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Reportagens Especiais

Nascidos com o Campo Grande News, leitores viveram a saga da internet

Maior portal de Mato Grosso do Sul completa 20 anos nesta segunda-feira, são duas décadas, milhões de histórias e leitores

Aline dos Santos | 04/03/2019 06:10
Assim como o Campo Grande News, Nathan comemora 20 anos em 2019.  (Foto: Reprodução/Facebook)
Assim como o Campo Grande News, Nathan comemora 20 anos em 2019. (Foto: Reprodução/Facebook)

O Campo Grande News nasceu em 4 de março de 1999. Quando muitos ainda se reuniam para ver a “novela das 8” Terra Nostra na televisão, o celular era apelidado de “tijorola” e internet exigia paciência pelo acesso discado.

Para tamanha viagem no tempo, nem é preciso boa memória, hoje a questão se resolve rápido, em breves cliques e acesso ao mundo virtual.  Agora corriqueira e na palma da mão, a então rede mundial de computadores foi uma grande aposta do Campo Grande News, que desde a origem é exclusivamente eletrônico, apesar de muita desconfiança de quem teimava na sobrevivência do jornal impresso.

Num paralelo, o Campo Grande News abre espaço para outros aniversariantes que chegam aos 20 aninhos em 2019. Nossos leitores lembram a saudade do Orkut e da saga até ter um computador exclusivo, sonho de consumo para quem usava o aparelho na sala de casa. Muita coisa mudou de maneira inimaginável após duas décadas, como a preferência hoje por ler o noticiário pela timeline das redes sociais.

Citando sua própria linha do tempo, o universitário Nathan Brito Alves, que nasceu em 18 de julho de 1999, conta que o computador apareceu bem cedo em sua vida. “Comecei a usar quando aprendi a ler, lá pelos meus quatro anos”, diz.

O computador o aproximava dos parentes que moravam em outros estados. No começo, o item era de uso coletivo, literalmente um bem de família. “Fui ter um computador só para mim quando tinha uns 14 anos, quando os preços se tornaram mais acessíveis”, lembra

As predileções de adolescente eram o bate-papo no MSN e Orkut, rede social que fez muito sucesso entre os brasileiros, mas fechou as portas em 2014. O tempo passou e preferência moderna virou smartphone, onde se lê as notícias que surgem na timeline do Facebook. “É o principal meio de chegar até elas. Se tem alguma coisa que não sei onde procurar no Facebook, pesquiso no Google e acho os portais de notícias”, conta Nathan.

Caroline França, outra jovem aniversariante de 1999. (Foto: Reprodução/Facebook)
Caroline França, outra jovem aniversariante de 1999. (Foto: Reprodução/Facebook)

Nascida em 26 de fevereiro de 1999, Caroline França Rodrigues também tem memórias do computador de uso doméstico e coletivo. Primeiro, o contato com a internet foi em cyber café e lan house, locais em que o acesso a computadores é pago, mas que pouco se vê na atualidade.

“A internet era bem ruim, não se conseguia mexer muito bem”, recorda. As principais atrações virtuais eram Orkut e joguinhos. Em 2019, as redes sociais marcam o ritmo do cotidiano, com acesso diário a Facebook, Instagram e aplicativo WhastApp. “Leio a maioria das notícias pelo Facebook”, conta a jovem sobre como acessa o noticiário do Campo Grande News.

O tempo é agora – O modelo online abalou um dos pilares do jornalismo: era o fim do deadline, aquele prazo limite para que as notícias entrassem no ar, que ditava o ritmo nas redações. Na era da internet, os jornalistas viram verso de Vinícius de Moraes: “Meu tempo é quando”.

A jornalista Maristela Brunetto, que foi repórter e editora no Campo Grande News, destaca o protagonismo. “Foi um marco na cidade e em Mato Grosso do Sul. Foi possível um alcance e interação que à época o jornal impresso e as emissoras de televisão não tinham como oferecer. Isso fez com que os leitores contribuíssem muito com informações, telefonando, enviando e-mails com fotos, e possibilitou o veículo noticiar muitos fatos em primeira mão e se consolidar em seu pioneirismo”, afirma.

