Erros cometidos na jornada do empreendedor são um aprendizado para o futuro
Lendo as notícias sobre economia e empreendedorismo me deparei com uma que me chamou a atenção. Ela dizia que o Brasil abriu mais de 3 milhões de empresas em 2020, em meio a pandemia, segundo dados do Ministério da Economia. E mesmo que este número também represente as pessoas que mudaram de modalidade de contratação, para PJ ou MEI, ainda há muitos empreendedores nessa estatística. Assim como eu, muitos brasileiros têm o desejo de abrir seu próprio negócio, trabalhar em um setor que goste e ser seu próprio chefe.
A jornada do empreendedor rumo ao sucesso é gratificante quando você consegue resultados e crescimento, porém, mesmo nos momentos de vitória, essa jornada é constantemente desafiadora. Apesar de não prestar contas para seu chefe sobre as atividades, você precisa gerenciar, planejar, vender e ainda manter a empresa viva por um longo período. Analisando as pesquisas sobre o tempo de vida dos negócios no Brasil, percebo como essa sobrevivência é difícil. O IBGE divulgou, em 2020, um estudo mostrando uma taxa de sobrevivência de 47,5% das empresas no quinto ano de atividades. Ou seja, 50% das pessoas que abrem sua firma fecham em até cinco anos.
Por que isso acontece? Justamente porque a jornada do empreendedor brasileiro é cheia de obstáculos e acabamos cometendo erros no meio do caminho. Seja por inexperiência, por ser um empresário de primeira viagem, ou por achar uma coisa enquanto o mercado acredita em outra ou se move em direção diferente.
Por vezes, entramos de cabeça em um projeto, sem analisar as variáveis, e começamos a desenvolvê-lo sem entender se é necessariamente o que o mercado está procurando. Entendo que esse ponto é extremamente importante, pois um dos motivos para o seu negócio dar certo é ele resolver um problema que até o momento não tinha solução. Não é simples alcançar quem já está no mercado há tempos fazendo “melhor” exatamente o que já está sendo feito. É necessário um “quê” diferente sobre como sua solução resolve os problemas do mercado. Como exemplo, destaco os bancos digitais, que resolveram o gap dos clientes que se incomodavam em pagar taxas para as instituições financeiras e hoje estão conquistando milhões de clientes (como Banco Inter e a Nubank) e a minha história.
Depois de passar um período estudando nos Estados Unidos, voltei ao Brasil, trabalhei na construtora do meu pai por alguns anos e resolvi empreender. Arquiteto de formação, investi na proptech Arco, que comercializava projetos arquitetônicos pela internet. Após algum tempo atuando neste ramo, pude perceber que o mercado apresentava outra necessidade: a da digitalização e desburocratização dos processos de licitação e alvarás das prefeituras.
Sem essa parte da operação estar totalmente no universo digital, eu enfrentaria problemas no andamento do meu negócio. Foi aí que comecei a fazer uma análise de mercado para entender como funcionava o setor B2G (modelo de negócios entre governo e empresa) e defini o meu foco de atuação, que é outra coisa que comumente falta nos empreendedores de primeira viagem. Você precisa entender exatamente onde quer chegar com a sua empresa, quais resultados busca e, a partir disso, se imaginar daqui a cinco anos, por exemplo. Você vai trabalhar para que a sua empresa não esteja entre as estatísticas? É fácil se sentir perdido na floresta sem escolher (e focar em) um destino final.
O terceiro erro que destaco diz respeito à saúde financeira do seu negócio. Vivemos em um país que tem constantes alterações em indicadores financeiros, como juros, inflação e taxa de conversão da moeda (importantíssima para quem empreende em tecnologia, um mercado dolarizado). Como a empresa é um organismo vivo, que mostra sinais de que está morrendo ou vivendo bem, você precisa estar atento. A atenção é direcionada principalmente ao seu fluxo de caixa e capital de giro, pois eles irão manter a operação em funcionamento mês a mês. Controle as atividades praticadas pela sua companhia e o andamento dos gastos, mas não controle 100%. Treine sua equipe para cuidar dos negócios como você faria, porque assim você consegue focar em outros objetivos para desenvolver seu negócio. Querer controlar todas as atividades do negócio fará com que você cometa outro erro: o de não delegar as funções no momento certo. Quando sua empresa já está grande e com um time de colaboradores em quem você confia e que faz um bom trabalho, delegar atividades é essencial.
Aplicando aos conceitos citados acima, de desenvolver uma solução que atende a uma necessidade do mercado de forma diferenciada, ter um foco bem definido, cuidar da saúde financeira da sua empresa e delegar tarefas, você já tem a receita para conquistar seu espaço no mercado e se sentir realizado como empreendedor. Lembre-se de nunca desanimar: a jornada rumo ao sucesso é árdua e os erros cometidos são aprendizados para o futuro.
(*) Marco Zanatta é CEO & Fundador da Govtech AprovaDigital, conta com MBA em Construções Sustentáveis, Ciência e Tecnologia da Arquitetura e é formado em Arquitetura & Urbanismo pelo Centro Universitário Assis Gurgacz.