Como podemos reconhecer que alguém é inteligente?
No debate sobre ‘governança no setor público’, fortemente abalado pelas ‘quebras de paradigmas’ provocados pelos avanços da era do conhecimento – na qual a inteligência humana é primordial – , notadamente na transformação da informação e do conhecimento em força produtiva determinante (Matias-Pereira, 2010, 2018), fui instado a responder a esta instigante e complexa pergunta: Como podemos reconhecer que alguém é inteligente? O fato de viver no ambiente acadêmico, ao lado de ter atuado como gestor em instituições públicas federais e estaduais, nas últimas quatro décadas, nas quais convivi com pessoas inteligentes, me estimulou a respondê-la.
É importante lembrar que, desde o século 19 e grande parte do século 20, acreditou-se que a inteligência podia ser facilmente medida, determinada e comparada através de testes, em especial, o teste de QI, que foram criados nos primeiros anos do século 20 pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911).
Nas últimas décadas do século 20, as pesquisas nessa área evoluíram, demonstrando que existem várias outras aptidões que necessitam ser consideradas para avaliar a inteligência de uma pessoa. Nesse contexto, coube a Gardner (1994), nos seus estudos seminais de psicologia e neurologia, propor a teoria das inteligências múltiplas, que permitiu que outras formas de habilidades cognitivas também fossem levadas em consideração pelos estudiosos desse campo do conhecimento.
Na teoria das inteligências múltiplas, Gardner (1994) sustentou a existência de oito inteligências: inteligência linguística, inteligência lógico-matemática, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência cinestésica/corporal, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal e inteligência naturalista. Para aquele autor todo o ser humano possui pelo menos oito competências intelectuais que se combinam e organizam de maneira diferente de indivíduo para indivíduo. Na atualidade, alguns teóricos argumentam que é preciso levar em consideração, também, a inteligência existencial, talento intrínseco aos filósofos e líderes espirituais.
Feitas essas considerações, permito-me argumentar que, dentre as pessoas inteligentes com as quais tive o privilégio de conviver, notadamente as que alcançaram sucesso na vida acadêmica e profissional, em geral, tinham em comum as seguintes características comportamentais: determinadas, disciplinadas, persistentes e carismáticas.
É possível observar na convivência diária que, as pessoas com inteligências acima da média se revelam pelo excesso de ideias e criatividade; mentes abertas, conectadas com o seu entorno e boas questionadoras. São flexíveis, preocupadas e reflexivas (característica que tende a ser confundida com preguiça), ansiosas, buscam a perfeição.
Também são razoavelmente bem-humoradas, humildes, generosas; autocontrole elevado, empatia, confiam nas outras pessoas: e, em especial, são mais solitárias. Acredito que as pessoas inteligentes por estarem em harmonia com elas mesmas, sentem menos necessidade de interagir de forma mais intensa com os demais.
(*)José Matias-Pereira é economista e advogado. Possui doutorado em ciência política pela Universidade Complutense de Madri (UCM-Espanha), e pós-doutorado em administração pela Universidade de São Paulo (FEA/USP). É professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília.