Em ano violento, Campo Grande foi palco de 130 execuções
Ano vai fechar com 130 assassinatos, são 22 casos a mais se comparados com 2021
Jovem encontrado morto com as mãos amarradas após denúncia de estupro. Mãe que doou órgãos de filho, mas do corpo crivado de tiros, só as córneas foram extraídas. Pecuarista morta em simulação de assalto que deu errado. Em 2022, centenas de crimes violentos foram noticiados pelo Campo Grande News. A maioria dos casos foi solucionado pela polícia e os suspeitos identificados e presos. São casos bárbaros que chocaram Campo Grande pela crueldade e ousadia dos bandidos.
Muitos dos assassinatos registrados na cidade estão relacionados com o tráfico de drogas e a expansão das facções criminosas, o PCC (Primeiro Comando da Capital), que nasceu nas penitenciárias de São Paulo, e o CV (Comando Vermelho), nos presídios do Rio de Janeiro.
O ano vai fechar em Campo Grande com 130 homicídios dolosos, são 22 casos a mais se comparados com 2021, quando foram 108 registros desta natureza. De crimes violentos, a capital sul-mato-grossense só perde para a faixa de fronteira (Paraguai e Bolívia), composto por 45 municípios, que contabilizou 208 homicídios neste ano.
Em todo o MS, 433 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos, de acordo com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). O mês mais sangrento no Estado foi outubro, com 54 mortes.
Sentença de morte - Em abril, denúncia de estupro contra uma menina de 11 anos foi sentença de morte para Felipe Batista de Carvalho, de 19 anos. O corpo dele foi encontrado com as mãos amarradas, em mata localizada às margens de estrada vicinal, na região do Jardim Santa Emília. Pelo crime, seis pessoas foram indiciadas, entre elas, a mãe da criança. Felipe foi morto durante julgamento "informal" de facção criminosa, na região da invasão da Homex, e depois, teve o corpo desovado onde foi localizado.
Corpo crivado de balas - No dia 25 de julho, Rogério Baez Fernandes, de 19 anos, foi executado com dez tiros de pistola .40 e 9 mm (milímetros) por dois homens armados, no Jardim Noroeste, na Rua da Conquista. A mãe dele, Fabíola Baez, doou os órgãos do filho, mas por causa da quantidade de tiros que o rapaz levou, apenas as córneas foram aproveitadas.
A vítima foi assassinada menos de 24 horas após ser acusada de estuprar menina de 4 anos. O fato, denunciado por um familiar da criança, foi investigado e descartado pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança). Meses depois, a Polícia Civil informou que já tinha suspeito e a execução havia sido motivada por dívida de drogas.
Pecuarista morta - No dia 28 do mesmo mês, a pecuarista Andreia Aquino Flores, de 38 anos, foi vítima de latrocínio, roubo seguido de morte, no condomínio de luxo onde morava, no Bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande.
As empregadas da vítima, Lucimara Rosa Neves, de 43 anos, Jéssica Neves Antunes, de 24 anos, mãe e filha, e o parente delas, Pedro Benhur Ciardulo, de 20 anos, confessaram o crime. A ideia do trio era conseguir que a vítima fizesse Pix de R$ 50 mil, mas o plano deu errado. A pecuarista reagiu ao assalto e acabou asfixiada.
Fuzilado em festa de aniversário - Na manhã do dia 18 de setembro, Fábio Henrique dos Santos da Silva, de 38 anos, foi fuzilado no aniversário do filho de 11 anos, em um espaço de festa na Rua Cenira Soares Magalhães, no Parque do Lageado. Fábio foi executado com ao menos 13 tiros, a maioria deles na cabeça, por dupla em uma motocicleta que invadiu o local onde a família comemorava o aniversário da criança. Pelo menos 32 tiros foram disparados no local.
Família executada - No dia 3 de outubro, Leandro Gonçalves Martinez, de 23 anos, foi executado com 11 tiros por atiradores em carro branco, na calçada de uma casa, na Vila Aimoré, na região da Avenida Guaicurus. Ele tinha passagens pela polícia por tráfico de drogas e era suspeito de matar o paraguaio Félix Ruben Martinez Fernandez, de 41 anos, em Ponta Porã.
Vinte e três dias depois, a irmã e o cunhado de Leandro foram executados. Ana Cláudia Gonçalves Martinez, de 46 anos, e Pedro Celso Ajala Sanguina, de 45 anos, foram surpreendidos pelo atirador e baleados quando chegavam na casa onde viviam, na Rua Circe, no Portal Caiobá.
Marcados para morrer - À polícia, a ex-cunhada de Ana Cláudia disse que a família era ameaçada de morte por traficantes paraguaios. O irmão mais velho de Ana Cláudia e de Leandro, que não teve o nome divulgado, está preso por ter cometido cerca de sete homicídios na cidade de Ponta Porã e no país vizinho.
Mais um - A matança não parou por aí. No dia 11 de novembro, Carlos Anhasco Espinaço, de 39 anos, foi morto a tiros enquanto construía muro de casa, em Ponta Porã. Ele era genro de Ana Cláudia e Pedro Celso. Na ocasião, a polícia informou que os crimes estavam interligados. Nos últimos 12 anos, Ana Cláudia teve cinco irmãos assassinados.