio foi reeleito com 2.426 votos. A candidata recebeu 2.347 e é suplente.
No primeiro turno, a abstenção foi altíssima em Campo Grande: 25,50% do eleitorado não votou, total equivalente a 164.799 pessoas. O número é maior do que os resultados das candidatas que disputam o segundo turno para a prefeitura.
Adriane Lopes (PP) obteve 31,67%, somando 140.897 votos válidos, enquanto Rose Modesto (União Brasil) conquistou 29,56% (131.509 votos).
O total de faltantes em 2024 foi maior do que a abstenção na eleição de 2020, marcada pelo medo da pandemia. O resultado foi de 25,14%, quase 6 pontos percentuais maior do que nas eleições municipais de 2016.
Cientistas políticos ouvidos pelo Campo Grande News confirmam que, em eleições com um número elevado de candidatos, cada voto conta, podendo ser a diferença entre a vitória e a derrota.
Os especialistas concordam que é fundamental aumentar a conscientização sobre a importância do voto, especialmente entre os jovens, para garantir que cada cidadão compreenda seu papel na construção de um futuro político mais representativo e eficaz.
Daniel Miranda, cientista político, observa que, apesar da obrigatoriedade do voto, muitos eleitores se sentem desmotivados a comparecer às urnas. “As campanhas estão cientes disso e buscam alcançar o maior número possível de eleitores”, afirma. Ele acrescenta que estratégias como reuniões presenciais e comícios são essenciais para mobilizar a população.
Miranda também ressalta que a obrigatoriedade do voto na lei não se traduz na prática. “Desde que o eleitor justifique posteriormente e mantenha regularidade na Justiça Eleitoral, ele não enfrenta grandes prejuízos. Assim, o voto já é 'voluntário' em certa medida”, explica.
Tercio Albuquerque, também cientista político, destaca a falta de informação entre os eleitores mais jovens sobre a importância de votar. “A necessidade de que os candidatos criem um ambiente de propostas e enfatizem a relevância de cada voto é evidente”, adverte.
Ele também alerta para a desilusão com a classe política, que afasta muitos da participação eleitoral: “Vivemos dias de descrédito nos políticos, mas a política é um elemento do dia a dia de todos nós. Precisamos urgentemente de campanhas de conscientização sobre a importância do voto”.
Albuquerque critica a abordagem de muitos candidatos, que focam em atacar os adversários em vez de apresentar propostas claras. “Essa desilusão com os políticos gera a falsa ideia de que, ao não votar, o eleitor não tem responsabilidade sobre a gestão que será implementada. Ao se abster, ele se nega a fiscalizar e, mais importante, a exercer seu poder como cidadão”, enfatiza.
Mesmo com o voto obrigatório, a taxa de abstenção é preocupante e Albuquerque questiona o que ocorreria se o voto não fosse obrigatório: “Teríamos candidatos eleitos com um mínimo de votos, dada a abstenção resultante da falta de interesse pelos candidatos.”
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