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Amigos – na rede ou fora dela

Christina Maria Pedrazza Sêga (*) | 20/07/2022 10:00

No Dia do Amigo, comemorado no Brasil e em muitos países no dia 20 de julho, nada mais oportuno que falarmos da relação de amizade entre as pessoas e os laços que se fortalecem entre aqueles que chamamos de amigos ou amigas, muitos deles estabelecidos na infância, adolescência, na vida adulta ou nas redes sociais de comunicação. Vários pensadores e personagens da história antiga, medieval, moderna e contemporânea dedicaram-se ao tema da amizade como forma de analisar as comunidades e sociedades no decorrer de sua evolução.

Conforme consta nos textos filosóficos, Aristóteles foi um dos primeiros, se não o precursor, que deu relevante importância para o estudo da amizade como forma de estabelecer relações sociais no mundo civilizado. Esse filósofo grego, nascido em 384 a.C, entendia a amizade como sendo uma relação mútua e prazerosa entre os cidadãos da pólis ou cidade. Para ele, a amizade deveria ser, antes de tudo, uma relação harmônica e esse assunto é tratado em Ética a Nicômano e em Arte Retórica e Arte Poética. Nesta segunda obra, Aristóteles elencou os motivos pelos quais amamos ou odiamos alguém, ressaltando o valor de se granjear amigos já que o homem é um ser social e político, pela sua natureza, por viver na pólis.

De acordo com Aristóteles,  amigo é  aquele que quer para o outro aquilo que quer para si; quando os bens e os males são comuns entre ele e o outro;  aqueles que não tememos e em que depositamos confiança; elogiam as qualidades que possuímos e,  principalmente, aquelas que receamos não possuir; os que não se opõem a nós quando estamos irados ou preocupados; os que nos assemelham, dentre outras características do verdadeiro amigo. Argumenta que as espécies de amizade são: a camaradagem, a familiaridade, o parentesco e as ligações do mesmo gênero. O que produz a amizade é a benevolência, os serviços prestados sem que tenham sido solicitados e sem que, posteriormente, sejam publicados. A partir dele, tantos outros filósofos discorreram sobre esse tema, incluindo Cícero em sua obra A Amizade. Uma grande estudiosa contemporânea sobre esse assunto é Anne Vincent-Buffault com seu livro Da amizade: uma história do exercício da amizade nos séculos XVIII e XIX.

No mundo contemporâneo, estudiosos da cibercultura vêm dedicando suas reflexões sobre as relações virtuais, próprias da sociedade globalizada e tecnológica, resultantes das novas tecnologias de comunicação. Na atual sociedade em que as relações virtuais ganham espaço nas nossas vidas devido a expansão das redes sociais, os amigos dos tempos de outrora, conquistados de forma tradicional, estão sendo relegados a segundo plano, dando lugar a pessoas que nunca vimos e que chamamos de "amigos".

Pesquisas acadêmicas vêm sendo feitas no campo da cibercultura onde o espaço de diálogo e trocas de informações é conhecido por ciberespaço. O prefixo "ciber" é oriundo do grego e significa "controle". Só que aquilo que, a priori, deveria controlar ou ser controlado em relação ao seu conteúdo e usuários, perdeu essa característica e essa possibilidade. Algumas pesquisas verificaram que os internautas são tão solitários que sentem a necessidade de colocarem nas suas redes de relacionamento, como o Facebook, Instagram e Twitter, uma lista imensa de amigos virtuais para suprirem essa solidão. Concluíram que quanto maior a lista de amigos virtuais, mais sozinho está o indivíduo. Porém, para os internautas, ter muitos amigos nas redes sociais é uma forma de ser admirado pelos outros, aumentando assim sua auto-estima.

Como bem registrou o compositor e cantor Milton Nascimento, "amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito". Não menos importante, mesmo que hiperbólica para a época de sua criação mas bastante compatível com o imensurável universo das relações virtuais, é a canção de Roberto Carlos onde se propõe o desejo de "eu quero ter um milhão de amigos".

Meu caro amigo, hoje é seu dia.  Esteja onde você estiver – na terra, no céu ou nas redes sociais – aquele abraço!

(*) Christina Maria Pedrazza Sêga é professora aposentada da Universidade de Brasília e doutora em Ciências da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa).

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