Equilibrar um jornal sem deadline, com missão de informar em tempo real, mas sem deixar de lado a reportagem, também exigiu adaptação dos profissionais.

“Foi um desafio aliar o cuidado com a apuração dos fatos e a agilidade que o jornalismo on line exigia. Além da correria dos fatos do dia-a-dia, não abrimos mão da reportagem, da denúncia, da investigação do poder público. Sempre gostei muito de darmos voz à comunidade para seus problemas, para suas dificuldades, iniciativas, cobranças", diz Maristela, que ingressou no site de notícias em 2003, após atuar em TV e jornal impresso.

Com o Campo Grande News completando 20 anos e rumo ao futuro, ela lembra a importância do noticiário de qualidade em tempos de desconfiança com a imprensa e fake news. “Considero que é a grande oportunidade do bom jornalismo de se destacar e se firmar. Nesse contexto, não vejo em Campo Grande melhor veículo que o Campo Grande News para ocupar esse papel pioneiro de reforçar que só o jornalista informa com credibilidade”, afirma. 

Em 2007, morte de garoto Dudu, aos 10 anos de idade, foi um dos assuntos que parou a redação do Campo Grande News.
Em 2007, morte de garoto Dudu, aos 10 anos de idade, foi um dos assuntos que parou a redação do Campo Grande News.

Em 20 anos, o jornalista também mudou. Mais do que nunca, é o sujeito que faz de tudo um pouco. Precisa entrevistar, escrever, diagramar, garantir a imagem ideal e, com o 4G na praça, comunicar também em vídeo.

As multiplataformas e a necessidade de convergência de recursos exigem cada vez mais do profissional, alvo de leitores que não perdoam qualquer deslize na humanidade que persiste nas redações, mesmo em um portal com mais de 20 milhões de visualizações ao mês e novos conteúdos chegando a cada minuto. 

Quem resiste? - Nos oito anos em que esteve no time do Campo Grande News, a jornalista Fernanda Mathias lembra de muitos temas impactantes e que marcaram época. "Alguns chocantes pelo enredo bizarro, como os assassinatos em série de Rio Brilhante, outros revoltantes por seus diversos contornos, como a morte do menino Rogerinho, em 2009, durante uma briga de trânsito".

Embora a atuação dela fosse mais atrelada às editorias de Economia e Agropecuária, a jornalista participou de várias coberturas de revirar o estômago. "Uma delas foi o caso Dudu, em 2007, um emaranhado sombrio que levou anos a fio para ter resolutividade, despertando clamor público. 'O que aconteceu com esse menino?', era o que todos nos perguntávamos e a cada novo fato que surgia o caso ficava mais macabro", comenta sobre o menino que hoje seria mais velho que o Campo Grande News. Vivo, Dudu teria 22 anos.

Não menos escabroso, lembra Fernanda, o caso “Maníaco da Cruz” exigiu uma verdadeira força-tarefa da redação para descobrir os meandros do jovem assassino em série: Quem era? Como vivia? O que o motivou? Rio Brilhante nunca mais seria a mesma.

De tantas histórias que marcaram, foi a do menino Rogerinho a que devastou a repórter. "Soube no exato momento em que ocorreu, por uma fonte que presenciou, noticiamos o caso e a cobertura teve continuidade no turno seguinte. Foi um baque quando me ligaram dizendo que ele não tinha resistido. Casos que envolvem crianças sempre fazem emoções aflorar e este tinha os ingredientes certeiros para o desfecho trágico: trânsito, nervos, arma. O Rogerinho não resistiu à estupidez. Impossível não chorar. Quem resiste?", comenta a repórter que, felizmente, não perdeu a sensibilidade, apesar de 8 anos de cobertura diária no Campo Grande News.

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