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Dia Mundial e Nacional do Diabetes

Por Aline Costa Santos Nunes (*) | 27/11/2023 13:30

Para comemorar o Dia Mundial e Nacional do Diabetes, que foi dia 14 de novembro,  gostaria de contar um pouco como está sendo minha vida como portadora de diabetes. Descobri que tinha diabetes em maio de 1991, exatamente quarenta dias após ter completado quinze anos de vida.

O mundo da minha mãe imediatamente desabou. Meu pai estava viajando a trabalho e ela se viu com três filhos: um tratando de tuberculose, uma com diabetes e o caçula de apenas sete anos, que também exigia atenção. Naquele ano, qualquer coisa que minha mãe falasse sobre o tema Diabetes a fazia chorar. Passamos a ir a todos os grupos de diabéticos que ela pôde encontrar no Rio de Janeiro, onde morávamos na época, e seguíamos qualquer dica que nos dessem para “curar” o diabetes, chás, sucos, frutas, comidas, etc Mesmo assim, nunca deixei de tomar insulina.

Cortei completamente o doce da minha vida por quatro anos. Naquela época lembro de ter disponível para diabéticos apenas uma marca de refrigerante diet e um chocolate diet com amêndoas que meus pais pediam para amigos trazerem da Argentina, quando iam para aquela região. E até hoje é o chocolate diet mais gostoso que já experimentei - o chocolate derretia na boca e as amêndoas eram inteiras e grandes. Como diriam minhas filhas: - muito satisfatório!

Quando meu pai retornou da viagem, me entregou uma pasta marrom com folhas de plásticos em que colocou, de forma impecável, a xerox de todos os artigos e notícias que encontrou sobre diabetes e que foi, por bastante tempo, um material de consulta e maior entendimento sobre o assunto. Sempre procurei fazer entre cinco e sete exames de sangue de ponta de dedo para medir as glicemias e poder atuar caso o resultado estivesse mais alto ou baixo que o desejado. Durante a gestação das minhas duas filhas, fazia de 10 a 12 exames diários. E pré-natais bastante acompanhados, desejados e apreensivos, pois cada exame, cada mês, era uma expectativa na formação perfeita de nossas filhas. O que permitiu que as gravidezes fossem até 35 semanas e nascessem duas meninas lindas com oito anos de diferença entre elas.

Quando descobri o diabetes em 1991, a insulina, descoberta em 1921, tinha apenas 70 anos e os únicos dois tipos disponíveis de insulina eram as insulinas bovina e suína, eu comecei usando a suína, mais similar à insulina humana. A medição da glicose era feita por teste na urina, em que o tempo de demora para comparar o resultado com um padrão de cor, podia significar resultados mais altos que os reais, o que acarretaria em tomar mais insulina e arriscar causar uma hipoglicemia, queda na quantidade de glicose sanguínea, com algumas consequências, como fraqueza, sonolência, fome e até perda de consciência.

Hoje já existe uma série de insulinas para as mais diferentes necessidades, desde ultralentas que podem ser absorvidas por mais de 24 horas, até insulinas ultrarrápidas que podem iniciar sua ação em pouco mais de dois minutos e as intermediárias entre estas duas, todas para tentar copiar a ação do pâncreas. Aparelhos para medir glicose que iniciou com a comparação da cor da urina a um padrão no frasco de fitas reagentes até os dias atuais em que se faz o acompanhamento por um sensor colado ao corpo e medido por aplicativo baixado no celular, que pode medir inúmeras vezes por dia, por quatorze dias. Sem contar as bombas de insulina que permitem alertar quando as glicemias sobem demais e é possível injetar mais insulina imediatamente ou cortar o fluxo de insulina quando as medidas descem demais.

Além de todos os alimentos que são encontrados hoje para pessoas com restrições no consumo de carboidratos. Sei que, mesmo após 32 anos com diabetes, meu controle não é perfeito, mas o diabetes é uma doença sem cura em que o portador de diabetes deve estar atento 24 horas por dia para tentar se manter saudável e bem para viver a vida de forma plena e feliz. Me lembra parte da música cantada por Elis Regina, O Bêbado e o Equilibrista, em que “A esperança dança / Na corda bamba de sombrinha / E em cada passo dessa linha / Pode se machucar”

(*) Aline Costa Santos Nunes é professora na Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade de Brasília.

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