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A cultura do confronto: você é uma pessoa bélica?

Por Cristiane Lang (*) | 01/11/2024 14:30

A ideia de ser “bélico” pode ser entendida de várias maneiras. No contexto mais direto, refere-se a uma disposição para o confronto, conflito ou violência. No entanto, a guerra e o uso da força não são apenas questões de armamento; são também expressões de mentalidades, atitudes e políticas que priorizam a força e a imposição sobre o diálogo e a cooperação. Neste artigo, vamos explorar a diferença entre uma postura bélica e uma abordagem mais centrada no diálogo, na resolução pacífica de conflitos e na colaboração.

O Que Significa Ser Bélico?

Ser bélico, em seu sentido literal, implica uma atitude voltada para o combate ou para a guerra. Pode envolver tanto ações militares quanto uma mentalidade que favorece o confronto direto como solução para problemas. Indivíduos ou nações bélicas tendem a ver o conflito como inevitável ou até desejável, acreditando que o uso da força é a melhor ou única maneira de alcançar objetivos.

Essa abordagem pode parecer eficaz em algumas circunstâncias, especialmente em contextos de autodefesa ou quando não há outra opção para evitar uma ameaça iminente. No entanto, quando aplicada indiscriminadamente, essa postura leva a uma escalada de tensões e a uma perpetuação da violência. Além disso, a atitude bélica pode se manifestar não apenas em guerras declaradas, mas também em interações interpessoais e políticas, criando um ambiente onde a agressividade e a imposição de poder se tornam normais.

A Mentalidade da Guerra na Vida Cotidiana

O conceito de ser bélico não se limita aos campos de batalha. No dia a dia, pode ser visto em como as pessoas lidam com conflitos no trabalho, em casa ou na sociedade. Aqueles com uma mentalidade bélica frequentemente abordam problemas com uma postura de “nós contra eles”, acreditando que é necessário derrotar ou subjugar o outro lado para prevalecer. Essa mentalidade é prevalente em ambientes competitivos, onde a colaboração e o entendimento são relegados em favor de estratégias que maximizem ganhos individuais ou grupais.

Nas relações interpessoais, por exemplo, uma abordagem bélica pode se manifestar como agressividade, inflexibilidade e uma resistência a ouvir o outro lado. O confronto se torna a primeira resposta, e a resolução de conflitos pacífica, muitas vezes, é vista como um sinal de fraqueza ou capitulação. Essa postura pode gerar ciclos de conflito contínuo, onde ambas as partes saem prejudicadas.

Alternativas à Postura Bélica

Embora o confronto seja, em alguns casos, inevitável, a maior parte das situações permite alternativas que priorizam o diálogo, a empatia e a cooperação. A resolução pacífica de conflitos é uma abordagem que busca solucionar divergências por meio de conversas construtivas e de negociações em que todas as partes envolvidas são ouvidas. Ao invés de enxergar o conflito como uma batalha a ser vencida, ele é visto como um problema a ser resolvido em conjunto.

Além disso, a comunicação não violenta oferece ferramentas para que as pessoas possam expressar suas necessidades e frustrações sem recorrer à agressividade. Essa abordagem ensina que é possível lidar com conflitos de maneira assertiva, sem escalar para a violência ou para o confronto aberto.

O Valor da Diplomacia e do Compromisso

No campo das relações internacionais, a diplomacia oferece uma alternativa viável à postura bélica. Em vez de resolver tensões por meio de guerras e confrontos, diplomatas trabalham para criar acordos, compromissos e soluções que preservem os interesses de todas as partes envolvidas. A diplomacia preventiva busca evitar que tensões escalem ao ponto de guerra, mostrando que o uso da força não é a única forma de resolver crises.

Muitas vezes, aqueles que adotam uma postura bélica subestimam o poder do diálogo e do compromisso. Eles veem a diplomacia como uma forma de fraqueza ou concessão. No entanto, os maiores acordos de paz da história foram resultado de negociações habilidosas, e não de batalhas vencidas no campo de guerra.

Desafios Contemporâneos

Atualmente, em um mundo onde as redes sociais amplificam os conflitos, a cultura do confronto se espalhou para outras esferas, promovendo divisões em várias áreas. Políticos, líderes empresariais e figuras públicas muitas vezes adotam uma postura bélica no discurso, polarizando a sociedade e incentivando a mentalidade de que estar em lados opostos significa ser inimigo. Essa cultura torna difícil construir pontes e encontrar soluções para desafios complexos, desde questões ambientais até desigualdade social.

No entanto, há uma crescente conscientização de que precisamos adotar uma postura menos bélica, tanto no nível pessoal quanto global. Há um movimento em direção à resolução pacífica de conflitos, à promoção de diálogos construtivos e à construção de comunidades mais coesas.

Ser bélico não é apenas uma questão de estar em guerra física, mas de adotar uma mentalidade que favorece o confronto e a imposição da força. Embora essa postura possa ser necessária em contextos muito específicos, ela geralmente gera mais conflitos do que resolve. A alternativa a essa mentalidade é uma abordagem centrada no diálogo, na cooperação e na busca por soluções conjuntas.

No mundo contemporâneo, precisamos de menos atitudes bélicas e mais atitudes baseadas na empatia, na escuta ativa e na colaboração. O verdadeiro poder está em construir pontes, e não em vencer batalhas.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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