A competência em informação no ensino superior brasileiro
O acesso às informações e a forma como se lida com elas têm passado por intensas mudanças. Além disso, a emergência de tecnologias que agilizam o fluxo dessas informações causou mudanças já bem conhecidas nos âmbitos social, econômico e cultural. E também impactou a atuação do bibliotecário, um profissional cujo objeto de trabalho é a informação.
Hoje esse profissional atua em iniciativas para combater a desinformação e todos os seus malefícios. Nesse sentido, a competência em informação é fundamental para esses profissionais, pois consiste em um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes voltados para identificar, localizar, avaliar e utilizar eficazmente a informação, sempre com uma perspectiva reflexiva, consciente, crítica e responsável.
Partindo dessa premissa e considerando que, para poder lidar com as demandas informacionais, o profissional precisa ser preparado na sua formação, a autora averiguou se os cursos superiores em Biblioteconomia no Brasil estão tratando a competência em informação na matriz curricular e de que maneira isso vem sendo feito, a partir da análise das ementas e dos projetos político-pedagógicos das disciplinas ministradas.
A partir de estudo dos principais autores da área, definiu-se que a temática se configura um processo de ensino: aprendizagem que orienta os indivíduos para que alcancem as competências necessárias para lidar com a informação. Nem todas as disciplinas de competência em informação, entretanto, tratam dessa abordagem em suas ementas.
A partir de levantamento documental realizado na plataforma do Ministério da Educação, foi possível verificar que há, no Brasil, 53 cursos de Biblioteconomia ativos. Desses, 27 possuem disciplinas que abordam o tema, ainda que no escopo de atividades com outras temáticas.
Apenas nove cursos oferecem cadeiras específicas de competência em informação: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No caso da UFRGS, a disciplina entrou recentemente no currículo como obrigatória, sendo ofertada pela primeira vez neste semestre de 2023/1.
As regiões Sudeste, Nordeste e Sul têm uma maior predominância de instituições de ensino superior cujos cursos de Biblioteconomia oferecem disciplinas de competência em informação. Uma explicação para isso pode estar no fato de essas regiões terem um maior número de pesquisadores cujo interesse de investigação está voltado para a competência em informação.
Também foi possível averiguar que, no que se refere ao total de disciplinas ministradas, ao todo temos 41 disciplinas que abordam a competência em informação como assunto específico ou conteúdo programático complementar de outra disciplina, sendo 33 disciplinas obrigatórias e 9 eletivas.
Em contrapartida, ao se analisarem as ementas dessas disciplinas, percebeu-se que, apesar de direcionarem o conteúdo para a competência em informação, a abordagem é pouco voltada à educação em informação, ou seja, o foco é mais instrumental e centrado na gestão de unidades de informação em detrimento da formação de pessoas para usarem a informação.
A partir desses resultados e da emergência da desinformação, percebe-se a necessidade de abordar esse assunto na formação do bibliotecário de forma a desenvolver, aprimorar e dar subsídios para que esse profissional possa promover a competência em informação entre o público com o qual atua.
Por isso, a expectativa diante desse cenário é de que esta pesquisa seja usada por gestores, coordenadores e professores que compõem o corpo docente de suas respectivas instituições de ensino, de forma a refletir sobre a formação dos bibliotecários como educadores em informação.
(*) Renata Farias Machado é graduada em Biblioteconomia e também possui formação de nível Técnico em Biblioteconomia pelo IFRS – Câmpus Porto Alegre.