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Comissão de revisão histórica quer mudar data de aniversário para junho

Documento entregue no dia 9 de novembro na Câmara de Vereadores defende aniversário na data em que foi criado o Distrito de Paz de Dourados, em 15 de junho de 1914

Helio de Freitas, de Dourados | 17/12/2015 07:27
Comissão de revisão histórica quer mudar data de aniversário para junho
Cidade de Dourados, que neste domingo completa 80 anos; comissão quer mudar data de aniversário (Foto: Eliel Oliveira)
Cidade de Dourados, que neste domingo completa 80 anos; comissão quer mudar data de aniversário (Foto: Eliel Oliveira)

Neste domingo, 20 de dezembro, Dourados comemora 80 anos de emancipação. Mas, para a Comissão de Revisão Histórica que há anos vasculha documentos sobre o surgimento do povoado e da emancipação da cidade, o aniversário deve ser em 15 de junho, data em que foi instalado o Distrito de Paz de Dourados, no ano de 1914. Ou seja, além da mudança da data de aniversário, esse grupo de historiadores defende também a tese de que a cidade deveria comemorar agora 101 e não 80 anos.

O Campo Grande News teve acesso ao “Relatório 01, A História da gênese da formação de Dourados”, elaborado pelo professor e historiador Carlos Magno Mieres Amarilha, presidente da Comissão de Revisão histórica de Dourados. O documento foi entregue à Câmara de Vereadores no dia 9 de novembro deste ano.

Segundo ele, o relatório é uma análise dos documentos oficiais – leis, decretos e resoluções – instituídos pelo governo do Estado de Mato Grosso e relacionados com a cidade de Dourados no período de 1900 a 1935, bem como sobre povoado do Patrimônio de Dourados, que se tornou a sede do território do Distrito de Paz de Dourados, em 1914.

“Conforme as pesquisas realizadas até o momento, tudo indica que foi no final do século XIX e início do século XX que começa a efetivar-se uma população não índia entre fazendeiros e agregados nos contornos do território que daria origem ao município de Dourados. Após a Guerra do Paraguai, há uma ocupação efetiva por fazendeiros das terras conquistadas e das demais terras nas faixas de fronteiras; essas terras eram conhecidas como ‘devolutas’.

Praticamente, em todo o território do extremo sul do estado de Mato Grosso, desde o final do século XIX e início do século XX, as terras devolutas eram cedidas para uma empresa que ficou conhecida como a ‘Companhia Mate Larangeira’, que extraía a erva mate nativa desta região para levar até Buenos Aires, capital da Argentina”, afirma o relatório.

Decreto do Distrito de Paz – O documento aponta como prova cabal para embasar a proposta de alteração na data de fundação da cidade a Lei nº 658, de 15 de junho de 1914, criando o Distrito de Paz de Dourados com sede no “Patrimônio dos Dourados”, constituída no governo de Joaquim Augusto da Costa Marques.

Outras leis e decretos estabelecidos desse ano em diante, até a fundação oficial, em 1935, também são relacionados no documento, entre eles o decreto nº 401, de 3 de setembro de 1915, assinado pelo governador Caetano Manuel de Faria Albuquerque, criando a “colônia de índios de Dourados”, em uma área reservada de 3.600 hectares de terras, em limite com o “Patrimônio de Dourados”. A área é a atual reserva de Dourados, formada pelas aldeias Bororó e Jaguapiru.

Também é citado o decreto nº 402, de 3 de setembro de 1915, reservando 3.600 hectares de terras para a criação do povoado de Dourados. Oito anos depois foi editado o decreto nº 616, de 20 de janeiro de 1923, assinado pelo governador Pedro Celestino Corrêa da Costa, reservando 50 mil hectares de terras para a colonização de ‘não índios’, situada entre os rios Brilhante e Panambi, no então município de Ponta Porã, em área pertencente ao distrito do Patrimônio de Dourados.

“A lei 658 é o primeiro documento oficial mais antigo relacionado ao atual município de Dourados e o qual se cria oficialmente o Distrito de Paz de Dourados, pertencente ao município de Ponta Porã, com sede no Patrimônio de Dourados. O município de Ponta Porã foi criado por meio da Resolução n.º 617, de 18 de julho de 1912, sancionada pelo governador Joaquim Augusto da Costa Marques e instalada a Prefeitura de Ponta Porã em 25 de março de 1913, sendo nomeado como primeiro Intendente (na época os prefeitos eram chamados de intendentes) o Major Ponciano de Mattos Pereira, fazendeiro da região do Patrimônio de Dourados”, afirma o relatório.

Resultado de lutas e desafios – “O Distrito de Paz de Dourados, criado pela Lei n.º 658 de 15 de junho de 1914, é o primeiro documento oficial relacionado com a cidade de Dourados e o reconhecimento como a sede do distrito de um lugar que efetivamente tinha um aglomerado de pessoas, o pequeno povoado conhecido como Patrimônio de Dourados. Sendo assim, o dia 15 de junho é a data mais antiga em termos oficiais que se refere à atual cidade de Dourados, uma conquista dos moradores desta região. É o resultado de muitas lutas, entreveros, desafios, atitudes, coragens, armas, sangues e muitas articulações políticas, com as lideranças de Cuiabá e de Ponta Porã para poder se efetuar de fato em um Patrimônio conhecido como Dourados. Daí a importância de se comemorar o dia da criação do Distrito de Paz de Dourados em 15 de junho”, diz trecho do relatório da comissão.

Magno Mieres Amarilha conclui o estudo com um apelo aos atuais legisladores: “Temos que incluir na História de Dourados o dia 15 de junho, um dia de Dourados, de cantar a sua história e a sua cultura, com beleza, paz e amor. Afinal o dia 15 de junho representa o reconhecimento do Patrimônio de Dourados como sede oficial do Distrito de Paz de Dourados, significa lembrar-se de onde viemos, a nossa origem, na sociedade ervateira e de famílias que enfrentaram as barbáries, as matas fechadas, com coragem, determinação e lutaram para transformar em uma primorosa cidade”.

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