Petrolão: Corrupção? Ideologia? loucura?
Todo ladrão mente e quase todo mentiroso rouba. A mentira, para o ladrão, é como a borda recheada de uma prazerosa pizza e através dos quais, o roubo e a mentira, ele concretiza os seus devaneios de poder, onipotência, graças aos quais supera seus sentimentos de insignificância, quando então delira ser superior a nós, a plebe dos homens comuns...
Mas em navegarmos mares de Mensalão a Cachoeira, de Cachoeira a Petrolão, não dá para, dentro da temática do roubo e da mentira, deixar de desembocar no universal flagelo da corrupção, uma forma sofisticada de roubo. Ou seja, apropriação de recursos públicos para uso particular ou manutenção e apropriação do poder, o inebriante poder. Inebriante, leitor, porque o poder, em si, com suas pompas, ritos e puxa-sacos, já satisfazem o narcisismo, a vaidade e as necessidades mais moderadas de compensação àquelas já citadas dores da alma apequenada.
Mas, com a apropriação de recursos públicos, geralmente fortunas, “o buraco é mais embaixo”, pois, através da corrupção, alimenta-se o sentimento de que “eu posso tudo”, sobretudo, quando esfrego na cara da sociedade, a minha impunidade! E roubar, apropriar-se, não é nada diante do sentimento de poder e onipotência que provem, justamente, da impunidade, a borda recheada da já inebriante pizza da corrupção. O corrupto impune é em si e para próprio deleite, uma grande e orgástica mentira!
Neste ponto, leitor, ouso trazer outro lado da questão, levantado pela Psicanalista Marion Minerbo, em seu artigo “Corrupção, poder e loucura: um campo transferencial”. Após apontar a corrupção como um tipo de loucura do sujeito que nada teme e relacionar tal “loucura” com a “criança-no –adulto” do corrupto, ou seja, seus aspectos infantis, aquela estudiosa nos apresenta a ideia de “poderoso”/”intimidado”, sentimentos que podemos trazer na alma.
Entende-se aqui que, antes de atuar como um que “a tudo posso”, o infeliz sentiu-se como “intimidado” e insignificante. Do ponto de vista coletivo, entretanto, para que um possa atuar como o “ a tudo posso”, é necessário que outro, na sociedade, atue como vitima, “intimidado, subserviente e siderado, que não se autoriza a sinalizar ao primeiro os limites de sua onipotência”.
No caso do “Mensalão”, expressão que quase foi proibida de ser usada pela imprensa, seus fatos se descortinaram desde a “CPI dos Correios”, graças aos testemunhos, investigação, relatórios e, sobretudo, ao eloqüente e delubiano silêncio de alguns inquiridos naquela CPI. Mais eis que, num mesmo exercício de poder, a Nação vê o Mensalão se tornar um joguinho de caça-níqueis interiorano, face a um Petrolão, onde mesmas e outras almas onipotentes ferem de morte a Petrobrás, um orgulho brasileiro, para depená-la, encher suas burras e de seus partidos políticos.
Parece saber-se claramente, hoje, onde estão os poderosos, os onipotentes, os acima do bem e do mal, da verdade. A Justiça, a Lei, com seus braços aperta o cerco, levando desespero à hoste dos onipotentes que deliravam seu “a tudo posso”. Seja por deformação de personalidade, seja por ideologia que lhes diz que a tudo podem, estão felizmente “enquadrados”, uns até vendo o sol nascer quadrado... A Nação aguarda outros passos da Lei e da Justiça para lavar a sua honra e restaurar nossos cofres, sim, nossos, mais uma vez dilapidados por delirantes da impunidade. Amém!
(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.