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Reportagens Especiais

Com vacinação e reabertura, MS vive dias de "morde e assopra" com a covid

Ano teve vacinação de crianças, liberação do uso de máscaras e temor com novas variantes da doença

Silvia Frias | 30/12/2022 08:39
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Na primeira semana de janeiro, fila quilométrica em frente ao centro de triagem, no centro. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na primeira semana de janeiro, fila quilométrica em frente ao centro de triagem, no centro. (Foto: Henrique Kawaminami)

O ano de 2022 se encaminha para terminar com sensação de “déjà vu”, repetindo os passos seguidos no início de 2021, quando o Estado registrou aumento dos casos de covid-19. A expectativa para um futuro próximo, porém, é mais otimista, com o resultado da campanha de vacinação e retomada de Programa Nacional de Imunizações.

A população já experimentava o gostinho da liberdade no fim de 2021 e extravasou nas festas de fim de ano. As consequências não tardaram a chegar: em janeiro, a população teve que enfrentar filas quilométricas para fazer exames de covid-19.

Para suprir a demanda, drive-thru foi aberto na Fiems. (Foto: Adriel Mattos)
Para suprir a demanda, drive-thru foi aberto na Fiems. (Foto: Adriel Mattos)

Na central instalada em frente à Praça do Rádio, as 600 senhas diariamente se esgotavam rapidamente. Era comum ver muita gente sentada ao longo da calçada, enquanto aguardava a chamada. Nas farmácias, a procura por testes também aumentou.

Na primeira semana do ano, os casos confirmados de covid quase dobraram. Foram 2.208 infecções confirmadas, sendo que em dezembro de 2021 foram 1.603 positivados. O índice da média móvel indicava pouco mais de 300 infecções diárias, enquanto a taxa anterior era de 100. Um outro drive-thru, na sede da Fiems (Federação das Indústrias de MS), foi aberto para suprir a demanda.

Ao longo do ano, a covid-19 ganhou variante, o temor renovado de 2022: a recombinação do vírus denominada ômicron, a primeira de outras nomenclaturas que ficaram conhecidas: depois vieram a delta, a deltacron e a subvariante Ômicron BQ.1.

Vacinação de crianças de 5 a 11 anos começou em março. (Foto: Henrique Kawaminami)
Vacinação de crianças de 5 a 11 anos começou em março. (Foto: Henrique Kawaminami)

A grande expectativa dos pais era pela inclusão de crianças de 5 a 11 anos no calendário vacinal, o que foi oficializado ainda em janeiro pelo Ministério da Saúde. A vacinação foi gradual e os pais tinham receio da proximidade da volta às aulas, já anunciada como presencial.

Em universidades, o retorno presencial era condicionado ao comprovante de vacinação, o que gerou polêmica. Na Reme (Rede Municipal de Ensino), o início das aulas foi adiado de fevereiro para março, por conta do alto índice de atestado de profissionais da Educação, infectados pela covid.

A preocupação com o aumento de casos fez muitos municípios colocarem o pé no freio e várias prefeituras cancelaram a programação de Carnaval para fevereiro e março. Campo Grande, por exemplo, adiou o desfile das escolas de samba para abril. Em São Gabriel do Oeste, a prefeitura exigiu “passaporte vacinal” para shows e eventos.

Na corrida contra o recrudescimento da doença, ainda em fevereiro, a 4ª dose para profissionais da saúde e idosos passou a ser liberada a partir de fevereiro. A imunização também foi realizada nas escolas municipais, duas semanas antes do início do ano letivo.

Giovana, 7 anos, foi vacinada na Escola Municipal Professora Ana Lúcia de Oliveira Batista, no Jardim Paulo Coelho Machado. (Foto: Marcos Maluf)
Giovana, 7 anos, foi vacinada na Escola Municipal Professora Ana Lúcia de Oliveira Batista, no Jardim Paulo Coelho Machado. (Foto: Marcos Maluf)

A partir de março, o avanço da vacinação fez as autoridades sanitárias iniciarem a flexibilização das restrições. O primeiro foi o governo do Estado, que desobrigou totalmente o uso de máscara. A Prefeitura de Campo Grande fez liberação parcial, mantendo limitações para áreas fechadas e, no fim do mês, também ampliou a concessão, exceto em ônibus e hospitais.

Com base na redução dos índices de infectados e mortos, além do avanço, ainda claudicante da vacinação, o Ministério da Saúde anunciou o fim da emergência de saúde pública em decorrência da pandemia.

Casos de dengue, covid e gripe lotam postos de saúde. (Foto: Marcos Maluf)
Casos de dengue, covid e gripe lotam postos de saúde. (Foto: Marcos Maluf)

A população relaxou, a procura por testagem caiu, mas a covid-19 ainda foi tema presente em 2022. A subnotificação da doença, além da gripe e dengue, dificultaram o mapeamento, mas as filas dos postos eram de pacientes de todas esses casos. Infectados no ano anterior enfrentavam as sequelas persistentes.

O relaxamento também afetou a vacinação, e o governo estadual pediu autorização do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral) para dar publicidade institucional à campanha de multivacinação, no período eleitoral, em agosto. “Mato Grosso do Sul apresentou, em apenas uma semana, 3.034 novos casos e 18 óbitos. Mais de 5,8 milhões de doses da vacina já foram aplicadas em todo o Estado, mas apenas 78,68% da população completou o quadro vacinal, o que compromete a eficácia da imunização coletiva”.

Seguindo o “morde e assopra”, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o fim da obrigatoriedade de máscaras em aviões. Em Campo Grande, a prefeitura liberou o uso do equipamento no transporte coletivo. A partir daí, a administração apenas recomendou o uso do item.

Flexibilização do uso de máscaras começou em locais abertos, como nas ruas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Flexibilização do uso de máscaras começou em locais abertos, como nas ruas. (Foto: Henrique Kawaminami)

No fim do ano, a exemplo do que aconteceu na virada 2021/2022, Campo Grande registrou aumento de infecção por covid, o que determinou emissão de alerta epidemiológico.

O alerta traz detalhes do período entre 15 de novembro e 15 de dezembro. Na data de 15 de novembro, foram 14 casos confirmados da doença na Capital. Já em 15 de dezembro, foram 152 confirmações num único dia em Campo Grande.

No fim do ano, o Ministério da Saúde decidiu ampliar o uso da vacina da Pfizer contra a covid-19 para todos os bebês e crianças entre 6 meses e 4 anos e 11 meses. Até então, o governo federal havia distribuído as primeiras doses da chamada "Pfizer Baby" apenas para as crianças de 6 meses a 2 anos e 11 meses que tivessem alguma comorbidade.

Expectativa – O novo secretário Estadual de Saúde, Maurício Simões Corrêa, disse ao Campo Grande News que a pandemia foi um divisor de águas para a saúde pública e privada. "Eu não acredito mais que a pandemia terá um novo pico, capaz de fazer o que a gente viveu”, entretanto, sustentou que “o maior desafio é o efeito pós-pandemia”.

Já o recém-empossado secretário Municipal de Saúde, Sandro Benitez, disse que o sistema ficou focado por dois anos na covid-19 e agora tem mais desafios a enfrentar.

Missa de Corpus Christi no centro da Capital reuniu multidão. (Foto: Paulo Francis)
Missa de Corpus Christi no centro da Capital reuniu multidão. (Foto: Paulo Francis)

O coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, avaliou que é preciso olhar 2022 com perspectiva histórica. “Quando comparamos com 2021, é indiscutivelmente um ano mais tranquilo; embora tenha número infinitamente maior de casos de covid, proporcionalmente, tem gravidade menor, graças ao papel das vacinas”.

Venâncio alerta que, no viés de gestão pública, os problemas enfrentados em 2021 se repetiram em 2022, com desabastecimento de insumos e aumento na fila de exames. Lembrou que o governo precisou importar SWAB para exame de secreção, máscaras, luvas e até respiradores.

No 2º semestre, volta às aula teve toque, abraço e acolhimento. (Foto: Henrique Kawaminami)
No 2º semestre, volta às aula teve toque, abraço e acolhimento. (Foto: Henrique Kawaminami)

O infectologista, porém, se diz otimista, principalmente, com a reformatação do Programa Nacional de Imunização, além de outras áreas da saúde, como retomada da Farmácia Popular. Sem recortes políticos, diz que a reconstrução do sistema de saúde é tarefa da sociedade.

“Imunização não é tarefa de pensamento ou corrente social, é tarefa como um todo”, disse. “Precisamos ter maturidade suficiente, eleições terminaram, agora, é reconstrução da saúde pública, quase um processo pós-guerra”.

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