Desabafo de uma diretora de escola...
Começamos o ano com muitas expectativas e prevendo um cenário totalmente diferente do que vivenciamos e ainda estamos vivendo.
Nós, diretores de escola, antes mesmo de terminarmos um ano letivo, já prevemos o próximo. Calendário, materiais didáticos, projetos, formação de professores, acolhida dos alunos, tudo milimetricamente calculado e controlado. Assim, seguimos com nossos planos de ação, checando item por item do que projetamos.
Em março de 2020, fomos todos surpreendidos com a pandemia. No começo, achávamos que seria algo rápido e passageiro. Pensávamos que, em 15 dias, nossas rotinas voltariam ao normal e tudo caminharia como sempre caminhou.
Rapidamente, nos organizamos para tentarmos levar a escola para a casa de todos, virtualmente. Foram muitos os desafios. O tempo foi passando, os colégios continuavam com as portas fechadas, nossas crianças privadas do contato social e suas famílias sobrecarregadas.
Nesse percurso, os problemas foram de várias naturezas. Professores trabalhando em casa, cuidando de suas famílias e reinventando sua didática. Crianças muitas vezes chorosas, ansiosas, depressivas e exaltadas pelo isolamento do ensino remoto. Pais em home office administrando o “homeschooling” dos filhos. Escolas se reorganizando pedagogicamente e lutando para sobreviver financeiramente.
Enquanto nossos professores e coordenadores trabalhavam para manter ativo o ano letivo, nós, diretores, nos empenhávamos em buscar estratégias para aprimorar o novo formato de ensino e viabilizar a abertura da escola para aquelas famílias que precisavam. Foram muitas reuniões e muita energia dedicada para esse momento.
Tivemos dias de muita tristeza e outros de absoluto otimismo. Mas, nunca nos faltaram a esperança e a certeza de que voltaríamos a receber nossas crianças fisicamente, com entusiasmo e a costumeira alegria.
Enfim, o dia chegou: 21 de setembro! O retorno presencial foi diferente. Reduzido em número de pessoas, sem abraços, apertos de mãos e aconchegos, mas com novas formas de nos relacionarmos. Mostrando o quanto nossa necessidade de convívio social é capaz de suportar o distanciamento físico.
Seguimos na terceira semana de aula. Sem nenhum caso positivo de coronavírus em nossas crianças e colaboradores. Continuaremos nessa luta, pois nada é mais gratificante do que ver nossas crianças correndo pelos espaços da escola e dizendo: “eu amo estar aqui”!
(*) Talita Martins é diretora da educação infantil da Escola Bilíngue Harmonia.